10.31.2007

crónicas da cidade que sopra | todos os santos são de carne

Amanhã, por ser quinta-feira, sai mais uma crónica da cidade que sopra no Diário de Aveiro. Esta é a sexagésima nona crónica que escrevo naquele jornal. Um número místico, portanto...

Acumulam-se as horas no relógio da cozinha. Acumula-se a louça por lavar em cima do balcão e, orbitando-a, o cheiro à putrefacção do tempo que passa. Acumula-se o cotão atrás das portas e o pó debaixo do móveis. Numa gaveta qualquer do quarto acumulam-se as contas por pagar e, numa gaveta da sua vida acumulam-se decepções. São gavetas que estão sempre fechadas mas que um dia Eva terá que abrir. Ela sabe disso, e a sua sombra deitada na cama acumula a falta de coragem para o fazer. É como se fosse um satélite sem rumo, sem um planeta principal. No seu porta-moedas
"made in china" acumula-se a fome disfarçada e, na sua casa vazia acumula-se a solidão. Hoje é feriado e não foi trabalhar. Normalmente acumula o tempo na caixa dum supermercado qualquer que acumula em dinheiro o desespero dos outros.

2 comentários:

Anónimo disse...

É mesmo...um número místico:)

Mas...fiquei sem palavras mediante o que li. Bateu fundo e de facto só tenho pena que não edites um livro.
Eu já estou a fazer um dossier e a minha mãe também:)

Parabéns rapaz e que continues a trabalhar essa tua vocação.

Toma lá uma beijoca

Fatyly

Ivar C disse...

Fatyly, és sempre uma simpática. Beijo também :)