11.23.2012

pensamentos catatónicos (285)

O capitalismo é a antítese do Amor.
As pessoas casam-se para pagarem a conta da luz, da água e do gás a meias. Dizem que a vida vai mais ou menos quando conseguem manter a prestação do carro e da casa.  Sorriem quando lhes é perguntado se têm as contas em dia, abanam os ombros descontentes quando lhes és perguntado se ainda estão apaixonados um pelo outro.  Do Amor pode-se abdicar, do pagamento das contas não.
O Amor até é dispensável, a contabilidade é que não. Somos geridos com falta de Amor e é com ele que pagamos a factura dessa asneira. O problema é que é mesmo assim porque escolhemos viver assim.
Os Amantes deixaram de perceber que a forma como decidimos distribuir a riqueza que um país produz é uma concepção. O Amor, pelo contrário, é um impulso natural. Apaixonamo-nos e pronto. Nem sequer sabemos porquê.
Pelo contrário, sabemos muito bem porque é que pagar as contas é difícil. Decidimos que nesta vida é cada um por si e outros que se fodam. A não ser, claro, que o outro esteja casado connosco.  Mas aí não é um Amante, é um sócio de capital. Podíamos ter uma lógica em que todos pagavam as contas de todos. Pelo menos aquelas que são essenciais: a da água, a do gás, a da electricidade, a da saúde, a da educação e a da mobilidade. Ficávamos todos com disponibilidade para nos apaixonarmos. Mas não.
Cada um por si significa que ninguém é por ninguém, e que um destes dias ninguém consegue pagar contas. Quando esse dia chegar, também ninguém conseguirá Amar.

22 comentários:

Haso´s disse...

Brutal. Nu e cru. Por isso é que gosto de cá vir.
Com a crise o numero de divorcios baixa, há que pagar as contas.
As facturas são, cada vez mais nesta sociedade, um voucher "negativo" que afecta a liberdade para viver e para "amar".

Unknown disse...

"Mas aí não é um Amante, é um sócio de capital."
Fantástico!!
Por mim é "As contas que se fodam!!" ;) Amor e uma cabana!

nos"entas!!!! ( e feliz) disse...

Há sociedades dificeis de quebrar...eu felizmente percebi que não era (apenas)um sócio que queria p a vida..... ;)
beijinho

Be disse...

Eu acho que é mais fácil abdicar do amor quando se tem dinheiro para pagar as contas. Se não houver as pessoas trabalham juntas para manter a contabilidade e enquanto o fazem estão juntas, em busca de um mesmo objectivo.
As pessoas abdicam do amor por egoísmo ou por cansaço ou apenas porque se fartam de mendigar afectos a quem os devia dar apenas porque sim.

Dalilah disse...

Credo que maneira tão cínica de ver as coisas...
Sou casada há 6 anos e não podia discordar mais deste texto...

Ivar C disse...

haso's, na verdade foi depois de ler isso que me deu para escrever isto. :)

pedro faria, eu sempre fui assim. :)

quase nos "entas", ainda bem. há quem o perceba e, todavia, não consiga mudar. :)

na mesma, esse objectivo é que não passa pro Amor nenhum. Passa por sobreviver. :)

dalilah, muito bem. mas isto não tem nada a ver com teu casamento... :)

nos"entas!!!! ( e feliz) disse...

Não é fácil Bagaço....nada mesmo....

Ivar C disse...

Quase nos "entas", e eu não sei?... :)

tiago leal disse...

O dinheiro e o amor nunca se deram muito bem, não... :(

Anónimo disse...

Bem entre ter uma vida estável e sem grande emoção e uma com o tal «Amor» e sem estabilidade económica prefiro a primeira. Sei que a « EMOÇÃO» da segunda passava rápido impulsionada pelas contas que não se conseguiam pagar. Amor e uma cabana, não obrigado....

Anónimo disse...

Não acredito que o amor não se eclipse numa casa onde não há dinheiro para pagar as contas correntes. Já diz a sabedoria popular « Casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão».














Ivar C disse...

tiago leal, nunca dão. :)

anónimos, nem ninguém disse o contrário. o que eu disse é que o nosso modelo económico devia ser outro, para que não tivesse que ser assim. :)

Eli disse...

Até os casados ganham mais no final do mês (descontam menos)."Só vantagens..."

Ivar C disse...

eli, no irs há muitas desvantagens em ser casado... :)

AC disse...

Adorei este texto teu. está brutal e faz um retrato fiel sobre a verdade do amor a longo prazo, com contas em comum e rotinas instaladas. Gostava de publicar parte dele no meu blogue se deixasses claro, e fazendo referência ao seu autor como é lógico também.

Passo cá para saber se autorizas ou não.

Beijinho enorme, e obrigada por partilhares estes teus pensamentos, assustadoramente reais.

Ivar C disse...

ac, obrigado. está à vontade. eu só agradeço. )

AC disse...

Obrigada pela simpatia:)

Ivar C disse...

ac, :)

Justiceiro disse...

Parece-me um pensamento algo feminista.
Passo a explicar; Os homens muito ricos têm mulheres muito belas que até podem ser pobres e por vezes mais que uma; as mulheres ricas têm homens ainda mais ricos mas que dificilmente são ou eram pobres quando se juntaram; os homens pobres não têm mulheres belas por vezes até nem têm nenhuma mas procuram mulheres belas e não ricas; já as mulheres pobres procuram homens ricos não necessáriamente belos.
Em todo o mundo, em qualquer sociedade os homens ricos têm as mulheres mais belas e por vezes mais do que uma e elas não se chateiam nada, faz parte da condição humana e da evolução da especie.

Ivar C disse...

justiceiro, nunca tinha visto tanto preconceito junto. :)

Lily disse...

Qualquer dia até para Amar é preciso pagar imposto...

Ivar C disse...

liy, na prática, em muitos casos, já é. :)