coisas que fascinam (124)
crisálida
Hoje vi, pela primeira vez este ano, uma borboleta. Esvoaçava perdida entre uma interminável fila de automóveis impacientes pela mudança de cor dum semáforo, e eu parei para a seguir com os olhos por ser a coisa mais bonita da minha manhã. Acabou por desaparecer perto do cano de escape dum camião qualquer e eu segui o meu caminho, olhando para os meu pés que se moviam contra a vontade enquanto uma pedrinha me crescia na alma.
Acho que é assim que nos apaixonamos, parando a vida por momentos para seguir com os olhos o voo errante duma borboleta sufocada por centenas de canos de escape nervosos. Pelo menos é assim que eu o faço, numa tentativa de fuga ao dióxido de carbono do Desamor. Lembro-me de seguir a Raquel com o meus olhos para todo o lado como se ela fosse a borboleta dos meus dias, até desaparecer numa curva qualquer e eu me afastar com a mesma pedrinha na alma. O Amor tem a mania de ser isso: duas asas fugidias que nunca conseguimos tocar.
Lembro-me também da primeira vez que vi um casulo e da minha mãe me explicar, enquanto afastava os meus dedos daquele pequeno berço de seda, que aquilo era uma crisálida, ou seja, uma lagarta em vias de se tornar borboleta. Nunca mais me esqueci desse nome, crisálida, e foi com essa memória que mais tarde desejei que a Raquel deixasse de ser borboleta e passasse a ser uma, só para eu lhe conseguir tocar. Porque o Amor é isso mesmo: irreversível na metamorfose da vida.
30 comentários:
Lindo texto. (:
ana, obrigado. :)
Lindo!!!
Engraçado também ontem me perdi no voo duma borboleta, recordo-me que tinha tons cor de laranja e nem sequer estava no trânsito, nem a respirar co2! heheheh
;o)))***
Gostei muito =)
Gostei de ler este post. E fiquei com a alma mais leve, nem sei bem explicar... Obrigada
Muito bonito o texto :)
Mas dos canos de escape sai monóxido de carbono. Esse gás agarra-se muito mais aos nossos eritrócitos do que o dióxido de carbono. talvez seja um bocadinho como o desamor, que muitas vezes se agarra empedernido ao coração de cada um.
Joana
Interessante analogia, ainda mais pelo sofrimento pelo qual a lagarta passa até se tornar borboleta.
CR
Que linda declaração de Amor!!! :)
pearl, eu até pensava que era cedo para as começar a ver. :)
besta artista, obrigado. :)
palavrasasolta, obrigado. :)
joana, tens razão, sim. eu é que emano dióxido de carbono. :)
Irreversível e sem porquê.
Que lindo, Bagaço.Não páras de me espantar, tal e qual como a Primavera. E o amor também.;)
"O Amor tem a mania de ser isso: duas asas fugidias que nunca conseguimos tocar."
Não concordo amigo, para mim o amor é (também) o plenoo prazer do toque
cr, exacto. :)
helena, obrigado. :)
lm, obrigado. :)
cota, é mais uma mania, portanto. :)
os teus textos ainda me conseguem surpreender. lindas palavras.
:)
Demasiado intenso, para ficr indiferente... Um texto tal qual como o voo de uma borboleta, belo!
carla leite, obrigado. :)
filipa, obrigado. :)
gostei muito deste post!
Olha que te dizer para além do que já foi dito? Tiro-te o meu chapeú!
Adorei!
moleskine, obrigado. :)
fatyly, obrigado. :)
Quando era criança, tinha alguns bichos-da-seda. Adorava fazer-lhes festinhas e contar-lhes os "anéis" à medida que eles iam crescendo. Adorava vê-los a tecer a crisálida, e ainda hoje me lembro de perguntar à minha mãe porque é que uns eram brancos e outros amarelos. Passava dias a ver se saíam as borboletas, e quando finalmente o faziam, deixava-as estar pela caixa um dia ou dois depois libertava-as: não as conseguia ver ali fechadas, por muito que as quisesse ter só para o meus olhos. Porque quando chega a altura de libertar o que nunca nos pertenceu, há que saber fazê-lo, guardando na memória o tempo que lhes dedicámos e os sorrisos que nos arrancaram, sejam eles borboletas ou amores :)
turtle, boa! obrigado pelo teu comentário. :)
turtle, boa! obrigado pelo teu comentário. :)
Gosto muito. Bjs
pipoca dos saltos altos, obrigado. :)
O que é mesmo bom é quando a borboleta pousa na nossa mão e se deixa tocar, exuberante, tal como o Amor! :))
malena, exacto. :)
Muito bom... Como sempre... :)
sophie, obrigado. :)
Quanto ao texto não posso acrescentar muito mais, já foi tudo dito, muito bonito.
Agora quanto à Raquel, o que posso dizer é que assimque acabei de ler este post fiquei com uma inveja dela...
Carla
rufina, se me conheces já não tinhas assim tanta inveja, lol. :)
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