pensamentos catatónicos (249)
cobras
Um homem não tem que aprender a apaixonar-se. Muito pelo contrário, é urgente aprender a desapaixonar-se cedo, logo na adolescência se possível, e quando o Amor é ainda um pássaro que se estatela no chão por bater as asas dessincronizadamente. É que apaixonar-se acontece a cada esquina, a cada olhar, a cada cheiro ou beijo que se dá. Um tipo sai de casa sem casaco, atravessa a rua e vai tomar café ao tasco da frente só para descontrair. Quando regressa já se apaixonou três ou quatro vezes. É tramado.
Desapaixonar-se é essencial para que a paixão não adoeça um homem. O método, difícil de atingir, passa por consegui-lo nos cinco minutos seguintes. Se passar disso a paixão começa a ser Amor e a espalhar-se no corpo como um vírus. As pernas e os braços tremem, surgem suores frios e por fim o coração entra numa taquicardia incontrolável. É uma merda, mas também é verdade.
A paixão é como o veneno duma cobra: o antídoto ideal passa por ela mesma mas em doses menores. É por isso que nos cinco minutos seguintes a uma paixão, o melhor é procurar imediatamente outra. E depois outra e outra até conseguir matá-la por asfixia. Às vezes consegue-se, principalmente quando se anda em locais movimentados. Depois duma paixão vem sempre outra que a enfraquece. Ainda bem.
Passei anos a tentar aprender a desapaixonar-me e nunca o consegui. Uma vez pensei que sim e comecei a sair à rua como se fosse o melhor condutor do mundo. Descuidei-me. Cedo percebi que não o era. Bastou-me ir jantar sozinho a um restaurante e apaixonei-me pela empregada de mesa, do balcão, pela mulher que comia peixinhos de horta à minha direita e pela que comia bifinhos com cogumelos à minha esquerda. Tudo ao mesmo tempo, nem sequer pude usar nenhuma como antídoto. Cobras! Nessa noite fechei-me em casa e afastei-me das janelas.
Acho que fiquei uns quatro dias assim, como se estivesse de quarentena. Foi quando percebi a coisa A melhor forma de um homem se desapaixonar é apaixonar-se de vez. Usar o Amor como vacina. Agora saio à rua, apaixono-me pela mulher que atravessa a passadeira ao meu lado mas não tenho medo. Nos cinco minutos seguintes, mesmo que não encontre antídoto sei que já estou vacinado. O Amor é como as cobras.
13 comentários:
"O Amor é como as cobras"
Deve ser então por isso que muita gente anda a rastejar atrás de quem ama :P
CR
"Bastou-me ir jantar sozinho a um restaurante e apaixonei-me pela empregada de mesa, do balcão, pela mulher que comia peixinhos de horta à minha direita e pela que comia bifinhos com cogumelos à minha esquerda. Tudo ao mesmo tempo, nem sequer pude usar nenhuma como antídoto."
Tal e qual, mas quase todos os dias LOOOOL
Afinal não sou o unico, obrigado bagaço
Desapaixonar é uma coisa difícil...uma vez que o cupido lançe a seta e acerte no alvo, não é com cinco minutos que se consegue esquecer. :)
És uma apaixonado pela vida...
Gostei imenso!
cr, boa.:)
cota, na boa. um abraço. :)
helena, é levar com outra seta nesses cinco minutos. :)
fatyly, obrigado. pelo menos tento. :)
"Amor é ainda um pássaro que se estatela no chão por bater as asas dessincronizadamente" PERFEITO!!!
é assim, mesmo, trapalhão, inconstante, inconsistente!
:o)))***
pearl, é isso mesmo. :)
Resumindo.. Ando eu há 21anos a tentar descobrir como me desapaixonar do dia para noite, quando a solução é precisamente o contrário..
Acho que tinha chegado a essa conclusão há umas semanas atrás, apercebi-me que me é muito mais fácil tentar transformar a paixão num qualquer outro sentimento bonito, do que apagar a sua existência.. Penso até que cheguei a escrever sobre isso..
Mas ainda não tenho uma conclusão acerca disso
No entanto, penso que tem vindo a ter algum tipo de resultado*
lili, o resultado acaba por ser mais importante que a conclusão. :)
Gostava de poder chegar a conclusão antes de saber o resultado.. geralmente com o meu clube de eleição chego a conclusão que vamos ganhar, e no fim o resultado é positivo!
lili, isso é por seres do Porto. :)
O meu clube amoroso não é tão vitorioso ;)
O meu clube amoroso não é tão vitorioso ;)
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