7.07.2011

respostas a perguntas inexistentes (166)

Parar

Gasto um tempo razoável dos meus dias em transportes públicos, mais concretamente a andar de comboio. É fácil, ou melhor, é quase automático subtrair mentalmente essas horas à vida como se fosse tempo perdido entre suspiros e olhares impacientes para o relógio. Afinal de contas é tempo em que não se está a fazer nada.
Esta semana fui com uns amigos à praia da Vagueira ver o Pôr-do-Sol. Ver o Pôr-do-Sol pode ser considerado uma coisa foleira. Pior, pode até ser o princípio duma música dos Delfins ou dos Pólo Norte, mas também é não fazer nada para além disso mesmo: ver o Sol a pôr-se.
Hoje tornei a sentar-me no comboio, logo pela manhã, e vi uma afiada lâmina de luz solar cortar a negritude da carruagem. O Sol é o mesmo, a interrupção da vida também. Se algumas vezes gostamos de parar e ficar a olhar para o Pôr-do-Sol, uma árvore, um oceano ou outra coisa qualquer, não há razão nenhuma para não aproveitar as paragens obrigatórias da vida. O tempo não pode ser um desperdício.
Parar é deixar de ser observado para passar a ser observador. Parar é deixar de ser por uns instantes mais uma roda dentada dum relógio de corda. É sair dessa mecânica ininterrupta e sentir-lhe o pulso. É assim que podemos pensar verdadeiramente. É também assim que nos apaixonamos.

24 comentários:

Bernardo disse...

Es bue sentimentalista nao?

Anónimo disse...

Parar, escutar e olhar. Tem tudo a ver com comboios :)
CR

Turtle disse...

É nos momentos que paro, que descubro o que me vai na alma...

Ivar C disse...

bernardo, bué mesmo. :)

cr, :)

turtle, :)

Bolacha Sofia disse...

Sabes que mais? Tu aí dizes que essas viagens são tempo perdido, eu não concordo nada. Ainda hoje andei de autocarro, e comboio, e a pé. Todo com único objectivo de encontrar alguém, e nesses tempos supostamente "parados2 eu aproveitava para me perguntar a mim mesma se era aquilo mesmo que eu queria (e mais tarde para chamar uns quantos nomes a mim própria ahah). Portanto não concordo, esses tempos parados servem pra muita coisa, nem que seja para pensar mal da vida alheia. Fora isto, adoro a maneira como escreves :D

Anónimo disse...

O que falta nos Homens é esse sentimentalismo que lhes dá todo o encanto possível. Muitos preferem escondê-lo, alguns ocultam-no e, poucos, muito poucos, optam por ser sinceros e, dizer a verdade. Afinal somos como as crianças: só vamos até onde queremos. Em contrapartida, elas dizem sempre a verdade. Vale a pena, certo? ;)


Marta Santos

Ivar C disse...

manteiga, mas é mesmo aí que eu quero chegar. :)

marta santos, vale bem a pena. :)

Alexandra disse...

Eu vi logo que tinhas de estar embriagado pelo sabor da paixão... Ehehehe ou isso ou do ópio como F. Pessoa!

Sinnerman disse...

Por falar em Delfins ontem vi o Miguel Angelo. Tá magro, o cabrão...

Sinnerman disse...

E olha que eu já não ando de transportes públicos há uns bons anos. Mas na altura, salvo raras excepções, não achava que fosse tempo perdido.

Há sempre pontos de interesse. Daqueles que nem tu nem eu e acho que homem algum compreende... ;)

Ivar C disse...

alexandra, tenho que experimentar o segundo, ainda... :)

tld, lol... :)

Anónimo disse...

Fizeste-me pensar.

Ivar C disse...

daisy, :)

Fatyly disse...

Subscrevo inteiramente esta maravilha que acabei de ler!

Olga disse...

Parar para pensar e carregar baterias é o melhor remédio para a maior parte dos problemas. E parar a ver o por do sol na praia é das minhas paragens preferidas mesmo que digam que é foleiro. :)

Ivar C disse...

fatyly, obrigado. :)

olga, é como eu. :)

(="o"=) disse...

As saudades que eu tenho de andar de comboio! Usualmente era pela linha Sintra, não propriamente bem frequentada mas sempre com algo novo para observar. Agora de autocarro a vida não desliza pelos carris...

Ivar C disse...

(="o"=), nunca tive nenhum azar na linha de sintra, embora só lá ande casualmente, e sempre gostei da linha. :)

Estudante disse...

Pois, eu acho sempre que andar de transportes públicos é tempo perdido... mas eu sou uma stressada deve ser por isso. Porque também há alturas em que a viagem de casa à faculdade é o único momento do dia em que não faço nada...

homem vulgar disse...

Não gosta dos "Polo Norte" nem dos "Delfins"? Não me digas que preferes a Celine Dion?...Ou a Floribela...

Ivar C disse...

estudante, lá está.... o stress é que é mau. :)

homem vulgar, não gosto dos Delfins nem dos Pólo Norte, mas não percebo a alternativa Celine Dion. :)

Helena disse...

Ver o nascer e o pôr do sol...é das melhores coisas da vida, com a certeza que outro dia virá! :)

Pão com azeite disse...

Pois, num Avanca-Porto, ao ver floresta, campos de milho, praia e rio Douro, até gosto de estar parado no tempo. Mas para generalizar o conceito, convinha experimentares um Cergy-Pontoise / Noisy-le-Grand, linha A do comboio suburbano de Paris, às 08h30 da manhã. :)

Abraço

Ivar C disse...

helena, :)

pão com azeite, como não me apetece experimentar, dou-te razão. :)