7.30.2010

coisas que fascinam (108)

o Amor dos Velhos.
Quando eu era pequeno pensava que todos os velhos apaixonados só se tinham apaixonado uma vez. Para mim as pessoas apaixonavam-se, namoravam, casavam e viviam felizes uma com a outra até à morte. Aliás, nenhum casal de velhos se tinha apaixonado tardiamente mas sim ainda em tenra idade, e era desde aí que a vida de duas pessoas apaixonadas se desenhava em conjunto.
Talvez eu achasse isso porque o primeiro Amor da nossa vida, aquele de criança, seja tão forte que não pomos a hipótese de vir a ter outro igual. Mas acabamos por ter, igual e diferente. Durante a vida até nos chegamos a contentar com amores mais ou menos, que são aqueles amores que temos mas a que passamos os dias a dizer nim. Nem sim nem não, até ao dia em que inevitavelmente dizemos um grande não.
Esta nova forma probabilística de encarar o Amor decepcionou-me durante algum tempo. Decepcionou-me porque o Amor deixou de ser aquela coisa mágica para uma vida toda e passou a ser suave. Algo que vai e vem quando lhe apetece, às vezes com mais intensidade, outras vezes com menos, mas sempre suave.
Salvou-me dessa decepção total precisamente o Amor dos Velhos. Afinal todos os velhos que eu via na rua de mão dada já se tinham apaixonado milhentas vezes por outras pessoas, e isso fazia com que o Amor pudesse ser uma escolha de todos esses amores.
Passei então a viver bem com amores efémeros, convencido que mais tarde ou mais cedo me apareceria um que pudesse envelhecer comigo. Seria a escolha... e acho que já apareceu.

18 comentários:

Sónia disse...

Por vezes é necessário apaixonarmo-nos milhentas vezes...pela mesma pessoa:-)

Apareceu? Que bom. Felicidades, que seja tudo o que desejas.

Bj

Ventania disse...

:) Lindo. E já me devolveste um niquinho de esperança. Que envelheçam nesse amor bonito.

Brandie disse...

Eu detesto ser repetitiva mas adoro tanto os teus textos que nem imaginas:)
Eu acho que todos nós fazemos essa construção do amor, idealizado, forte e eterno. E crescemos muito frustrados porque o (A)amor tem muito mais contornos do que inicialmente nos explicaram. Mas de facto, a vantagem disso tudo é podermos ter muitas paixões e não apenas uma e ir aprendendo com todas elas.

Miguel disse...

Ontem passeava com a minha namorada pela Foz e reparei que também passeavas por lá.
Num universo paralelo ter-te-ia abordado para agradecer a bela escrita que nos tens proporcionado, a minha namorada e eu lemos o blog com afinco:)

Abraço e obrigado

Unknown disse...

parabéns.
mas olha que ainda falta muito para seres velho. não partas já à espera de que seja esse. porque não é importante. e porque só no fim saberás se era esse. ;)

Ivar C disse...

crystal, obrigado. :)

ventania, :)

brandie, exactamente. :)

miguel, ontem andei na Foz, sim. É um privilégio poder passear ali. Neste Universo também podias ter dito alguma coisa. Um abraço e obrigado. :)

antónio branco, sim, tenho consciência que isso é verdade... mas também tenho consciência que aquilo em que acredito agora também o é. :)

Claudia disse...

para amar não é preciso compreender. para amar tanto faz a primeira, a segunda ou a terceira (acho q depois já n se deve querer tentar mais). para amar importa apenas a felicidade que esse amor traz. e todos trazem momentos de alegria, paz e prazer. e todos momentos menos bons, maus e horriveis. para amar importa apenas querer ser feliz. e que essa pessoa tb nos queira fazer felizes. parabens por esse encontro.

Anónimo disse...

Parece-me que quando somos novos quando pensamos Amor, imaginamos um sentimento absoluto que se apodera de nos. Nao encaramos o Amor enquanto uma relacao que se constroi. Demorei tempo ate perceber isto - que o Amor nao sao so os minutos de passear a beira mar ao por de sol como reza o clichet, mas, acima de tudo, que Amor e uma ligacao, parceria, intimidade que se vai construindo e solidificando com o tempo. E e algo a que nos entregamos, nao porque estamos possuidos de paixao, mas porque sentimos o quanto isso nos expande e alegra enquanto seres humanos.

Ivar C disse...

claudia, obrigado. :)

anónimo, tens razão... demora a perceber que o Amor é sempre conceptual. :)

Malena disse...

É bom sentires que o teu já apareceu! É sinal que estás feliz e, quando se está feliz, faz-se os outros felizes também! :))

Fatyly disse...

Mais um texto magnífico como sempre. Quando pequena nunca fiz essa "construção" e mais tarde apercebi-me ainda mais pelos meus irmãos, amigos e até pelas conversas que tive com os meus pais.
Os meus irmãos xiiii uns bons malandros até ao dia que encontraram "aquela" com quem ainda são imensamente felizes. O meu pai, ciumento demais mas que felizmente nunca deu má vida à minha mãe, quando estava em casa nunca saia sem ela e nunca houve qualquer violência doméstica. Mas sendo piloto de aviação tinha "imensas à perna", eu não punha as mãos no fogo, mas pelo que me dizia...jamais filha e só vai quem quer e que amava apenas a "sua cara linda". O certo e que morreu dez dias antes de fazerem 50 anos de casados. Discussões, claro que tinham, mas acreditas que nunca ouvi nenhuma, saiam zangados, iam dar uma volta e vinham sempre bem.
O único que durou vinte anos foi o meu "inferno" e foi com ele que namorei.Tive tantos que gostaram de mim e embiquei para o que não devia :) Paciência, já não dói porque passou.
Olhando para o meu passado/geração para os de agora, há apenas algo diferente: ao mais pequeno embate, não há diálogo e tratam uma vida a dois como um prato descartável. Depois há - nem sei o adjectivo a aplicar - a enorme necessidade de experimentarem outras e outros, sei lá, talvez numa de que o "mundo acaba amanhã"...e tudo vai por água abaixo.
Na minha geração: catrapiscava-se, namorava-se, o primeiro beijo era a saca rolhas e às escondidas não fosse o pai vir do Além, casava-se e depois sim o sexo! Claro que felizmente havia imensas excepções e furévamos as regras...mas as "penas, sobretudo para as raparigas eram por demais em termos de severidade". Depois namorar militares?
Hoje: sexo, cada um na sua casa, ou melhor na casa dos pais, namoram, namoram, namoram, acabam vão para outros(as), voltam e resolvem ir viver juntos ou casam-se para os pais de ambos mostrarem aos vizinhos a "ostentação" apalermada. Deixam os pais continuarem a intervir ou continuam dependentes deles...e afinal quando assumem e sabem o que querem?
Amores efémeros, mais diria e volto a repetir...descartável, sem se respeitarem e sobretudo sem haver um pingo de diálogo! Não quero com isto dizer que se deva aguentar o que os nossos pais e avós aguentaram, sobretudo "elas"...mas hoje não há limites e por vezes...enfim!

No meio de todo este vulcão ficam os filhos de pais separados que alguns não deixam de ser pais e manterem um relacionamento saudável (não acredito que sejam amigos) em prol dos mesmos e estes bem felizes, porque o são de facto gabarem-se com os coleguinhas que têm dois pais e duas maes, enquantos outros não passam de mochilas de recadinhos de perseguição!

Até que chegam a um dia que estão exaustos e procuram - há quem encontre e há quem não encontre - alguém com quem pudessem envelhecer. e novamente aplico o ditado: com tantas trocas e confusão...mais vale só do que mal acompanhado e a teoria que já li algures neste teu blogue: há que procurar e lutar por...mas quando, como e onde? O tanas...apenas acredito que se tiver que acontecer...acontecerá!

Desculpa a extensão...mas é a opinião desta Velha que ironicamente está sózinha, jamais em redomas de vidro...mas que é feliz e mais feliz ainda por ver o envelhecimento de casais que adoro!

Que sejas feliz...para SEMPRE, palavra que existe mesmo!!!

Fatyly disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ana, Dona do Café disse...

:) Às vezes é assim...
Já dei por mim a olhar aqueles velhinhos na rua (ou no tal banco de jardim) a conversarem ou a abraçarem-se), parece que me dá um novo alento vê-los gostarem-se assim.
Se calhar também duvidaram muitas vezes, acabaram outras tantas,foram amados e desamados, sofreram e tiveram alegrias imensas...mas aquela certeza de estarem com a pessoa certa, está ali, nas suas mãos bem apertadas.
beijinho
A*

Anónimo disse...

Lindo texto. O caso que o Amor nao se pensa sente-se quando menos esperamos estamos apaixonados,quando menos esperamos estamos desapaixonados.Ai se nao podesse-mos escolher por quem nos apaixona-mos e quando. Pensando bem nao tinha graca nenhuma lol.
Anonima Catarina

Ivar C disse...

malena, sim, estou numa fase feliz. obrigado... :)

fatyly, obrigado pelo texto e pela simpatia. :)

ana dona do café, eu diria de certeza, no que respeita aos sobressaltos da relação. :)

anónima catarina, :)

Su disse...

Nossa... que lindo o texto!

Ivar C disse...

su, obrigado. :)

H. Santos disse...

Fatyly... melhor texto de sempre