9.20.2011

respostas a perguntas inexistentes (178)

Com o tempo ganhei alguma dificuldade em reconhecer na "minha mulher" aquela que tinha sido a "minha namorada". Cheguei a essa conclusão numa manhã qualquer invernosa, e foi aí que passei a detestar a expressão "minha mulher".
Ela estava a tentar encontrar uma meias num monte enorme de roupa por passar, eu estava  a tentar arrumar o aspirador numa despensa onde já não cabia mais nada. Caíram algumas coisas que estavam amontoadas à sorte naquele pequeno cubículo da casa e eu pedi ajuda. Ajuda aqui! E ela perguntou-me se eu achava que ela podia. Achas que posso?
Vivíamos lado a lado mas não vivíamos juntos. Nem ela me podia ajudar a arrumar o aspirador na despensa, nem eu podia ajudá-la a encontrar umas meias num enorme emaranhado de roupa. Nunca consegui explicar muito bem isso a mim mesmo, mas acho que tudo começou a acontecer quando ela deixou de ser minha namorada para passar a ser minha mulher. Fiquei a olhar para a despensa desarrumada como se aquilo fosse a minha vida, ou seja, demasiadas coisas sem importância a preencher todo o espaço existente.
O que sobrava era tentarmos ter pequenos momentos de privacidade, fosse na casa de banho a ler uma revista ou numa rápida ida ao café da frente para ler as gordas do jornal do dia. Porque esse era o problema de ela ser a "minha mulher" e eu o "marido dela".  Não tínhamos os nossos momentos. Aqueles que são mesmo só nossos. É isso que distingue um par de marido e mulher dum par de namorados.
Quando me divorciei acho que foi a primeira coisa em que pensei. Se me tornar a meter noutra espero que seja com uma namorada para sempre. E repeti para mim mesmo a palavra "namorada", mesmo sem perceber muito bem o que estava a dizer.

24 comentários:

Lyn disse...

Liberdade é a chave, coesão também. Juntá-las é um desafio....Kiss*

Anónimo disse...

Oh, amigo. O que queres que te diga? A minha namorada é a minha mulher, eu sou o homem dela e estamos os dois bem; ela precisa de mim, geralmente posso; preciso eu dela, também geralmente pode.

Que te posso dizer? Se cada pessoa é um caso à parte, assim também são os casais.

Um barço

EJSantos

Fii disse...

Amei o texto!
Identifico-me totalmente...
As pessoas devem namorar para sempre e assim serem felizes.

Obrigada por este momento.

cereja disse...

Começo a ganhar o hábito de passar por aqui, e bem contente com isso. Gosto muito do que escreve, mesmo muito.
Claro que são textos tão subjectivos que só nos podemos identificar com uma pequena parte, como é natural. Neste caso que conta aqui é bem interessante como se vê bem a simetria das posições. Não disse «aquela parva, vê-me aflito com coisas a cair e não parou um minuto para dar uma mãozinha» o que era natural.
Com franqueza, por mim creio que foi antes a rotina do relacionamento que estragou a relação e não a 'legalidade' da mesma. Mas com certeza que pensa o mesmo, aqui a palavra mulher/marido quer dizer banalização da relação, não é?
Parabéns pela sensibilidade e excelente escrita!

Salsa disse...

E é que é mesmo isso enquanto namorados nada esta como certo temos que fazer a conquista diária do outro. Quando casamos damos tudo como assumido.
é aquilo que eu chamo de comodismo e de nos acomodarnós. E é que é mesmo isso enquanto namorados nada esta como certo temos que fazer a conquista diária do outro. Quando casamos damos tudo como assumido.
é aquilo que eu chamo de comodismo e de nos acomodarnós.

Filipa disse...

Sabes que já leio o teu blog há já algum tempo... Hoje senti o que queres dizer, e por ter medo que isso também aconteça comigo, com o meu casamento, revi-me neste "post" brilhante!

Se não te importares gostava de poder publicar este post no meu blogue, claro que será devidamente identificado o autor! Se não quiseres que o faça não há problema... Posso sempre dizer para passarem por cá!

Continua a escrever coisas assim, tão reais!

Lucia Mendes disse...

Percebo gastaram-se as palavras e a boa vontade.Estou casada á 23 anos e desde o inicio resolvi que nunca deixaria de namorar, e ter tempo para a minha relação.Mas penso que acima de tudo o casal deve praticar a benevolência entre si e ser um pouco egoista em relação ao resto (familia, filhos incluidos). Todas as samanas saio de tal maneira que uma das minhas filhas, comentou " eles saiem e nós ficamos em casa como velhos a ver televisão". Por tudo isto acha a reflexão bem acertada.E digo vale mais tarde do que nunca.

Ivar C disse...

lyn, não sei se é só liberdade ou se também é... ter qualquer coisa sempre por descobrir. :)

ejsantos, ainda bem. ainda bem mesmo... abraço. :)

fii, eu é que agradeço: :)

pé-de-cereja, com certeza que assim. mas para mim as palavras 'marido' ou 'mulher' não têm a ver com a legalidade das mesmas. :)

salsa, sim, tem a ver com o assumido. como se já não houvesse desafios. :)

filipa, está à vontade, e eu é que te agradeço. :)

Lili disse...

:)

Francisco Castelo Branco disse...

faz parte da vida....

o melhor é encarar tudo com bom espirito...

Ivar C disse...

lili, :)

francisco castelo branco, é o que tento, sim. :)

Ivar C disse...

fisalis, gosto de saber que há quem consiga isso. :)

AC disse...

Tanta sabedoria em torno de uma dispensa e um aspirador, realmente muitas vezes não nos apercebemos da diferença entre estar ao lado, e verdadeiramente junto..e a vida prega-nos tantas partidas, quando nos apercebemos quase sempre já é tarde:)

Ivar C disse...

ac, sim... o tempo não perdoa o conformismo. :)

Girl in the Clouds disse...

A história dos eternos namorados, é muito mais fascinante e promete mais, do que um casamento, pelo menos aparentemente!! Mas, eu sou, tenho um amigo que diz que faço cara feia, sempre que falamos da palavra casamento!! Ele diverte-se imenso com a minha expressão!! Por isso adorei o teu post!!

Ivar C disse...

girl in the clouds, obrigado. :)

Fatyly disse...

Li e reli...e a meu ver...tudo acaba quando se instala uma rotina/correria aparvalhada e nem se quer param para pensar como tu fizeste. Com isso, ou se acaba ou emendam o que de errado está e voltam a ser namorados.

Não se me fiz entender:)

Ivar C disse...

fatyly, fizeste muito bem. :)

Malena disse...

O problema não está na "etiqueta" mas no que fazemos com ela!;)

Eu adoro dizer: O meu homem! :)

Ivar C disse...

malena, e adoras muito bem. :)

Sinnerman disse...

Ahhhhh......Bagaço pá......o problema não foi o casamento. Foram vocês. Foi o tempo. Foi sei lá o quê.

Eu sou casado. Há quase 8 anos. Continuo a ter os meus momentos e ela os dela. Sempre os tivemos. O casamento, portanto, não alterou nada.

Tenho, no entanto, de dizer que não acredito no amor para sempre. Pelo menos aquele amor que nos faz casar.

Ivar C disse...

tld, com certeza que sim. quando digo "mulher" não é pela formalidade do casamento. :)

Anónimo disse...

o problema se calhar não é ser o marido ou " mulher de", o que tu relatas é que aprendeste com o tempo, que até poderia coicidir ainda com o teu casamento, não foi...

o que te fez chegar a esta conclusão, foi a aprendizagem que só o tempo trás...
pode ser com a/o esposa/o ou com a/o namorada/o...

o que relatas é que cresceste interiormente, e isso pode acontecer de múltiplas formas!

have fun!

Ivar C disse...

anónimo, não é hermética, esta definição de homem mulher. é tendo isso em conta que se encaixa o que dizes. :)