3.22.2007

ainda não

Ainda não. O meu sofá da sala acha estranho eu estar deitado no chão, e o silêncio que flutua dentro do compartimento é dele. Acho que ele sabe tudo sobre mim. Já me viu a chorar e a rir, sozinho e abraçado, bêbado e sóbrio. No entanto nunca me tinha visto deitado no chão.
Ainda não. A garrafa de uísque já acabou e também se deitou sobre a alcatifa. Não faz mal, também acabou a minha capacidade de beber. Acho que está uma mosca desesperada dentro da lâmpada desligada. Eu percebo-a. Se ligar a luz ela morre com o calor. Por isso não o faço.
Ainda não. A mosca bate várias vezes no vidro. Que tenha calma, digo-lhe. É o que eu tenho feito nos últimos meses da minha vida: bater em vidros. Que tenha calma, que se deite no fundo da lâmpada. Que se deixe estar.
Ainda não. O meu telemóvel está perdido num canto qualquer da sala, penso eu. Eu estou perdido num canto qualquer da vida, pensa o sofá. Se ela me telefonar talvez eu encontre o telefone. Talvez a vida me encontre. Mas para já ainda não.

6 comentários:

Anónimo disse...

Não acendas a luz, não batas mais contra os vidros, pega no telemóvel, mesmo que ela não ligue. E talvez a vida te encontre :). Força rapaz.

Ivar C disse...

Hum... hum... estou sem saldo... ;)

Fausta Paixão disse...

a vida nunca nos encontra...
... mas não vejo mal nenhum em andar-se perdido!!! É quando se escrevem os melhores textos.
uma amiga minha pergunta-me assim: "e isso serve-me para quê"?
... mas ela não tem um blog!

Ivar C disse...

fauta, se não tem um blog não percebe nada do que é andar perdido, lol! e tens razão, a vida nunca nos encontra, limita-se a passar por nós uma vez por outra...

deKruella disse...

Fiquei sem palavras...foi o melhor texto que li até hoje. Pode por favor responder-me (no meu email) à pergunta que lhe fiz há um tempo atrás?...ando curiosa para o ler...

Ivar C disse...

kruella, obrigado.