3.15.2007

somos candeeiros

Palavras a mais. São só palavras mas, ainda assim, a mais. Não são daquelas palavras que passam por nós quando tomamos café ou atravessamos a estrada, tipo olá ou bonita. São palavras-parasita, organismos vivos que passam a viver à nossa custa, e que impedem as outras de se fazerem ouvir. Ainda por cima são palavras que se alinham em frases aguçadas e curtas, tipo não vale a pena ou se insistes vais-te foder.
E toma-se um café e atravessa-se a estrada. E toma-se outro café e atravessa-se outra estrada. E mais outro e mais outra. São palavras a mais, que vão aparecendo um pouco por toda a parte. Nas chávenas, nos anúncios publicitários, nas notícias do jornal, até na merda da mesa do homem que plastifica documentos em frente a um centro comercial.
São palavras a mais. À noite caminha-se sozinho, numa artéria que rasga edifícios abandonados: Pára-se. Alguns candeeiros de rua, solitários e enfraquecidos pelo deserto que é o subúrbio da cidade, intermitem uma luz amarela sitiada por insectos. Às vezes somos candeeiros. Às vezes as palavras são insectos.

2 comentários:

Vítor disse...

ouço agora a voz do povo!
Obrigado pela surpresa!
Abraço!

Ivar C disse...

abraço! sempre às ordens.