5.24.2007

uma pedrinha na alma

Em 1995 tive uma interrupção na minha vida conjugal. Fui para a República Checa durante cinco semanas, onde conheci uma russa que, até então, namorava com um norueguês. Estive para levar uma sova dele, num bar que se chamava Bunker club (já não existe), mas por sorte tinha feito amizade com o porteiro do tasco. O norueguês era bem maior do que eu e mais agressivo, mas o porteiro era ainda maior do que ele. Tendo em conta que meço 1,84 me na altura pesava mais ou menos cem quilos (agora peso oitenta e dois), estão a ver o que ia ali: dois gorilas prontos a matarem-se um ao outro.
Bem, entretanto vim embora e ela chorou na minha partida. Eu também chorei mas só depois, quando ela já não estava a ver. Ficámos com o contacto um do outro e escrevemos umas cartas (na altura a internet ainda não era assim), mas a coisa acabou por morrer por ela mesma. Em Portugal acabei por reatar a minha relação que durou até ao ano passado e nunca mais me lembrei dela. Quer dizer, lembrar até lembrei mas... pronto, é aquela cena... até os contactos perdi.
Agora tenho-a adicionada no msn (encontrou-me no google) e falámos pela primeira vez há uns dias. Doze anos depois disse-me que nunca mais conseguiu ter uma relação por minha causa, que ainda está à minha espera e que sabia que um dia os nossos caminhos se iam cruzar. Pediu-me o número de telefone e eu disse que não tinha (ela acreditou!). Não lhe disse que estou divorciado mas também nem cheguei a dizer que casei em 1999. Só lhe disse uma coisa que nem bem até que ponto é verdade: I´m in love here in Portugal with someone I met few months ago. Ela respondeu qualquer coisa como: I believe you are always in love with someone you met a few months ago.
Agora tenho-a bloqueada no Msn e não sei o que é que lhe hei-de dizer. Para mim, uma pessoa com quem estive cerca dum mês, já não significa tanto como isso. Também não acredito que ela tenha realmente estado à minha espera doze anos. Acho é que, se me procurou tão exaustivamente no google agora, é porque está a atravessar uma fase difícil da vida e não tem uma rede onde cair. Gostava de a ter encontrado, sim, mas noutra situação: uma em que os dois fôssemos capazes de sorrir ao lembrarmo-nos do que nos aconteceu. Assim não. Nem sei porquê...
Mesmo assim todas as noites me tenho lembrado um bocadinho dela. Era tão bonita. Sei lá, pá. As pessoas passam por nós, mesmo que duma forma efémera, mas deixam-nos sempre uma pedrinha na alma, assim bem aqui dentro.

16 comentários:

sem-se-ver disse...

pedrinha... ou pluma...

SaoAlvesC disse...

Interessante... talvez queiras passar lá na minha caixinha e ler o conto que tenho andado a publicar. Fala de dois amigos que se reencontram depois de 24 anos de separação... e digamos que é uma história meio autobiográfica muito romanceada :)
Gostei do teu blog. Voltarei :)

Anónimo disse...

Hum...uma pedrinha na alma. Essa foi linda!

Ivar C disse...

sem se ver, ou uma coisa mutante, entre pedrinha e pluma... ;)

pandora, vou lá ver daqui a bocadinho... bem vonda ao "não compreendo" e obrigado.;)

maria papoila, nunca te disse mas a minha personagem de civilization 4, quando é feminina, chama-se maria papoila. Isto desde 96 ou 97... :)

Fábula disse...

hum, tu estás sempre metido em aventuras... talvez o melhor seja não pensares mais nisso e pronto! =)

Ivar C disse...

fábula, é o que estou a tentar fazer... não pensar mais nisso.

Anónimo disse...

e ainda te queixas...a tua vida é uma agitação constante, pá!!

:))))

Anónimo disse...

Há 12 anos, ela deixou-te um sorriso na alma. Hoje, transformou - se em pedrinha, porque estão os dois com dificuldade em sorrir.

antonio boronha disse...

umas até deixam uma 'alma' na 'pedra'
(que decidimos usar para tapar o buraco onde encafuámos alguns tesourinhos, mais ou menos, deprimentes).
abr

Ivar C disse...

eu, constante, constante não. também trabalho...

karla, eu não tenho assim tanta dificuldade... ;)

antónio boronha, pois deixam, sim. abraço pró Algarve.

Anónimo disse...

Leio-o frequentemente e este seu post fez silêncio em mim. Paradoxalmente, nunca os que me suscitaram palavras me levaram a escrever.

Ivar C disse...

caro(a) anónimo(a), este blog é um bocadinho esquizofrénico mas é genuino... também é suposto servir para isso. grande abraço, ou beijo, consoante a oportunidade do acto. ;)

Fausta Paixão disse...

ai a pedrinha!!!!
tu e as pedras... e as incompreensões...

belos textos resultam dos escolhos!

Ivar C disse...

mas este texto nem é belo... ;)

Burns disse...

mas diz la a miuda para vir

Ivar C disse...

calma... calma...