7.17.2011

respostas a perguntas inexistentes (168)

Às vezes sofro um bocadinho pelo fim da minha relação actual, antecipando aquilo que espero que nunca me venha a acontecer. É uma maneira de Amar, esta, que me permite ser mais feliz nos dias em que, como hoje, estou condenado à solidão. Aliás, essa solidão de um dia ou dois, devido ao trabalho ou a uma viagem, é por isso das melhores coisas a que a vida nos pode condenar. É ela que nos faz perceber a falta que o Amor nos faz.

Hoje, por exemplo, sentei-me numa esplanada virada para o mar e apinhada de gente. Uma mãe limpava a areia dos pés dos filhos, numa mesa à minha frente com todas as cadeiras ocupadas, enquanto o pai tentava evitar que o vento levasse alguns papéis de gelados e guardanapos amarfanhados num prato. À minha direita, um casal de namorados abraçava-se enquanto a cerveja morria lentamente nos seus copos. Uma doce morte lenta, pensei eu evitando o olhar duma das quatro mulheres que conversavam à minha esquerda. A empregada chegou e perguntou-me se eu estava só. Que sim, respondi enquanto a pergunta ficou a ecoar no meu cérebro. Um fino, por favor.
Estar só no meio de muita gente é estar mais só do que nunca. Por isso é que ela reparou que ninguém me acompanhava. E enquanto todos pareciam falar com todos à minha volta, eu fiquei a conversar com as cadeiras vazias que me rodeavam. Foram elas que me contaram hoje como é o fim dum Amor qualquer. Dei um gole saboroso na cerveja, mandei uma mensagem de telemóvel à Raquel e encostei-me para trás aproveitando uma das lâminas do Sol.

16 comentários:

memyselfandi disse...

E compreendi neste momento que, até ter alguém a quem enviar uma mensagem de telemóvel e poder fazê-lo de coração aberto porque sabemos que quem a recebe a vai receber de coração aberto também, é um privilégio só de alguns.

Sinto "este texto" tantas vezes =)
"Loneliness, is a crowded room"
=)

Bj.

Suse disse...

Pois é, as saudades também são boas, mostram-nos o quanto sentimos falta da outra pessoa. ;)

Ivar C disse...

memyselfandi, é um privilégio, sim... :)

susi, isso mesmo. :)

Moleskine disse...

estar só no meio da multidão é um sentimento sufocante. Mas só sufoca quando se está triste, porque nos momentos melhores da vida, até se aprecia essa solidão e tornamo-nos observadores do que passa à nossa roda... julgo eu. e tb nos trazem algumas lições esses momentos:)

lm disse...

um dos piores sentimentos da vida e sentirmo-nos sozinhos no meio de uma multidao..

Fatyly disse...

Todos os casais deveriam passar "essa solidão de um dia ou dois, devido ao trabalho ou a uma viagem, é por isso das melhores coisas a que a vida nos pode condenar. É ela que nos faz perceber a falta que o Amor nos faz."

para valorizarem o que têm ou desvalorizarem partindo para outra.

"estar só no meio de muita gente é estar mais só do que nunca"...não, não é bem assim porque para mim a pior das solidões é a que sentimos quando acompanhados.

Conversaste com as cadeiras MAS mandaste uma mensagem a quem tanto amas

e meu amigo, fizeste um magnífico texto, mas não sofras por antecipação e desvia o pensamento!

Malena disse...

Ausências curtas nem chegam a ser intervalos! :))

Panda disse...

Epa, pronto. Eu que ia jurar que tinha visto o Bagaço Amarelo hoje em Viseu. Era mesmo parecido, caraças! Ainda bem que não fui dizer-lhe como gosto do blogue, ahaha :b

Ivar C disse...

moleskine, lições traz sempre, sim... :)

lm, pois é... e acontece muito... :)

fatyly, sim... quando acompanhados, se houver solidão, é a pior de todas. :)

malena, yep... ou então são mesmo isso: intervalinhos para um cigarro. :)

ana, já não vou a Viseu há bastante tempo... :)

Lily disse...

Pensei que o "antecipar angústias" era mais característico do sexo feminino. Por isso é que o Bagaço compreende tão bem as mulheres! E do ponto de vista que apresentou, tem uma conotação tão saudável...

Isa Ribeiro disse...

ahh conheço tão bem essa sensação, secalhar até demais mas enfim...

Ivar C disse...

lily, é uma coisa de ambos os géneros, acho eu. :)

ciara, achamos sempre que é demais. :)

Anónimo disse...

antecipar o fim de qualquer coisa na nossa cabeça...é tortura... mas está-se a contribuir para que ela venha acontecer, nem que seja na nossa cabeça!
de qualquer modo quando o fim chega, é porque a missão está cumprida, não há mais nada a retirar ou a viver... boa sorte!

Ivar C disse...

anónimo, depende da forma como se antecipa, mas percebo o que dizes. abraço. :)

Helena disse...

Nada melhor do que receber uma mensagem de alguem que dá um gole numa cerveja e aproveita para ver o por-do-sol. Isso é Amor! Fica assim, não respires. :)

Ivar C disse...

helena, :)