5.26.2011

vai trabalhar, malandro

Em Portugal manda-se toda a gente ir trabalhar. É "vai trabalhar"para aqui, "vai trabalhar" para ali por tudo e por nada. Aliás, desculpem-me, normalmente é por nada ou por quase nada, porque o trabalho em Portugal está em promoção: "pague uma hora de trabalho e leve quarenta". Pelo contrário nunca se ouve ninguém mandar alguém Amar ou apaixonar-se, o que é revelador do quão mal-fodidos são os que passam a vida a mandar os outros ir trabalhar.
Se um homem descansa à sombra duma árvore é porque é malandro e alguém o manda logo ir trabalhar, se um homem passa os dias sozinho ninguém percebe que é um solitário que precisa é de ir Amar para qualquer lado. A crise económica que atravessamos devia ter servido, pelo menos, para que os portugueses percebessem que trabalhar é o pior remédio. Afinal de contas, são os que mais trabalharam estes anos todos que mais sofrem com ela. Talvez em vez de "vai trabalhar, malandro" devêssemos começar a gritar "vai Amar, solitário". O Amor sim, é o melhor remédio.
O problema da Economia nacional nunca esteve no trabalho nem no que dizem ser a baixa produção nacional. Esteve na estapafúrdia distribuição da riqueza e numa espécie de mal-fodidos que têm um ciúme danado dos que são capazes de Amar mais e trabalhar menos. Bons exemplos da má distribuição da riqueza em Portugal são os administradores não executivos, ou seja, que não gerem nada mas vão a uma reunião de vez em quando mandar uns bitates para receber em média mais de sete mil euros por cada uma. A espécie mal-fodida é aquela que, como eu, tem que trabalhar quarenta ou mais horas semanais mas depois acha que a culpa da crise não é desses administradores (por exemplo Daniel Proença de Carvalho, António Nogueira Leite, José Pedro Aguiar-Branco, António Lobo Xavier e João Vieira Castro) mas sim de quem está desempregado ou no RSI.
Se pagassem decentemente a quem trabalha a sério, iam ver que não há ninguém neste país que não queira trabalhar. Esse pagamento mais justo permitiria que houvesse menos desemprego e que cada um de nós tivesse mais tempo fora do escritório, do balcão ou da fábrica. Aí sim, com mais tempo para percebermos que a vida existe para além do trabalho, talvez se passasse a ouvir "vai Amar, solitário" em vez de "vai trabalhar, malandro", e Portugal seria um país com menos mal-fodidos.

14 comentários:

Carla - Hello You disse...

Onde é que eu assino?

Stiletto disse...

Por acaso isso não é bem verdade. Há por aí muito boa gente que não quer trabalhar. Prefere ficar à espera que acabe o sub. desemprego, ou fingir que vai trabalhando. Independentemente do que recebem são preguiçosos. Nada a fazer, é mesmo assim.

Anónimo disse...

Nem mais! concordo e muito com o teu texto .

Ivar C disse...

carla, já assinaste. :)

stiletto, olha, passe a expressão, é isso que eu acho que é conversa de pessoas mal fodidas. criticar alguém que prefere ficar com o subsídio de desemprego em vez de ir trabalhar por um salário de merda 40 horas por semana. eu também preferiria, porque tenho consciência de que sou mais que um simples escravo e que o meu trabalho vale mais do um recibo verde de quinhentos euros. :)

maria, obrigado. :)

Anónimo disse...

correcto q não pdemos pagar ordenados milionários, qd o ordenado mínimo é de 485,00 , qd o abono de familia é ridículo, qd há reformados q trabalharam 40 anos e têm 250,00€ de reforma. o problema é q tds pactuamos com isto, qd dizemo q conseguimos um favor de alguém para obter uma coisa à frente de outros, ou pq somos amigos de A ou B.... falta-nos a visão de sermos rectos, correctos, e integros.
se educarmos as novas gerações com estes valores, portugal melhorará. pois um povo integro, correcto e recto, só avança e prospera.

mas a ausência deste valores, tanto se verifica nos politicos, como no cidadão.

Ivar C disse...

anónimo, há uma injustiça na Economia, antes de mais, e essa é uma questão política que tem que ser mudada. Se todos tivermos uma parte mais justa da riqueza, é mais fácil acabar com esse tipo de saloiada. :)

Anónimo disse...

mas a distribuição equitativa da riqueza é uma utopia. a história ensina-nos que é impossível. será sim , possível, e desejável, que a pobreza nos toque e nos impressione e tomemos partido. será sim possível q não passemos ao lado. de qq modo, além da pobreza, o maior poblema dos portugueses é às vezes catanha visão de nós pp, q nos impede de avançar. há paises mais pobres q nós , mas com riqueza de espiritoe q se calhar são mais felizes ( ex india )
temos tiques de novos ricos, sem o sermos.

Anónimo disse...

e acho, sim, q a mentalidade de não ir trabalhar pq recebo mais no sub de desemprego é pobre, muito pobre !
quem pensa assim, não cresce profissionalmente, não se aperfeiçoa profissionalmente, não evoluiu...
pq o trabalho não se resume ( para mim ) a receber dinheiro, resume-se a seres útil, a seres interessante, a desenvolveres as tuas capacidades, a ultrapassares-te sempre, mm qd te apetece não trabalhar!
só uma pessoa doente, pode dizer q prefere ficar em casa pq recebe mais do q ir trabalhar. não pode ser assim.

Ruiva disse...

Meu caro eu só acrescentava mais uns nomes a esses que ganham obscenamente! Um país de obscenidades é o que é e infelizmente não tem nada a ver com sexo!...

Ivar C disse...

anónimo, mesquinhez é achar que o contributo para a sociedade se faz apenas através da escravidão. o trabalho contribui, sim, para o desenvolvimento social, se for feito com justiça e dignidade. e ninguém disse que a distribuição da riqueza tem que ser exactamente igual, infelizmente, por causa de pessoas mesquinhas, talvez seja uma utopia, de facto. o que se pede é um equilíbrio maior e precisamente com mais dignidade. :)

ruiva, concordo. :)

Stiletto disse...

Não é disso que estou a falar. Conheço muito boa gente que trabalha entre subsídios de desemprego. São preguiçosos e parasitas da sociedade. Eu também já estive desempregada e dei "corda aos sapatos". Não fiquei à espera que acabasse o subsídio para ir procurar trabalho. É uma questão de postura na vida. Há gente assim e tu bem o sabes. Agora estás a ser demagogo..

Ivar C disse...

stiletto, demagogia é não perceber que a opção é entre ser escravizado ou receber subsídio de desemprego. não entre trabalhar e receber o subsídio...

Fatyly disse...

Olha meu amigo,pelo que já passei poderia dizer-te muita coisa e sinceramente só deixo aqui uma questão: olhando o percurso e perfil dos administradores que referes, conheço alguns mais do que outros...quem os nomeou para os "vários cargos" de empresas quase todas público-privadas, se não mesmo públicas? São quase todos advogados, excepto Nogueira Leite que é economista e João Vieira Castro não faço a mínima o que seja!

Pois...as cores políticas tem muito que se lhe diga, não é? e de quem é a culpa? do povo que os elegeu!

Não te digo mais nada, porque iria ficar tremendamente irritada já que não concordo com muita coisa que dizes aqui e o referido por Stiletto é bem verdade...e dizes "escravizado"...quem? deixa-me rir!!!!

Ivar C disse...

fatyly, escravizado é quem trabalha por nada... ou quase nada. :)