5.21.2007

suor

O corpo respira algumas escassas esperanças. Talvez ela telefone hoje ao final da manhã, talvez ela telefone hoje ao final da tarde, talvez ela telefone hoje à noite. Talvez amanhã. O que se tem, e que não se sabe muito bem o que é, guarda-se numa mão que se aperta com força. Depois abre-se, às vezes, só para ver se ainda lá está. Só suor.
Só suor. Duma noite que era só para beber uma cerveja, talvez duas, sobra mais uma esperança. Uma conversa, a número não sei quantos, e alguns sorrisos que um ano de solidão aprendeu a desenhar automaticamente no nosso rosto. Depois há uma luz ténue e intermitente dos candeeiros da rua que nos espreita pela janela, e nos vê outra vez na cama com alguém que não é ela. É só suor e a luz tem pena de nós. Por isso afasta-se lentamente e deixa-nos dormir. Talvez de manhã ainda estejamos acompanhados. Talvez não.
Talvez não. O corpo respira escassas esperanças mas só pensamos que talvez não. Talvez não, talvez não, talvez não, talvez sim, talvez não. Os dias são um malmequer de que arrancamos pétalas pessimistas. Não há outras, ou pelo menos raramente as encontramos. E é só suor na nossa mão. Mesmo quando a abrimos para ver o que temos.

4 comentários:

p disse...

Gostei de vir aqui hoje. Gostei de sentir que há quem tenha conversas mais estranhas que as minhas. Um beijinho da p

Ivar C disse...

lo, p. um beijinho... :)

Maria Arvore disse...

O suor não se controla, sua-se.;)

Os americanos fazem teses pegando na conclusão para depois construir como se chega lá. Suam-lhes as mãos.;)

E se gato escaldado de água fria tem medo, as saunas são quentinhas e sua o corpo todo. Primeiro estranha-se, depois entranha-se. ;)

Ivar C disse...

maria árvore, obrigado por andares por aqui. gosto que fales comigo... ;)