1.05.2010

pensamentos catatónicos (194)

as árvores morrem de pé

As árvores morrem de pé, ouvi eu dizer muitas vezes quando era criança. A frase ficou-me sempre guardada num cantinho especial da memória. Depois descobri que esse era o nome de um telefilme português dos anos sessenta e, já como jovem adulto, vim a perceber o seu verdadeiro significado.
Era fim de tarde quando me deitei aconchegado pela sombra das árvores mortas do jardim. Estavam mortas e, para além de estarem de pé, também as pontas dos seus ramos se tocavam como mãos esquálidas de jovens apaixonados. Era mais ou menos essa a forma ideal de matar as saudades dum amor adolescente que não chegou a acontecer: tocar-lhe nas mãos como se fossem filamentos nervosos, mesmo na sua morte prematura Depois olhei para os meus dedos onanistas. Talvez eles se tivessem apercebido disso antes de mim: o amor deve sempre morrer de pé.

15 comentários:

Anónimo disse...

Complexo...

Aliás, "as árvores morrem de pé" lembrou isto:

http://www.youtube.com/watch?v=lvbUrmRVQe4&feature=related

^_^

Red disse...

"as árvores morrem de pé".

será por isso que "pau que nasce torto tarde ou nunca se endireita"...?

Icon disse...

ando há imenso tempo para fazer um post com esta frase por base...
já não vou fazer!
disseste tudo o que eu quereria dizer! muito obrigado por este momento

Bang disse...

Foi uma peça de teatro. Depois sim, adoptada em televisão.

http://tv.rtp.pt/EPG/tv/epg-janela.php?p_id=16718

Tal como contigo, esta foi uma frase que cresceu comigo... tal como "As velas ardem até ao fim."

Relevante essa tua comparação.

Um abraço, Luís.

Anónimo disse...

O Amor nunca morre, nao se conjuga no passado ou se ama para sempre ou nunca se amou.
E se acreditarmos que depois do corpo morrer a alma continua viva entao o amor e eterno.
A nossa postura perante os desafios e as derrotas e que devem de tomar sempre a posicao vertical.Ja dizia alguem que ha derrotas mais nobres que algumas vitorias.
Hoje com 40 anos, depois de uma separacao e de ser mae, estou a viver um amor maior.
Um que comecou na adoloscencia com o meu 1.namorado.Esteve adormecido durante muitos anos, para que ambos pudessemos viver outras vozes, vidas e noites...uma preparacao para podermos hoje viver o grande amor de uma vida.
O amor nao morre, quando muito adormece para que possamos viver outros amores, outros desafios outras derrotas,ate estarmos preparados a viver o amor maior,o sublime,o que nos preenche todas as medidas.
beijo x
P.S.

Joana | My Pretty Mess disse...

gostei muito deste texto, especialmente da metáfora introduzida. ;)

Salseira disse...

«"Morta por dentro, mas de pé, de pé, como as árvores". Esta frase, uma das mais célebres da televisão portuguesa, pertence à peça "As Árvores Morrem de Pé" e é dita quase no final da peça pela fabulosa actriz Palmira Bastos, que faz de protagonista da peça.»

Retirei esta informação da RTP para te dizer que não se tratava de uma série mas sim de uma peça de teatro com público a assistir ao vivo.

A frase de encerramento é a que está transcrita acima mas o nome da peça é, de facto, "As árvores morrem de pé".

Desculpa lá a correcçãozita... :)

that'sallfolks disse...

e era a madame Laura Alves que o dizia

Ivar C disse...

gigi, :)

red, lol... pois sim. :)

icon, eu é que te agradeço. :)

bang, sim, tens razão... e obrigado. é giro como há recordações similares em pessoas que nem se conhecem :)

anónima, obrigado pelo teu testemunho... gostei de o ler. :)

c'est la vie, obrigado. :)

salseira, não peças desculpa. só te agradeço. :)

that´s all folks, pois... mas isso não abona nada a favor da frase.:)

Anónimo disse...

mas se não morrer de pé, morre e isso é a vida , o que importa depois da morte é deixar a vida brutar novamente dentro de nós, e tudo segue o seu curso natural.

nem tudo na vida tem que morrer de pé, mas não é por isso, que tem menos dignidade...tudo é digno...os nossos olhos é que veêm mto curto...ou melhor só vemos o que queremos ver...

Vénus

Ivar C disse...

vénus, menos dignidade pode não ter... mas morrer de pé não tem a ver só com a dignidade do que morre. :)

Ana Alvarenga disse...

O Amor não devia morrer, nunca! Mas...se o matamos, então que seja com respeito e dignidade!

Ivar C disse...

a tela, exacto. :)

Sofia disse...

venho sempre ao teu blogue... e não tinha comentado nunca... mas esta frase toca-me... quando o meu avo morreu escreveram um texto sobre ele no jornal cujo título era as "árvores morrem de pé" e para mim o significado dessa frase sempre foi que pessoas fortes como as árvores, que lutaram, viveram muitos anos só podem morrer de pé... com muita dignidade. que foi como ele morreu.

Ivar C disse...

sofia, obrigado. :)