3.15.2010

coisas que fascinam (98)

Ainda há uns dias falava com uma amiga minha sobre a capacidade que os brasileiros têm de ser felizes. Os indicadores sociais e económicos daquele país estão sempre abaixo da média mas a emanação de felicidade parece estar sempre acima.
É uma felicidade que eu comparo quase imediatamente àquela que vejo quando há passagens de ano, um golo num jogo de futebol ou uma festa de bairro qualquer. As pessoas ficam felizes por nada de especial e fazem questão de o demonstrar cenicamente. Chega a ser estranho, se pensarmos bem. Na verdade a nossa vida pode continuar cheia de problemas, mas como nessa noite não mudamos apenas de domingo para segunda-feira mas sim de um ano para o outro já parecemos felizes.
Acho justo que as pessoas manifestem este tipo de alegria. Tão justo que eu também o faço, tão justo que acredito que ele até só existe para colmatar a falta doutro tipo de felicidade, e esse outro tipo de felicidade é aquele em que não nos manifestamos exteriormente. Estou a falar duma felicidade que entra em nós, se deita e adormece, mas que na verdade sabemos que está lá e até lhe aconchegamos os lençóis sempre que podemos.
E aqui estamos nós com duas formas totalmente diferentes de ser ou estar feliz. Tão diferentes que acho que às vezes temos que ter cuidado na forma como tentamos atingir cada uma delas. É que às vezes, se procurarmos numa relação a primeira das felicidades, podemos não encontrar. Essa é efémera, e devemos sempre procurá-la de vez em quando nos sítios certos: o fim de ano, o jogo de futebol ou outra festa qualquer. Entretanto... é bom ir aconchegando os lençóis à outra.

23 comentários:

Mulher a 1000/h disse...

CLAP, CLAP, CLAP! LINDO! =)

Ana Catarino disse...

Pois é... Com esses pequenos momentos tentamos mostrar felicidade, e creio que até somos felizes mesmo, para compensar todo o outro tempo que passamos deprimidos e chateados com a vida... :)

**

Anónimo disse...

Querido bagaco
Parece me um tema intressante.
Cheguei agora e só tive tempo de dar uma olhadela, tenho que ler o teu post com mais atencão.
ate logo
beijo x
P.S.

Malena disse...

Totalmente de acordo! Sem o aconchego mútuo a felicidade pode mesmo ir embora e fechar a porta!

Ivar C disse...

marie, eu também creio que nesses momentos sentimos mesmo felicidade. é o que conta. :)

mulher a 1000/h, :)

anónima, hoje também ando stressado. :)

gigi, não acho triste ter uma maior capacidade de, enquanto povo, se ter uma maior capacidade de contornar a tristeza. :)

malena, exacto... depois compensa-se pontualmente. :)

GiGi disse...

Mas é exatamente isso, querido Bagaço. O problema é quando as tristezas e aquilo que as gera não são apenas contornados, mas esquecidos ou deixados de lado. Com isso, geram-se atitudes que giram em torno do famoso "fazer piada (ou rir) da própria desgraça", muito característico do povo brasileiro e também bastante criticado. Assim, as adversidades tomam dimensões tão vastas que cada vez mais torna-se difícil solucioná-las.

Desse modo, existem os dois lados da moeda. Particularmente, eu não conseguiria (como não consigo) ser totalmente feliz perante tantas injustiças e descaso que assolam este país, tanto por parte dos governantes como do próprio povo.

Eis o país dos contrastes e das contradições. Descarados contrastes os quais eu nunca vou aceitar.

Um beijo!

Fatyly disse...

Visitar o Brasil é bem diferente do que viver lá e eu vivi antes de ficar em Portugal e confirmo o que dizes: o povo brasileiro e já agora o povo angolano riem-se da própria merda (desculpa), são afáveis, maribam-se para o que possam dizer dele (daí criarem tantas anedotas sobre eles mesmo), curtem a vida e na maior foça ligam o rádio ou televisão, pé no chão e samba ou merengue chutam a bola p'ra frente.

Foi o que mais me custou a habiturar: o cinzentismo do povo da metrópole, hoje um pouco melhor, mas ainda muito agarrado ao seu umbigo, tudo parece mal, acomodado e imensamente cusco e lamechas e sã felizes assim? que sejam é o que eu desejo mas tenho sérias dúvidas.

Pobre de quem deixa a felicidade adormecida e com lençóis? tás louco ou quê?...nada como deitar cá para fora e gritar aos quatro ventos: hoje estou feliz e bota um grande sorriso nisso...ai ué mamãaaa :):)

Red disse...

se não houver a dos lençóis a outra nem sabe a nada!

Tenisa disse...

O primeiro parágrafo me impressionou muito, fiquei pensando que felicidade é essa q. o brasileiro demonstra (q. sinceramente não percebo) Talvez seja o fato de sobreviver, dia após dia, a exploração secular pela qual passamos...

Catarina disse...

gosto muito do teu blog. Já o acompanho há algum tempo, e tive de colocar o link deste post no meu, espero que não te importes. Gostei muito.

Catarina disse...

gosto muito do teu blog. Já o acompanho há algum tempo, e tive de colocar o link deste post no meu, espero que não te importes. Gostei muito.

Leticia disse...

concordo com vc que nós brasileiros temos essa tal "felicidade" , pode ser pq ja estamos "acostumados" com tudo que acontece, isso tbm e uma desculpa. Pense pelo lado de ver felicidade e alegria em pequenos detalhes, o que vai adiantar vc ralhar hj com tudo a sua volta, se amanha o sol volta a brilhar e tudo vai continuar a seguir o rumo, melhor entao e aproveitar o sol que hj te aquece e sorrir, comemorar por mais um dia.

Paula Raposo disse...

Exactamente!!

Anónimo disse...

Querido bagaco
A primeira dessas felicidades de que falas é em grande parte uma manipulacão vinda de lugares de poder, tem o efeito placebo.
Eu como tu também não acho triste que o povo tenha uma maior capacidade de contornar a tristeza, triste é o povo ser manipulado a agir como se estivesse feliz e pior a acreditar que sim !

A outra, bem a outra é a de cada um...é aquela que nos faz sorrir a alma :)

Beijo X
P.S.

Ivar C disse...

gigi, acho que fazes muito bem em não aceitar. aqui também cada vez é mais assim. entretanto... tenta ser feliz. :)

fatyly, a felicidade é uma coisa mesmo muito complexa e, de facto, eu acredito que não está directamente ligada à riqueza... :)

red, é verdade... sabe a pouco. :)

tenisa, certamente que também é isso, sim. :)

catarina, até agradeço. :)

leticia, na verdade nunca disse isto como uma crítica mas sim até com uma certa admiração, embora me faça alguma confusão. :)

paula raposo, :)

anónima, isso é verdade mas também tem a ver com outras variáveis, dos quais acredito que o clima é a mais importante no caso do Brasil. Sim... a outra é de cada um. :)

Anónimo disse...

é cultural...

Ivar C disse...

anónimo, cultural é... mas isso é uma consequência. :)

Leticia disse...

Não achei que fosse uma critica, entendo a confusão, afinal um país cheio de problemas, como miseria, pobreza e politicos corruptos. Aqui o povo se contenta por pouco, miseros salarios, bolsa auxlio do governo (que sou contra em mtos casos, mas isso la e outro assunto)esperas interminaveis para realizar um exame (de 2 a 5 anos) ou mesmo para consultas. E mesmo assim sorri, reclama , ri da desgraça alheia.
E quando chega o verão nesse país tropical, onde se ve as praias abarrotadas de turistas "gringos", o povo é todo sorriso, mostra os dentes, a troca de uns trocados. depois passa la uma noticia no jornal nacional que o gringo foi roubado e o povo inves de baixar a cabeça, sentir vergonha dessa violencia, ainda sai falando que o 'gringo" e que estava errado, no lugar errado, que e gringo , não ha problema..
Tenho orgulho do meu país, e mta vergonha, luto por um país melhor, onde não ha espaço para corrupção, onde ha moradias mais dignas, trabalho honesto, um grão de areia entre milhoes que acham que bom e ter malandragem em tudo.

Ivar C disse...

leticia, lutas mais ou menos pelo mesmo que eu em Portugal e no mundo... e percebo perfeitamente o que dizes.
Só queria que ficasse claro que não estava a falar com desdém do Brasil, antes pelo contrário, é um país que eu admiro e tenho vontade de conhecer. :)

Celeste disse...

Eu não fico feliz porque o ano muda! Ando mais a par da outra que aprendi a construir com a ajuda de poucas pessoas mas concordo quando dizes que é preciso aconchegar todos os dias.

Ivar C disse...

celeste, eu tento ficar feliz com tudo... às vezes não consigo. :)

Celeste disse...

Eu também tento mas sabes o meu grau de exigencia em nada se compara ao dos humanos ditos normais. O meu é muito mais pequeno e mais exigente em coisas que os outros não ligam. se calhar é por isso que o meu sorriso baila.

Ivar C disse...

celeste, isso é bom, parece-me. :)