7.18.2010

depois da primeira vez... acabou

Diz o Jornal de Notícias que os homens continuam a matar mulheres e pergunta porquê. Porquê? Ninguém sabe muito bem porquê. Sabe-se que o único porquê por trás disto é uma besta a quem não vale a pena explicar as coisas, porque a "não violência" não é uma coisa que tenha que ser explicada. Há homens que não entendem isto por serem uma bestas. Ponto final, não se lhes explique mais nada. Explique-se é às mulheres que, por mais que tentem acreditar no contrário, têm que perceber que depois duma primeira vez há sempre uma segunda. Um homem que bate uma vez é porque é capaz de fazê-lo, e essa é a fronteira que nunca pode ser ultrapassada numa relação.
Depois da primeira vez... acabou.

22 comentários:

Movimento Moda disse...

De facto a pergunta é mais "porque é que continuam a haver mulheres tão crentes?"

Tulipa Negra disse...

Estas histórias fazem-me sempre lembrar o caso de uma senhora que era minha vizinha quando eu era criança. O marido encarnava o cliché de "quando o Benfica perde, bate na mulher". Literalmente. Sempre me fez confusão ver aquela mulher a tremer por saber o resultado de um jogo de futebol. E ainda me fazia mais confusão o facto de continuar casada. Mas era outra geração, a senhora tinha idade para ser minha avó, e nesse tempo considerava-se normal esta situação. Hoje em dia, é completamente inaceitável.

Eu concordo contigo: a mim só me batia uma vez, e era por me apanhar desprevenida! Mas isto deve ser o que toda a gente diz, depois quando se passa por elas o caso é mais complicado, daí muitas mulheres ficarem presas em situações das quais não conseguem sair.

(Este assunto não dá direito a smile.)

Beijinhos

Cátia disse...

Nem mais. Está nas mãos das mulheres mudar a situação, pois eles nunca a vão mudar.

E por isso digo sem pudores alguns, bate a primeira: culpa do homem. Bate a segunda: culpa da mulher...

Nunca há um fim na primeira estalada, no primeiro murro, no primeiro pontapé, nunca. Serão sempre os primeiros de muitos, se ELA deixar.


Boa semana. :)*

Ivar C disse...

movimento moda, o pior é que isso, pelo menos em alguns casos, até tem explicação. :)

tulipa negra, há casos em que a mulher é que tem vergonha de ser agredida e não o homem de ser agressor. a questão é essa... e não é fácil de ultrapassar. :)

cátia, também já não sei se este tipo de violência algum dia vai mudar. é o tipo de violência mais cobardolas que há e cobardolas vão existir sempre. :)

Dorushka disse...

Tens toda a razão! Aqui há dias, no programa da Oprah, ouvi falar um senhor, cujo nome não retive, que escreveu um livro sobre a violência doméstica e que dizia o seguinte: a primeira vez que uma mulher leva uma tareia é vítima, à segunda é voluntária.
O senhor explicava exactamente aquilo que acabas de dizer, que um homem quando bate uma primeira vai bater a segunda e a terceira. Cabe às mulheres dizer não e afastar-se assim que acontece.

Ivar C disse...

dorushka, quem é capaz de o fazer uma vez é capaz de bater sempre, sim, e eu estou farto de ler todos os dias no jornal alguma coisa sobre violência doméstica. é um paradoxo. :)

L. K. disse...

É um assunto que me desgasta, porque como tudo oresto em Portugal: fala-se e fala-se e reunem e falam mais ainda sobre o assunto mas resoluções, hipóteses ou soluções não existem ou melhor, existem no papel mas com tanta burocracia associada que é mais fácil voltar para o agressor que ser agredida em mais 100x, em que se relata a história.

Até não me posso queixar de coisas não solucionadas, o problema, é que a violência doméstica é como o abuso de drogas: a vitima tem de querer e ir até ao fim e na maioria das vezes não consegue, é como se não aguentasse a ressaca e recaí-se.

E o que me chateia ainda mais é que o que vem nas noticias não são casais "velhos" mas sim, gente na casa dos 30/40 anos, já para não falar das situações de violência nas relações de namoro, isto entre adolescentes. Às vezes o desamor é tão grande que uma bofetada as faz sentir gostadas :(

Anónimo disse...

Caso Mércia e caso Eliza. Aqui não se fala noutra coisa.

A primeira, linda, advogada. O assassino, ex-namorado e também advogado, voltou a trabalhar e está impune.

A segunda, uma "vagabunda" (como já ouvi vários dizerem). "Maria-chuteira", atriz pornô, aspirante a modelo. Ex-amante de seu assassino, goleiro do Flamengo e está preso - vamos ver até quando.

E é claro que somente estes dois casos vieram à tona, pois ambos assassinatos foram cometidos por pessoas importantes, ricas, famosas ou conhecidas. E claro, a mídia sempre tem de dar ênfase a alguma novela da vida real, já que a Copa acabou.

As mulheres pobres e de classe média? Pouco importam, afinal são elas que se submetem a esses caras. A culpa é delas, sempre. Sempre é culpa da mulher.

E eu não sei porque isso acontece.

Tulipa Negra disse...

Bagaço,
por falar em vergonha, vi há tempos uma notícia que dizia que actualmente a violência doméstica atinge também muitos homens que, precisamente por vergonha, não denunciam os casos. Parece que, apesar de tudo, a sociedade ainda aceita melhor um homem que bate numa mulher do que o contrário...
Beijinhos

Doce Cozinha disse...

É complicado julgar uma mulher por não ter uma atitude, quando não se passou pelo mesmo!
Nem quero imaginar...

Dulce disse...

Mas se acontece uma vez, e alguém que não a mulher envolvida faz queixa, não é considerado violência doméstica, porque foi um acto isolado - mesmo que não tenha sido de facto um acto isolado, mas apenas a primeira queixa.

Fatyly disse...

Sim é bem verdade, mas o medo delas por mil motivos económicos, para onde ir, serem ou não serem bem recebida por quem as acolhe, reacção das famílias, perderem os filhos e por último mais incrivel: pensam que foi um desvairo dele e que os conseguem mudar porque os amam. Complicado, mas é de facto amor que t~em a gajos que só com um tiro.

Depois de separados continua a perseguição e a maioria das mortes ocorrem já separados e aí culpo apenas e tão só as autoridades e a justiça que demoram tempões e deixam-nos andar à sua vontade!

Um testemunho na primeira pessoa: anos de violência psicológica e no dia em que tentou a primeira vez (física) voou uma travessa de arroz de tomate e peixe frito! Saiu porta fora e foi aí que pus fim a uma vida tão perdida de 23 anos pois amei demais sem nunca ter sentido o que é ser amada.
Quando saiam com o pai (aí disse logo ao juiz que ele era livre de estar com elas porque eu não punha em questão o seu amor de pai) minha nossa o que sofri com medo de "tantos fantasmas" e as horas custavam a passar, mas correu sempre bem!
Parva, parva, estúpida e tótó...mas pus os pés em terra firme a tempo e já lá vão 18 anos!!! Hoje só tenho uma raiva: o ele ter morrido sem ver o percurso glorioso das filhas e sobretudo os netos lindos, para engolir tudo o que andou a dizer durante anos e anos! Porraaaaaaaa até isso o Zé do Além me negou!
Conto para bem de outras mulheres que estejam a passar pelo mesmo, ninguém muda ninguém, ninguém consegue fazer que gostem de nós, ninguém é dono de ninguém e mais vale ACABAR SE MEDOS do que manter uma união de fachada ou em prol dos filhos, este motivo o pior de todos!

Acabei e desculpa o desabafo:)

Anónimo disse...

Odeio odiar. MAs odeio esse tipo de "homens". Sem vergonha e sem arrependimento de os odiar.
PS: treino Karaté há mais de 14 anos. Se alguém quer porrada, que faça artes marciais. Lá tem em boas doses! Mas os "homens" que batem às mulheres, são uns cobardes nojentos.
EJSantos

Ivar C disse...

l.k., eu também me sinto mal com isto. acho que a lei em Portugal tem melhorado bastante nesta matéria. o problema é que a lei não chega. acho mesmo que isto tem que passar primeiro pela vergonha social ser só do agressor e segundo pela independência financeira e emocional da vítima. :)

gigi, ninguém sabe porquê... mas este tipo de violência é universal, infelizmente. :)

tulipa negra, acredito que isso aconteça, sim, mas menos... e é igualmente grave, claro. :)

caia, tens razão... e eu não estou a fazer julgamentos... estou mesmo só a... sei lá... opinar. :)

dulce, a violência doméstica em Portugal é crime público, o que quer dizer que qualquer um pode e deve fazer queixa. depois... depende. :)

fatyly, obrigado pelo teu testemunho...e pelo aviso. acho importante. :)

ejsantos, eu concordo contigo. :)

Anónimo disse...

não, a culpa não é da mulher, nunca. aquí não há lugar a inversão de papeis. o culpado será sempre o agressor, e a vitima será sempre o agredido... seja o agressor homem ou mulher, seja o agredido mulher ou homem.

não invertamos.

Ivar C disse...

anónimo, isso é verdade, sim... concordo... mas quem diz que à segunda a culpa é da mulher não está propriamente a desculpabilizar o homem. mas eu também não acho que as coisas sejam assim tão simples. antes fossem. :)

C disse...

Há outros comportamentos, não físicos que são igualmente desumanos. Depreciação, desrespeito, punições... Espero que os indivíduos, nestas condições, batam. Batam com as asas para bem longe!

Ivar C disse...

c, tens toda a razão. :)

Catarina R disse...

Está na mão das mulheres mudar as coisas??? Já se colocaram no papel das vítimas???

A primeira bofetada, não é o primeiro acto de violência... até chegar lá já há anos de exercício de poder e controlo, já há um isolamento terrível a que a vítima, manipuladamente, foi sendo subjugada...

isto é apenas um comentário que visa apelar ao bom senso: a violência doméstica afecta 25% da população feminina mundial, a violência sobre a mulher afecta 70% da população feminina mundial - é uma questão de saúde pública.

Problema: os homens
Solução: os homens

Justificação: toda a educação machista e enquadramento subsequente do papel do homem e da mulher... isto dá pano para mangas, mas POR FAVOR, não vitimizem ainda mais as mulheres - e se o fizerem é porque, simplesmente, não entendem o que elas estão a passar... e que largar o homem, pode significar - e significa quase sempre: correr perigo de vida!

Horácio Silva disse...

Talvez você pense: “se elas ficam tanto tempo sendo agredidas; se elas denunciam seus
parceiros e depois retiram a queixa; se elas não se separam logo é porque devem gostar
disso, não têm caráter, são doentes ou covardes”.
Não é bem assim. Existem muitas razões para uma mulher não conseguir romper com seu parceiro
violento, veja algumas dessas razões:
1. O MAIOR DE TODOS OS RISCOS É JUSTAMENTE ROMPER A RELAÇÃO
2. PROCURAR AJUDA É VIVIDO COMO VERGONHA E GERA MUITO MEDO
3. SEMPRE RESTA A ESPERANÇA DE QUE O MARIDO MUDE O COMPORTAMENTO
4. A VÍTIMA, MUITAS VEZES, ESTÁ ISOLADA DA SUA REDE DE APOIO
5. NOSSA SOCIEDADE AINDA ESTÁ DESPREPARADA PARA LIDAR COM ESSE TIPO DE VIOLÊNCIA
6. CONCRETAMENTE, HÁ MUITOS OBSTÁCULOS QUE IMPEDEM O ROMPIMENTO
7. ALGUMAS MULHERES DEPENDEM ECONOMICAMENTE DE SEUS PARCEIROS VIOLENTOS (Bárbara M Soares)

Anónimo disse...

"Normalmente, a violência não acontece da noite para o dia. Ela vai se desenvolvendo aos poucos:
de forma sutil e sorrateira. Pode começar com uma pequena grosseria, um grito ou um objeto
quebrado pelo parceiro. Você se separaria por isso? Mais tarde, um empurrão, um soco na mesa,
uma ofensa maior. Já caberia pensar em divórcio? Jogar tudo fora na primeira dificuldade? Não
vale tentar “resolver o problema”?
Adiante, meses ou anos depois, podem acontecer novas cenas de violência: um tapa, um soco,
palavras realmente ofensivas. Porém, em seguida vêm desculpas e o arrependimento sincero.
Muito carinho e a revivência do amor que ligou o casal. Será o momento de denunciá-lo a
Polícia? Desistir do casamento e mandar para a cadeia o homem que ainda provoca amor, desejo,
fantasias para o futuro e sonhos de felicidade? Não será o caso de dar ao agressor uma outra
chance?
Depois de um longo período de harmonia e enlevo mútuo, acontece, então, um novo episódio.
Uma discussão exaltada – comum em qualquer casamento – mas que termina, nesse caso, com
um objeto atirado no rosto da mulher. Dessa vez, a agressão deixa marcas: um olho roxo e muitas
escoriações.O que fazer? Chamar a po?lícia e expor-se à desmoralização pública ou tentar resolver sozinha
esse problema que, afinal, “é assunto de família”? Por outro lado, como romper o casamento,
justo agora, quando já existem filhos, tantos compromissos e projetos compartilhados? O melhor,
talvez, seja deixar as coisas se acalmarem, não comentar com ninguém o ocorrido e dizer a todos
que o olho roxo foi provocado por uma batida involuntária na quina do armário. Casamento é um
trabalho a dois. É preciso paciência, compreensão e capacidade de ceder. Se ele jura arrependimento
e promete jamais repetir as agressões, como não tentar superar mais essa crise?
A próxima etapa se revela uma verdadeira lua-de-mel: presentes, carinhos e juras de amor eterno. Ele
nunca abandonará a parceira. Prefere morrer a deixá-la partir. Ela é a mulher mais maravilhosa que ele
poderia ter encontrado e ele não sabe mais como viver sem ela. Ela cede. Resolve esperar e ver como
as coisas evoluem. Depois de tantas demonstrações de amor e arrependimento, ela se sente fortalecida
e valorizada. Ele se mostra frágil e demandante de atenção. Aos poucos, as cobranças aumentam e a
demanda toma forma de controle. Quem era ao telefone?
Por que ela quer sair novamente? Em que gastou o dinheiro? As cobranças se intensificam e o
nível da tensão se eleva. Ela tenta evitar que ele se irrite. Pisa em ovos. Ele certamente está vivendo
alguma dificuldade no trabalho e ela se sente responsável por preservar a paz e a harmonia
doméstica. Mantém as crianças sob vigilância para não incomodá-lo. Mesmo assim, depois de
nova discussão, ele a sacode violentamente e quebra um objeto de estimação da filha mais velha.
O que fazer? Será que o mais correto é deixá-lo agora? Para onde ir, com as malas e as
crianças? E se ele vier atrás como prometeu? E se tentar se matar, como já sugeriu num
momento de exaltação? Como fazer para se sustentar e manter a prole? E se ele requerer a
guarda dos(as) filhos(as) alegando estar em melhor situação econômica? E o que vão dizer a
família e os amigos, que o consideram incapaz de cometer qualquer violência? Como
comprovar as agressões?
Para quem não conhece a situação, esse é apenas o começo de um caminho tortuoso, cheio de
idas e vindas, dúvidas e hesitações. O processo de desenlace pode durar meses ou anos, dependendo
do grau de envolvimento emocional, dos riscos a serem enfrentados e, sobretudo, do apoio recebido
dos familiares, amigos e profissionais com quem a mulher em situação de violência entrar em
contacto."

Ivar C disse...

catarina R, obrigado pela tua opinião. :)

Horácio Silva, obrigado. :)

anónimo, obrigado. :)