12.26.2011

pensamentos catatónicos (267)


Hoje, assim como quem não quer a coisa, comecei a fazer um desenho enquanto esperava pelo almoço, creio que uma árvore solitária junto a um caminho que desaguava na linha do horizonte. Mas acabei por fazer um gatafunho. Já não me lembro muito bem, mas acho que me desviei da ideia inicial quando me apercebi que a árvore estava a ficar desequilibrada. Pelo menos quando comparado com aquilo que eu queria. O gatafunho foi assim uma forma de eu não insistir mais num desenho que me estava a fugir da mão. Assumi o erro e aniquilei-o com uma bomba de tinta. Depois almocei calmamente.
O almoço, arroz com legumes e carne de aves, caiu-me bem. Acho que devia ter aprendido a fazer gatafunhos mais cedo na minha vida, ou melhor, devia ter tido a coragem de começar a fazer gatafunhos mais cedo. É que o Amor acaba por ser mais ou menos como um desenho a esferográfica. Não aceita emendas de ânimo leve. Quando as fazemos elas ficam lá para sempre. Notam-se, e mesmo que não queiramos, às vezes incomodam.
Depois da sobremesa tornei a olhar para o desenho e, em vez de do gatafunho, a minha primeira interpretação mental do desenho foi a de uma árvore. De novo. Não a árvore que eu queria, mas outra qualquer. Não interessa, afinal de contas era um desenho passado onde, tal como nos Amores passados, fica um bocadinho de nós, da nossa tinta e da nossa mão. Mas são para arrumar numa gaveta daquelas que não se abrem mais.
O desAmar é um processo tão legítimo como o de Amar. A única diferença é essa. A Amar desenhamos, a desAmar fazemos gatafunhos. Tentar desenhar enquanto se desAma é um erro. Pelo menos é um processo penoso. Acredita em mim.

28 comentários:

Ana, Dona do Café disse...

ora aí está a resposta para que não tenha 'desenhado' mais no meu blog, só me saíam gatafunhos e não era aquilo que eu ali queria. beijinhos *

*** disse...

Porque o desamar e desencantar têm tanto que se lhes diga!!

Poison disse...

Eu tenho de desenhar enquanto desAmo e quando Amo também, mas admito que a inspiração é muito mais produtiva quando Amamos... Geralmente o desenho e a escrita reflectem os estados de espírito.

Ivar C disse...

ana dona do café, e então? acabou? :)

lm, pois têm... mais ou menos o mesmo, até. :)

poison, bem... o desAmor também me dá para escrever, sim. :)

Carmo disse...

Lindo, lindo o texto :P

Desenhaste em circulos muito fechados inicialmete. É dificil chegar até ti e és muito agarrado a quem Amas, com grande dificuldade de desapego.

:)

Sourire * disse...

Para mim é tão difícil desAmar como desenhar... bem gostava de conseguir, mas é tão difícil!

Estudante disse...

Nunca tinha pensado dessa maneira :)

J Amílcar disse...

Não posso crer que legalizaste o desAmar, fazendo acreditar que é tão legal como Amar.
Há animais que acasalam para a vida toda. Amam? Na minha modesta opinião o desamar é tanto um gatafunho como sermos humanos com e sem jeito e é válido tanto no desenho, como no Amor. Somos animais crueis, é a desvantagem da nossa humanidade.

Turtle disse...

Na verdade, fazer o que quer que seja enquanto se está a desAmar, é quase inútil. Estamos a separar-nos do pedaço de nós que ficou com a outra pessoa. Uma alma mutilada faz nada que se aproveite a não ser reparar-se.

Anónimo disse...

mas sabermos isso, faz parte do crsecimento de cada um.


saber sofrer com o que falhou, também é crescimento, e depois perceber que a vida é múltipla, e que no final oferece sempre compensação, é também saber crescer... ver que o amor ou " desamor " apenas fazem parte da nossa vida, mas que não são a nossa vida, é também crescer...perceber a grandiosidade da vida, da nossa vida, é saber que a vida nos absorve e não nós a ela!

Ivar C disse...

carmo, tenho que concordar contigo, sim. :)

sorriso de menina, é difícil, mas não é um desafio. às vezes é uma obrigação. :)

estudante, :)

J Amílcar, não o legalizei, nem procuro ser legalista em nada. a legitimidade não implica legalidade. :)

turtle, percebo isso. hoje acho que há muito para fazer durante um desAmor. Às vezes pela sobrevivência... :)

anónimo, sim... e a compensação, se não for oferecida, podemos nós inventá-la. :)

Olga disse...

Calculo então que a teoria de que alguns artistas criaram grandes obras num período de desgosto amoroso é falsa.
De facto sempre me pareceu estranho uma vez que durante essa fase de "desamor" falta até a vontade de pensar mas todas as pessoas são diferentes e reagem de várias formas a situações idênticas.

São Rosas disse...

Só uma coisa... isto não devia ser "pensamentos catatónicos (267)"?

Ivar C disse...

olga, não é certo. acho que há muitas variáveis que levam ou não a fazer alguma coisa. uma delas é o trabalho... :)

são rosas, devia?! já nem sei... o anterior era 265... ou não? :)

Olga disse...

Ui...isso agora dava pano para mangas! ;)

São Rosas disse...

"12.19.2011
pensamentos catatónicos (266)
Um dos poucos pedidos que não vale a pena fazer é..."
Q.E.D.

Ivar C disse...

olga, então não dava?! :)

são rosas, enganei-me na etiqueta. foi por isso. obrigado. tenho que ver se durmo... :)

São Rosas disse...

De nada ;O)

(vais para a cama, não dormes...)

Ivar C disse...

são rosas, só a parte de ir para a cama é que, infelizmente, escapa um pouco à verdade. :)

São Rosas disse...

Não dormes... no sofá?

tiago leal disse...

Eu só consigo pensar a desenhar. Desenhar também é Amar. Se precisares de desenhos passa no meu blogue! Será um prazer! Abraço e bom ano novo!

Ivar C disse...

são rosas, preciso é de férias e de parar de me deitar às quatro para me levantar às oito. ou isso ou trazer a cama para o trabalho. :)

tiago leal, passo. obrigado. :)

São Rosas disse...

Trazer a cama para o trabalho... não é uma ideia nova :O)

Ivar C disse...

são rosas, é melhor que trazer trabalho para a cama... :)

Fatyly disse...

"Acredito" totalmente em ti...porque é real o dizes.

Quanto ao desenho digo-te que é digno de registo. Parabéns!

Ivar C disse...

fatyly, obrigado. :)

Ana, Dona do Café disse...

não sei se acabou...o tempo o dirá. tenta-se desenhar de cor mas não é o mesmo, nem sabe bem fazê-lo como antigamente. :( beijinho

Ivar C disse...

ana dona do café, também não estás obrigada a nada. voltas quando te apetecer. é assim que deve ser. :) beijinho.