3.05.2007

divorciados

Quando vejo casais de namorados, independentemente da faixa etária a que pertencem, leio automaticamente alguns sinais que me dizem se a relação entre ambos ainda vai durar muito ou nem por isso. Não é um processo consciente, e é uma forma empírica de conhecimento. Só hoje me dei conta disso.
Almocei num restaurante barato perto da estação de Aveiro, enquanto fazia tempo para o comboio. Ao meu lado almoçou um casal mais ou menos da minha idade. Comeram os dois em silêncio quase total. No fim pediram apenas uma sobremesa e duas colheres, mas ela provou a fatia de bolo e recusou-se a comer mais. No fim ele leu o Diário de Aveiro e ela fumou um cigarro pensativo. As únicas palavras que trocaram foi para falarem de qualquer coisa relacionada com o crédito habitação da casa onde vivem.
Quase no fim do almoço entrou um menino de cerca de seis ou sete anos a pedir esmola, a quem acabei por oferecer um bolo. Mesmo antes dele vir à minha mesa, ela expirou o fumo do cigarro para cima dele, e o tipo não desviou o olhar do jornal nem um milímetro.
No princípio fiquei zangado com aquele casal desconhecido, capaz de ignorar sobranceiramente uma criança daquela idade. Depois acabei por ter pena deles. Pareceu-me que estão divorciados um do outro e, por isso, também estão divorciados da vida. Perderam a capacidade de utilizar o tempo duma forma feliz, e limitam-se a transformar oxigénio em dióxido de carbono. Provavelmente todos os dias.
Paguei e saí.

6 comentários:

DIV de divertida disse...

Apesar de divorciada, tenho a noção que há imensos casais meus amigos que o devem estar mais do que eu.
Pergunto-me constantemente o que os fará permanecerem naquela situação...
Acabo por me sentir feliz por estar divorciada. Estranho, nao?!... Não sei se conseguiria viver como eles. Pelo menos, nalgumas coisas, sou livre por não ter de dividir ou partilhar ideias, espaços ou projectos com quem não me apetece.

ikivuku disse...

Está visto que não vamos cumprir o protocolo de Quioto...

antídoto disse...

Sem tirar nem pôr...

Ivar C disse...

div, é a mesma sensação que eu tenho às vezes... bjos. :)

ikivuku, o protocolo de Quioto já não interessa. Agora é só seguir à risca os conselhos daquele que costumas ser o próximo presidente dos EUA...

antídoto, abraço.

Kashemira disse...

É muito mais fácil discutir o crédito ao banco que a relação. É por isso que ainda estão casados. Têm contas bancárias e uma casa em conjunto. Não devem ter mais nada.

Ivar C disse...

pois karla, é mais ou menos isso, de facto. já falaste com o teu banco? não, falei com o teu...