e agora?
Acabou o sexo e o candeeiro do quarto está quieto. Ele também e ela também. De barriga para cima, ele estranha que depois de tanta agitação o candeeiro do tecto esteja parado. Parece que os esteve a observar aquele tempo todo. De barriga para baixo, ela estranha todo o silêncio que se instalou entre as quatro paredes depois do último gemido. Aquele ambiente hermético é doce e melancólico. Talvez por isso os corpos que acabaram de se afastar dêem agora as mãos: para que a doçura vença a melancolia dum orgasmo curto.
De onde é que vem a doçura? Do sexo. Dos lábios dela e do falo dele, dos cabelos dela e das pernas dele, das mamas dela e do pescoço dele. Enfim, dos corpos. Há corpos doces e corpos azedos. Aqueles dois corpos são doces. De onde é que vem a melancolia? Pois é. De toda a vida para trás. Dos filhos dela e dos filhos dele, dos amigos dela e dos amigos dele, do ex-marido dela e da ex-mulher dele. Ambos tiveram uma vida inteira sem o outro.
E agora? É a pergunta que os dois querem que o outro faça mesmo que não saibam a resposta. E uma pergunta é só isso: a procura duma resposta. E agora? pergunta ela. São sempre elas que têm a coragem de perguntar. Nunca eles. E ele responde-lhe com medo que o candeeiro estremeça com a resposta. Que agora lhe apetece um copo de vinho, diz. Se ele quer um copo de vinho talvez fique a dormir ali esta noite, pensa ela. Se ela for buscar o copo talvez possa dormir ali, pensa ele. O candeeiro continua quieto.
25 comentários:
Há fantasmas que perturbam as relações. No entanto, se os corpos são doces e reflectem a doçura que os habita, logo esses fantasmas irão embora! :-))
gosto desse universo... vc explora mto bem! parabens! otimo o seu blog! voltarei mais vezes...
Puxaaaa, vinho nunca me lembro de ter pedido... mas, água... todos os argumentos são válidos quando se pertence a um lugar onde se deve ficar... nem que se argumente que lá fora está um temporal quando o vento não é mais que uma brisa e a chuva mais não é que o vapor de água de um chá para ... dois!
como os teus textos me fazem pensar, como os teus textos para mim são tão reais, como os teus textos um tanto ou quanto fazem parte de mim.
continua...
beijim
"Ambos tiveram uma vida inteira sem o outro". Grande frase. Diz muito...Mesmo
"Ambos tiveram uma vida inteira sem o outro". Grande frase. Diz muito...Mesmo
Essa historia, parece me ter potencial a um final feliz.
Beijo x
P.S.
"E agora?"...é seguir em frente!
(estive a percorrer o teu blogue e já me fartei de rir e continuas sempre em alta forma:))
malena, exacto. :)
emerson cardoso, obrigado. um abraço. :)
sofá amarelo, sim, tens razão: todos os argumentos são válidos... :)
tweety, ainda bem. obrigado. :)
lolablue, :)
anónimo, esperamos sempre que sim e é legítimo pensar que sim. :)
fatyly, obrigado... e sim, é seguir em frente. :)
Pior, bem pior... é ter que ir embora por um qualquer motivo quando o que se "quer" mesmo é ficar.
Um abraço.
luis, yep... abraço. :)
Um dos detalhes mais extraordinários das suas crônicas são os comentários. É muito bacana ler o que as pessoas pensam, sentem ou simplesmente têm vontade de escrever.
É esta a maior das riquezas das suas crônicas: a dinamicidade.
Um beijo!
gigi, um beijo. :)
Muito Bonito. Acho que estão reunidos todos os "ingredientes" para que tudo continue bem. Nota-se amadurecimento, calma, paz, tranquilidade, aquilo que todos nós procuramos. Parabéns :)
anónimo, :)
subtilezas, :)
Era bom que as coisas fossem assim tão simples.
joshua, e é bom porque às vezes até são... :)
muito boa :)
Ficação, ou não, imaginação, ou não, importa que é delicioso ler-te. Obrigada
red, obrigado. :)
joana, obrigado. :)
Espero que ele tenha ficado. Que ambos tenham ficado... :)
memyselfani, também eu. :)
Bom, apesar de mal escrito "ficção" fica a minha intenção
joana, acreditas que nem reparei? :)
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