12.23.2010

mensagem de todos os dias e não de Natal

espera

Ele disse-me que estava à espera da mulher que ama. Eu também estava, pensei de imediato levando a chávena de café aos lábios para desviar discretamente o meu olhar do dele. Depois pensei que havia uma grande diferença na forma como as esperávamos. Ele estava à espera que ela voltasse de um longo período de ausência, eu estava à espera que ela voltasse da casa duma amiga. Depois vi-o levar a chávena de café aos lábios sem beber uma gota, talvez também para desviar o seu olhar do meu. E já agora o pensamento.
Não há muito a dizer a alguém que consideramos, de facto, amigo e que vemos à espera de um navio que não se vislumbra sequer na imensidão do oceano, apesar de querermos dizer qualquer coisa. O café acabou e aproveitei o pedido de duas cervejas para o enfrentar olhos nos olhos.

- Acho que entre duas pessoas que partilham a vida a espera pode fortalecer ou enfraquecer a sua relação. Fortalece quando é certa, enfraquece quando se torna longa e por isso incerta.
- É...

Espera. A mesma palavra pode abranger dois sentimentos tão distantes como Mercúrio e Plutão, dois sentimentos que giram à volta do mesmo centro mas jamais significarão algo semelhante. E com essa diferença vi-o sair dali com a alma nos pés, deixando a garrafa de cerveja tão cheia como veio a este mundo.
Foi duas noites depois que fez a barba com mais cuidado que o habitual, que se penteou com a ponta dos dedos e, pela primeira vez em muitos anos, passou as calças a ferro antes de as vestir. Depois mergulhou nesse oceano para o qual se habituara a olhar esperando em vão. Um oceano de pessoas atrasadas para apanhar um autocarro, outras fazendo compras em shoppings apinhados, outras combatendo a solidão na mesa de um bar qualquer. Um oceano onde talvez nos cruzemos com alguém por quem possamos esperar todos os dias com a certeza que vem, e que um dia encontrou mesmo.
Esta é uma história da carochinha, como ele próprio a definiu mais tarde, mas é verdadeira, para ele e para mais alguns milhões de homens neste planeta algures entre Mercúrio e Plutão. É verdade também para todos os que acham que estão sozinhos e ainda não perceberam que não estão. E é também o que eu vos queria dizer hoje, não sei bem porquê. Na verdade até me sinto estúpido a dizê-lo mas... tentem ser felizes.

15 comentários:

André C. disse...

Obrigado Ivar. Estava a precisar disto hoje mesmo.

Pearl disse...

Uauuuu!!!
Li e reli e voltei a ler!!
Obrigada!!!
E sim, é um dever que nós temos, o de ser felizes, ou então, morrer a tentar sê-lo!
;o)))***

EJSantos disse...

"Na verdade até me sinto estúpido a dizê-lo mas... tentem ser felizes."

Não te sintas estupido. Isto é uma coisa muito inteligente. Sim, tentem ser felizes. É preciso coragem.

Um bom Natal, com muitos afectos e pouco consumismo.

Ivar C disse...

andré c, e é assim. um abraço. :)

pearl, é bem vista, essa obrigação. :)

ejsantos, de consumismo não tenho nada. obrigado, um abraço sincero para ti. :)

Candybabe disse...

Saber ser feliz é complicado... Mas eu tento encontrar algo positivo em tudo...
Mesmo que seja difícil...
Vamos tentar ser Felizes!!!!
Tem um Feliz Natal :D

Marilisa Mesquita disse...

um simples e sentido Obrigado! Igualmente. ^^

TM disse...

Farei todo o possível para que isso aconteça... :D

Feliz Natal!!! :)

Ivar C disse...

candybabe, exacto. :)

marilisa mesquita, :)

tm, :)

Fatyly disse...

Li e reli e foi como se estivesse a ver um filme. Acho que milhões de portugueses sofrem de uma doença grave a que eu chamo "sebastianismo" (porque nunca acreditei nesse fulaninho) e na espera ou à espera perdem flash diários que todos juntos formam a felicidade que somados serão maiores que o raio do Plutão e do Mercúrio.
Pois claro que por exemplo hoje gostaria de ter um homem do meu lado, que me dissesse anda lá mulher que te levo às urgências ou que, ao invés de ter de pegar em mim própria e ter que ir a conduzir e ter que ir comprar os remédios, mas não significa de forma alguma: solidão numa espera, ou a espera na solidão. Eu hem? Se tiver que aparecer, aparecerá, nunca estive em redomas mas gozo a vida e gosto muito mais da história da carochinha (excepto do laçarote) que de parva não tem nada
do que aparvalhados(as) à procura de companhia amorosa tal El Rei D.Sebastião!

Como dizes bem "a mesma palavra pode abranger dois sentimentos, distantes com algo semelhante" e não te sintas "estúpido" quando dizes "tentem ser felizes" porque também a ti, quem hoje te preenche a alma e a vida, só apareceu quando tinha que aparecer.

Um grande beijinho e para muitos(as) é uma linda e bela mensagem de Natal, porque eu ainda acredito no velhinho das barbas:):):)

Ivar C disse...

fatyly, tens razão, sim. o sebastianismo é uma doença portuguesa. obrigado por estares aí. :)

Malena disse...

É sempre assim... No Natal vem aquele sentimento que nos faz reparar mais nos outros, seja nas suas dolorosas esperas ou no seu anonimato na multidão.
Sê feliz tu também, Ivar! :)))

Ivar C disse...

malena, devia ser sempre, não é ?

Ana, Dona do Café disse...

Um beijo e que sejas feliz, muito.
De vez em quando gosto de sentir que me perco mesmo nas tuas palavras e que ando aí pelo meio também a tropeçar nelas.
Um beijo e que sejas feliz, muito.
A.

(ps. tenho ali um kit mesa de café pronto a ser enviado ou resgatado numa visita a um incursão musical tua por Aveiro :P tenho andado num corropio mas, é só para que saibas que não está esquecido. :))

H. Santos disse...

ta fddo bro... falta algo, ou alguem xD

Ivar C disse...

ana dona do café, fixe. qualquer dia já aqui ponho as datas de janeiro. beijinho. :)

mrz, :)