crónicas da cidade que sopra | por uma unha negra
Amanhã, por ser quinta-feira, o vento sopra de novo no Diário de Aveiro. Por uma unha negra.
Quase sempre sem entender porquê. Cruzamo-nos nas ruas e nas avenidas como esvoaçantes grãos de trigo em searas abandonadas. Às vezes tocamo-nos, às vezes não. São olhares que se alinham durante um pouco mais do que o meio segundo habitual, são sorrisos que se deixam para trás perpetuando-os, são ombros que segredam cheiros num banco de autocarro. Mais: são apneias simultâneas nas cadeiras duma sala de cinema, dedos que se acariciam durante o inócuo pagamento na caixa dum supermercado, gritos que se emudecem mutuamente num jogo de futebol. Às vezes, até à distância nos tocamos, em movimentos que crescem ao ritmo da música que passa numa estação de rádio qualquer. Tocamo-nos em pedaços de tempos e depois continuamos, ao sabor dum vento à deriva, quase sempre sem entender porquê.
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