respostas a perguntas inexistentes (178)
Com o tempo ganhei alguma dificuldade em reconhecer na "minha mulher" aquela que tinha sido a "minha namorada". Cheguei a essa conclusão numa manhã qualquer invernosa, e foi aí que passei a detestar a expressão "minha mulher".
Ela estava a tentar encontrar uma meias num monte enorme de roupa por passar, eu estava a tentar arrumar o aspirador numa despensa onde já não cabia mais nada. Caíram algumas coisas que estavam amontoadas à sorte naquele pequeno cubículo da casa e eu pedi ajuda. Ajuda aqui! E ela perguntou-me se eu achava que ela podia. Achas que posso?
Vivíamos lado a lado mas não vivíamos juntos. Nem ela me podia ajudar a arrumar o aspirador na despensa, nem eu podia ajudá-la a encontrar umas meias num enorme emaranhado de roupa. Nunca consegui explicar muito bem isso a mim mesmo, mas acho que tudo começou a acontecer quando ela deixou de ser minha namorada para passar a ser minha mulher. Fiquei a olhar para a despensa desarrumada como se aquilo fosse a minha vida, ou seja, demasiadas coisas sem importância a preencher todo o espaço existente.
O que sobrava era tentarmos ter pequenos momentos de privacidade, fosse na casa de banho a ler uma revista ou numa rápida ida ao café da frente para ler as gordas do jornal do dia. Porque esse era o problema de ela ser a "minha mulher" e eu o "marido dela". Não tínhamos os nossos momentos. Aqueles que são mesmo só nossos. É isso que distingue um par de marido e mulher dum par de namorados.
Quando me divorciei acho que foi a primeira coisa em que pensei. Se me tornar a meter noutra espero que seja com uma namorada para sempre. E repeti para mim mesmo a palavra "namorada", mesmo sem perceber muito bem o que estava a dizer.
Ela estava a tentar encontrar uma meias num monte enorme de roupa por passar, eu estava a tentar arrumar o aspirador numa despensa onde já não cabia mais nada. Caíram algumas coisas que estavam amontoadas à sorte naquele pequeno cubículo da casa e eu pedi ajuda. Ajuda aqui! E ela perguntou-me se eu achava que ela podia. Achas que posso?
Vivíamos lado a lado mas não vivíamos juntos. Nem ela me podia ajudar a arrumar o aspirador na despensa, nem eu podia ajudá-la a encontrar umas meias num enorme emaranhado de roupa. Nunca consegui explicar muito bem isso a mim mesmo, mas acho que tudo começou a acontecer quando ela deixou de ser minha namorada para passar a ser minha mulher. Fiquei a olhar para a despensa desarrumada como se aquilo fosse a minha vida, ou seja, demasiadas coisas sem importância a preencher todo o espaço existente.
O que sobrava era tentarmos ter pequenos momentos de privacidade, fosse na casa de banho a ler uma revista ou numa rápida ida ao café da frente para ler as gordas do jornal do dia. Porque esse era o problema de ela ser a "minha mulher" e eu o "marido dela". Não tínhamos os nossos momentos. Aqueles que são mesmo só nossos. É isso que distingue um par de marido e mulher dum par de namorados.
Quando me divorciei acho que foi a primeira coisa em que pensei. Se me tornar a meter noutra espero que seja com uma namorada para sempre. E repeti para mim mesmo a palavra "namorada", mesmo sem perceber muito bem o que estava a dizer.
24 comentários:
Liberdade é a chave, coesão também. Juntá-las é um desafio....Kiss*
Oh, amigo. O que queres que te diga? A minha namorada é a minha mulher, eu sou o homem dela e estamos os dois bem; ela precisa de mim, geralmente posso; preciso eu dela, também geralmente pode.
Que te posso dizer? Se cada pessoa é um caso à parte, assim também são os casais.
Um barço
EJSantos
Amei o texto!
Identifico-me totalmente...
As pessoas devem namorar para sempre e assim serem felizes.
Obrigada por este momento.
Começo a ganhar o hábito de passar por aqui, e bem contente com isso. Gosto muito do que escreve, mesmo muito.
Claro que são textos tão subjectivos que só nos podemos identificar com uma pequena parte, como é natural. Neste caso que conta aqui é bem interessante como se vê bem a simetria das posições. Não disse «aquela parva, vê-me aflito com coisas a cair e não parou um minuto para dar uma mãozinha» o que era natural.
Com franqueza, por mim creio que foi antes a rotina do relacionamento que estragou a relação e não a 'legalidade' da mesma. Mas com certeza que pensa o mesmo, aqui a palavra mulher/marido quer dizer banalização da relação, não é?
Parabéns pela sensibilidade e excelente escrita!
E é que é mesmo isso enquanto namorados nada esta como certo temos que fazer a conquista diária do outro. Quando casamos damos tudo como assumido.
é aquilo que eu chamo de comodismo e de nos acomodarnós. E é que é mesmo isso enquanto namorados nada esta como certo temos que fazer a conquista diária do outro. Quando casamos damos tudo como assumido.
é aquilo que eu chamo de comodismo e de nos acomodarnós.
Sabes que já leio o teu blog há já algum tempo... Hoje senti o que queres dizer, e por ter medo que isso também aconteça comigo, com o meu casamento, revi-me neste "post" brilhante!
Se não te importares gostava de poder publicar este post no meu blogue, claro que será devidamente identificado o autor! Se não quiseres que o faça não há problema... Posso sempre dizer para passarem por cá!
Continua a escrever coisas assim, tão reais!
Percebo gastaram-se as palavras e a boa vontade.Estou casada á 23 anos e desde o inicio resolvi que nunca deixaria de namorar, e ter tempo para a minha relação.Mas penso que acima de tudo o casal deve praticar a benevolência entre si e ser um pouco egoista em relação ao resto (familia, filhos incluidos). Todas as samanas saio de tal maneira que uma das minhas filhas, comentou " eles saiem e nós ficamos em casa como velhos a ver televisão". Por tudo isto acha a reflexão bem acertada.E digo vale mais tarde do que nunca.
lyn, não sei se é só liberdade ou se também é... ter qualquer coisa sempre por descobrir. :)
ejsantos, ainda bem. ainda bem mesmo... abraço. :)
fii, eu é que agradeço: :)
pé-de-cereja, com certeza que assim. mas para mim as palavras 'marido' ou 'mulher' não têm a ver com a legalidade das mesmas. :)
salsa, sim, tem a ver com o assumido. como se já não houvesse desafios. :)
filipa, está à vontade, e eu é que te agradeço. :)
:)
faz parte da vida....
o melhor é encarar tudo com bom espirito...
lili, :)
francisco castelo branco, é o que tento, sim. :)
fisalis, gosto de saber que há quem consiga isso. :)
Tanta sabedoria em torno de uma dispensa e um aspirador, realmente muitas vezes não nos apercebemos da diferença entre estar ao lado, e verdadeiramente junto..e a vida prega-nos tantas partidas, quando nos apercebemos quase sempre já é tarde:)
ac, sim... o tempo não perdoa o conformismo. :)
A história dos eternos namorados, é muito mais fascinante e promete mais, do que um casamento, pelo menos aparentemente!! Mas, eu sou, tenho um amigo que diz que faço cara feia, sempre que falamos da palavra casamento!! Ele diverte-se imenso com a minha expressão!! Por isso adorei o teu post!!
girl in the clouds, obrigado. :)
Li e reli...e a meu ver...tudo acaba quando se instala uma rotina/correria aparvalhada e nem se quer param para pensar como tu fizeste. Com isso, ou se acaba ou emendam o que de errado está e voltam a ser namorados.
Não se me fiz entender:)
fatyly, fizeste muito bem. :)
O problema não está na "etiqueta" mas no que fazemos com ela!;)
Eu adoro dizer: O meu homem! :)
malena, e adoras muito bem. :)
Ahhhhh......Bagaço pá......o problema não foi o casamento. Foram vocês. Foi o tempo. Foi sei lá o quê.
Eu sou casado. Há quase 8 anos. Continuo a ter os meus momentos e ela os dela. Sempre os tivemos. O casamento, portanto, não alterou nada.
Tenho, no entanto, de dizer que não acredito no amor para sempre. Pelo menos aquele amor que nos faz casar.
tld, com certeza que sim. quando digo "mulher" não é pela formalidade do casamento. :)
o problema se calhar não é ser o marido ou " mulher de", o que tu relatas é que aprendeste com o tempo, que até poderia coicidir ainda com o teu casamento, não foi...
o que te fez chegar a esta conclusão, foi a aprendizagem que só o tempo trás...
pode ser com a/o esposa/o ou com a/o namorada/o...
o que relatas é que cresceste interiormente, e isso pode acontecer de múltiplas formas!
have fun!
anónimo, não é hermética, esta definição de homem mulher. é tendo isso em conta que se encaixa o que dizes. :)
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