sabores
Acho que é quando andamos mais tristes que nos esquecemos do sabor das coisas, e não falo de comida. Falo dum beijo ou dum abraço, por exemplo. E se às vezes comemos apenas pela necessidade biológica expressa na fome, também é verdade que às vezes beijamos ou abraçamos alguém sem percebermos muito bem porquê. É que também há beijos sem sabor, e é quando os nossos beijos começam a ficar desenxabidos que se torna urgente fazer alguma coisa.
Tinha-me esquecido do sabor dos beijos. Agora enojam-me os discursos politizados que se centram apenas na nossa necessidade biológica de comer. Nós não queremos só comer. Queremos saborear. É para isso que duas pessoas se juntam: para se saborearem e não para matar uma fome qualquer. Se calhar devia ser assim com todos nós, ao mesmo tempo, numa espécie de orgia global de sabores.
O sofrimento está impregnado na nossa sociedade, presente em expressões serôdias como "trabalhar para comer" ou "quem não trabuca não manduca", como se fosse uma obrigação sofrer antes de comer, uma obrigação sofrer antes de sorrir, uma obrigação sofrer quando se trabalha, uma obrigação sofrer antes de fazer amor. Se é, dou-vos o direito de sofrer por mim. Eu não quero...
17 comentários:
Inscreve-me aí por favor, eu também não, a coisa mais triste é um beijo sensaborão, pior do que isso só um homem de peugas e cuecas ou na hora H chamaraem-nos por outro nome que não o nosso.
ana camarra, lol... eu uso cuecas e peúgas. :)
Quando se anda triste, nada faz sentido, nada é importante...só a nossa tristeza :(
fá, num certo tipo de tristeza sim, tens razão. aqui estava a falar mais de tristeza por contágio ou assim. :)
Ninguém quer.
Isto é post para estar em "pensamentos catatónicos"...
Lá está os tais textos sensíveis que eu também gosto deste blog...e quanto à obrigação, se é assim eu também não quero... assim como assim também nunca dei beijos sem sabor, nem quero recebe-los!
a tristeza envolve.nos e vai corroendo até deixarmos, por vezes tolda.nos. Quem nao vive para saborear, nao vive para o agora, sobrevive.
Afinal, que sabor teria a vida se fosse, uma repetida sequencia de comportamentos quimicos, sistematizados e de eloquencias melódicas, excitantes e sem graça? ha quem lhes chame 'lirismos' há quem nem compreenda este mundo, mas se estamos cá que o saboreemos sem sofrimentos mecanizados!
olga, pois... mas não parece. :)
de Marte, e até tens razão. :)
closet, ainda bem que nunca deste. eu já dei. :)
mag, eu entendi-te bem... :)
quando deres a alguem o direito de sofrer por ti, dá também o meu, pode ser?
hoje em dia cada vez mais as coisas perdem a magia prematuramente... rapidamente os beijos tendem a ficar desenxabidos, e acabamos por comer só mesmo pela fome.. o problema é para quem se apega as pequenas coisas, para quem quer continuar a saborear! para saborear é preciso mais tempo... e se entretanto o outro já 'matou a fome' resta-nos muito pouco para saborear, pralem da saudade de outros tempos, de outros sabores,outras cores... e saborear a saudade de um vazio q ja esteve preenchido, é amargo demais!
Bagacinho
è clar que usas cuecas e peugas só te peçõ para não apareceres nessa figura a nenhuma mulher, é a morte do artista!
beijos
nês, fica combinado. quando o outro já matou a fome, mudamos de restaurante. :)
ana camarra, tarde demais... :) beijos
Eu costumo dizer que beijar sem algum tipo de afinidade ou sentimento é como beijar uma porta.... mas esta analogia está muito mais bonita e real.
Vivemos num tempo de consumo imediato,não seria de estranhar que a afinidade fosse pelo mesmo caminho. Eu prefiro não desistir, podem me chamar antiquada :).
Beijinhos
De acordo com a religião Xamãnica, somos o que comemos, e a comida para além do corpo é o maior bem partilhado...logo sentidos e comida estão milenarmente associados, nós ocidentais com as nossas teses de merda é que aniquilámos estas relações (como tantas outras)...isto para concluir que um beijo me leva a definir o que sinto por alguém, e quando deixo de gostar também é esse o termometro...não somos uma sociedade (ocidental) de emoções, relegamos para outro plano...mas aliado a um bom vinho tinto, haverá algo melhor que um bom beijo???
Acho que todos nós passamos por várias fases. Começamos por idealizar a nossa vida. Nessa altura, Os beijos são daqueles que vão além de tudo. De sonhos. De futuras conquistas. Abrangem o mundo inteiro. E ainda parece que não é suficiente. Tal é a força e a energia. Depois... avançamos... aparecem as experiências mais sérias. O conhecimento do que se sente quando existe dor. No sentir. No querer. No amar. Os beijos perdem força. Mas... ainda tentamos. Após estas duas fases... e se continuamos à procura... o nosso estado puro desapareceu. Queremos, mas temos medo. E somos forjados nesse sentimento. Muitas vezes, afastamos de nós o tal beijo que nos poderia aquecer, somente, porque pensamos que não vale a pena. Antecipamos o futuro sem o conhecer. E poderia até ser o tal... aquele que ansiamos. Que procuramos há tanto tempo. Mas deixamos ir embora...
Eu gosto de saborear a outra pessoas nas suas mais variadas vertentes. Seja no beijo, seja, no decorrer de uma "simples" conversa. Sem isso, a vida perde cor e sentido.
Essa merdinha do sofrimento é um bocado religiosa, não é?!
Até a banalização da palavra "sacrifício" revela a importância social que se dá ao sofrimento (um sacro ofício que se faz para se obter qualquer coisa boa... ou para se obter porra nenhuma).
Eu, por mim, quero que o sofrimento se foda...
... e não faço sacrifícios para ser feliz!
Beijinhos.
maria, eu até acho que isto do sofrimento é uma herança cristã... :)
lizard king, concordo que as religiões ocidentais são uma merda, sim. :)
heidy, saboreia então... sem sofrer. :)
joana dias, é muito religiosa, sim... e por isso é que vai demorar séculos a acabar com ela. eu por mim acabo já. :) jinhos
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