5.14.2012

pensamentos catatónicos (272)

O Amor corre sempre bem ou mal. Nunca corre mais ou menos. Quando corre mais ou menos é porque está a definhar, se é que ainda não está morto. Essa é a sua maior desvantagem, ao mesmo tempo que também é a maior vantagem. Estar mais ou menos é a única forma de nunca se sofrer, mas é também um atalho para que se morra sem ter dado pela vida.
Pensei nisto agora mesmo, depois de ter visto a Ana como é costume, de braços cruzados num dos cantos da sala. Parece que está à espera que a vida lhe traga alguma coisa. Mas eu até sei que não está. Quando a cumprimentei e lhe perguntei como anda, ela respondeu isso mesmo: que vai andando. Não estiquei mais a conversa. Deixei de o fazer há uns tempos, quando ela me disse que detesta conversas de circunstância e me deixou especado a olhar para uma parede branca, a pensar no mal lhe teria feito. Acho que lhe disse que estava bonita. Só isso. Ela não ligou e afastou-se.
Por essa altura a  Ana deixou-se derrotar por um Amor acabado, que é como quem diz, ela acabou com esse Amor. Parecia um náufrago em alto mar que não queria ser salvo. Ainda parece. A história é a do costume: o marido deixou-a e ela ficou mal. Depois, para não andar mal, decidiu que ia estar mais ou menos para sempre.
De vez em quando encontro-a por aí, como hoje, numa festa organizada por amigos comuns. Estou à espera de lhe poder dizer, numa oportunidade qualquer, que é uma sorte podermos sofrer por Amor. Sofrer por Amor é a única forma de saber o que é Amar. É a única forma de agarrar a vida e deixarmos de andar mais ou menos. Para isso só preciso que ela passe a gostar de conversas de circunstância, porque o Amor é uma circunstância da vida.

22 comentários:

Pipoca dos Saltos Altos disse...

É verdade, o mais ou menos faz com que fiquemos presos a um sitio qualquer.

S* disse...

O amor é bom, é muito bom. Sofrer por amor revela que se sabe o que é amar, mas não é a essência do amor.

marie disse...

Mais uma vez tão bonito!

Ivar C disse...

pipoca dos saltos altos, exactamente. :)

s*, não é a essência. é uma inevitabilidade. :)

marie, obrigado. :)

Sofi disse...

li uma vez que quem ama deve estar preparado para sofrer.
Só anos mais tarde é que percebi :))
bjs

nos"entas!!!! ( e feliz) disse...

às vezes tambem faz falta andar "mais ou menos"....dar um tempo para perceber o que aconteceu, para interiorizar o que realmente queremos... ;)

Ivar C disse...

vadia, acho que me aconteceu o mesmo. :)

quase nos entas, é uma visão... :)

Fatyly disse...

O mais ou menos nunca funcionou comigo não só no Amor em tudo na VIDA, ou sim ou não mesmo que parta as trombas:)e maisnada,

Gostei!

Eli disse...

Como gosto tanto de tudo o que tu escreves. Já dizia (eu) há muitos anos atrás, que "mais vale sofrer por amor do que não ter nenhum amor para sofrer". Depois, deixei-me de "tanto sofrimento", mas nunca deixei a capacidade de sentir. :)

Eli disse...

Ah! Não te esqueças de escrever o tal texto com o título "O amor acontece" para publicar no meu blogue, se bem que, se formos bem a ver, qualquer um dos teus textos poderia ter esse título! hehe :)

(rodrigues1981@gmail.com)

paula disse...

sabes adoro que me calem. adoro que calem assim da forma como acabaste de fazer inconscientemente.

Absolutamente sem palavras (:

Me disse...

"A história é a do costume: o marido deixou-a e ela ficou mal."
As histórias do costume... infelizmente. Tanto por um lado, como pelo outro.

Unknown disse...

Sofrer por amor é compreensível e aceitável, mas deixar a vida passar-nos ao lado por causa desse sofrimento, é que nem tanto...

Ivar C disse...

fatyly, nem comigo. :)

eli, a sério que vou tentar fazer isso hoje. :)

paula, obrigado. :)

me, yep. :)

lavienbleu, compreensível é sempre, para mim. o que não significa que seja o melhor... :)

Anónimo disse...

Como percebo este texto! Como me revejo nele!...

8 anos depois de um divórcio, de 2 relações que entretanto tive e não correram lá muito bem, o meu medo não é o de sofrer por amor. O meu medo, o que me tem feito de certo modo "cruzar os braços" é o medo de levar os meus filhos a sofrerem com uma má escolha minha.

Sim, porque as relações só sabemos se resultam se as vivenciarmos, e nisso, quer eu queira quer não, tenho forçosamente de envolver os meus filhos, e já acpnteceu eles apaixonarem-se por quem estava comigo (e se terem apaixonado por eles também) mas as coisas não terem funcionado bem, e eles sofrerem com a separação...

É complicado de gerir...
... Mas se calhar também ainda não me apareceu à frente (tal como a essa "sua" amiga) aquela pessoa com a força suficiente de nos fazer descruzar os braços :)

Carla

The other side. disse...

O amor é uma circuntancia,pena que as vezes parece mais uma droga...
Adorei a forma ocmo escreve,parabéns.

Ivar C disse...

carla, eu entendo bem isso. tenho uma filha e dois enteados. acho que por isso é que eles devem vir depois, muito depois, da relação. nunca é fácil... :)

the other side, obrigado. :)

Flour disse...

Há amores, dos quais nunca se recuperam... entendo bem esta Ana..

Ivar C disse...

flour, :)

Ana disse...

Poderia dizer que há meia dúzia de dias que descobri o seu blog, mas nesses meia dúzia de dias (que até foram bem mais) tudo o que li fez perfeito sentido. Este texto não é excepção e curiosamente é mesmo isso.

Lilith disse...

O teu blog é sempre a mesma coisa... um espectáculo!!
E parece que o que escreves retrata sempre a fase da minha vida em que estou. Tens algum curso de médium :P Ahah, estou a brincar.
Simplesmente adoro o que escreves, acrescido ao facto de seres um homem a escrever isto. Pronto, é isto :)

Ivar C disse...

lilith, obrigado. :)