o meu pai sempre bateu na minha mãe
Uma leitora anónima, a quem agradeço, deixou este comentário neste blogue. E porque a pressão social tem que envergonhar o agressor e não o agredido, é sempre boa altura para falar deste tema...
O meu pai sempre bateu na minha mãe, desde que me lembro, era mau e em vezes que ela tentou fazer queixa à polícia os próprios polícias retraiam-se e diziam que entre marido e mulher...e a minha mãe com a boca toda ensanguentada, a levar pontos, as nódoas negras constantes, o olho que passou a ver menos bem, etc etc. Chegou ao ponto de lhe encostar uma arma à cabeça, chegou ao ponto de disparar e só falhar por estar demasiado bêbado. E eu cresci também a ser espancada, também a ser humilhada, sem que ninguém nada fizesse por mim. Lembro-me da coisa mais revoltante que ele me fez, obrigou-me a estar a cerca de 5 metros dele parada e em pé enquanto me atirava batatas e cebolas que tinha junto a si, depois obrigava-me a apanhar tudo, devolver-lhe para mas voltar a atirar. Lembro-me das noites em que me acordava para me bater, dos pontapés que me dava...lembro-me de dormir dentro do guarda-roupa toda tapada para me sentir protegida. Lembro-me de me chamar estúpida, de dizer que eu era uma merda, ah e também me lembro de me bater com a parte de cabedal da trela do cão, com um chinelo de plástico duro que me deixava vergões durante dias. Lembro-me depois de já em adulta estar grávida e ter reagido menos bem contra o senhor que me ameaçou dar-me um pontapé na barriga porque eu recusei abortar. E fui eu que tive problemas em tribunal e fui eu que saí a perder, porque o que ele disse nada conta. Puta de vida, vida filha da puta.
46 comentários:
Puta de vida mesmo!
Maria João
P.S. Cada vez gosto mais de te "ler"...obrigada por fazeres parte dos meus dias...
Quando há apresentação de queixa de violência doméstica num posto da GNR, o acusado de agressão é chamado para prestar declarações.
Se nega, o caso só segue para tribunal se a vítima conseguir testemunhas dos maus tratos. Sejam físicos ou verbais.
Quantos agressores o fazem publicamente? Normalmente não é dentro de quatro paredes?
E quanta mais coragem é pedida à vítima, para ter que tratar dum processo que já lhe dói demasiado?
Porque não pensam as instituições nas dificuldades que as vítimas têm em admitir que são vítimas?
Quais psicólogos de ajuda? Estes casos têm que ter ajuda directa. Com acção interventiva. Fazer pela vítima o que ela ficou incapaz de fazer, que se encontra diminuída psicologicamente pelo agressor.
A apatia é o melhor estado de fugir à dor.
maria João, obrigado. eu gosto de te ter aí. :)
joaninha versus escaravelho, isso é verdade... e se hoje até já há alguns elementos das forças de intervenção sensibilizados para esta problemática, até há pouco tempo não havia. às vezes esquecemo-nos que ainda há trinta e poucos anos a mulher só podia sair do país com autorização do marido, por exemplo. :)
e inda por vezes culpabilizam a vítima porque não sai de casa simplesmente poque não quer????????? Tretas, merdas, desculpa o termo mas este tema deixa-me fora de mim!!!!!
Abraço
Tixa
Há trinta e poucos anos foi o "25 de Abril", não foi?
Devia haver mais trabalho de evolução.
Pela nossa parte. Povo.
Mas fomos habituados a não pensar durante muito tempo, não foi?
Quarenta e muitos anos...
Ainda há muito a fazer.
Estou chocada com este testemunho. Realmente é mesmo uma puta de vida.
Ó bagaço, diz-me lá, sem preconceitos e recorrendo ao mais elementar sentido de justiça, se há outra forma de combater esta merda que não seja a tiro.
Cabrões como este fazem alguma falta à sociedade?!?!
Obrigada por ter publicado o meu testemunho que tentei que fosse curto embora as memórias sejam tantas e incrivelmente cruéis...É engraçado que até aos meus 16 anos eu não achava que o que passava lá em casa era violência doméstica, pensava que só as mulheres que morriam é que eram as verdadeiras vítimas. Na verdade, pensava que todos os meus colegas na escola tinham pais assim, demorei muito até perceber que nem todos os pais batem nas mulheres e nos filhos. E das coisas que mais me comove hoje em dia é ver um homem pegar num filho ao colo e beijá-lo e ver que a criança não tem medo, que se agarra também e que está feliz por o abraçar, coisa que a mim nunca aconteceu...enfim, mais uma vez obrigada.
Este é o ano da luta contra a violência doméstica (incluindo relações de namoro), eu não sabia que esta problemática apenas tinha surgido este ano :/
O velho ditado "entre marido e mulher não se mete a colher" continua a predominar até nos espaços mais diferenciados, porque é dificil que a vitima não recue na sua acusação, porque a mulher muitas vezes está dependente financeiramente e assusta sair da "zona de conforto" (mesmo que a zona seja de guerra e origine sempre mutilações) e infelizmente também, porque a mulher acumula um processo de culpabilização que a deixa sempre angustiada a pensar: se calhar posso fazer diferente, posso ser melhor e não consegue perceber que para o abusador nunca será suficiente ou mais ou menos, porque ele apenas agride porque é um cobarde social. É o tipo com ar de totó, bom vizinho, simpatico e prestavel que anda sempre coma mulher (já não estou a mencionar os agressores com delirio alcoolico cronico ou de zonas desfavorecidas e pouco diferenciadas)...falo da classe média, que apresenta uma vida perfeita, tão perfeita que até isso serve para manter a "escrevidão" da mulher que prometeram "amar e respeitar na saude e na doença". Não quero virar isto par o religioso, mas constato inumeras vezes no meu quotiano, que até para os próprios tecnicos é desgastante organizarem veradeiros planos de "fuga" e depois a vitima "dar uma ultima oportunidade". Não serão todos os casos assim, mas muitos infelizmente tem de chegar ao limite para a mulher perceber o seu valor. E já nem vou falar da violência doméstica exclusivamente de agressão psicologica e humilhação (publica e privada).
A violência acontece porque o oprimido oprime quem considera mais fraco e porque a vitima (mulher) é um ser sentimental de instintos maternais que acredita (por vezes até á morte) que é possivel mudar quem se ama...a certa altura já nem se ama mas já não se acha a porta de saída.
porra... que estupor... um abraço imenso à anónima e a ti bagaço por publicares.
Olá..venho a este blog quase todos os dias porque me diverte, e porque por vezes aborda temas como este, q me é tão próximo.
Concordo q devia haver mais intervenção, mas a verdade é que sem o apoio da vítima, é impossível.
Eu, de momento estou a trabalhar nesta área, e se muita gente quer ajudar estas pessoas, estas pessoas têm que querer ser ajudadas. "Porque ele antes não era assim", "é do stress", "é do álcool", "é do benfica ter perdido o jogo", "é do jantar que ficou queimado".
Quando há menores envolvidos é relativamente fácil intervir, é um crime público.
Quando as vítimas se recusam, por medo, por vergonha, não há nada que se possa fazer. Aliás, muitas delas gostariam de fazer alguma coisa, mas a verdade é q a primeira coisa que os agressores fazem é isolá-las de toda a gente. Quando elas se vêm cobertas de nódoas negras e uma série de ossos partidos, junto com a auto-estima, não têm ninguém a quem pedir ajuda.
E as q conseguem pedir ajuda, não fazem ideia do esforço que os técnicos fazem para as ajudar.
Eu moro na zona do algarve, e aqui as condições para ajudar estas pessoas são mínimas. Abrigos quase não existem, apoios quase não existem, apoios públicos são muito perto do 0. A título de exemplo, neste momento, há UM psiquiatra a trabalhar no público, na região de Faro. As condições que temos são as criadas por nós, é a nossa "máfia", como gostamos de chamar.
Isto só para dizer q, sem a vítima, não há sequer caso, e mesmo com a vítima é muitas vezes um caso bicudo.
Muitos parabéns pelo blog, e pelo desculpa aqui pelo testamento!
beijo
o álcool e a falta de educação são duas heranças pesadíssimas para a nossa sociedade. é muito pesado, muito complicado ser a parte fraca nos dias que correm, porque ninguém te vê. Pura e simplesmente. Há uns anos atrás as coisas eram diferentes, piores, porque tudo era tolerado sob a capa do pseudo-brando-costume. Este caso é o paradigma disto que escrevo.
Tenho esperança que um dia esses animais sejam uma espécie extinta de vez.
Peço-lhe autorização para publicar no meu blogue o seu texto na integra
Toda a gente precisa de saber que ainda há animais ... e falam
Com blogs de ver
http://lfm-gamados.blogspot.com/
Um abraço
PS-Já publiquei antes de vc me autorizar contudo se vir algo contra diga que eu apago
Deus meu...
Que horror!!!..não há palavras :(
não tencionava chorar hoje...mas ao ler este post foi inevitavél...
Abraços
A possibilidade de violência masculina é um dado adquirido para quase todas as mulheres. O pai da tua leitora não é a excepção... Espero que ela tenha conseguido sair do guarda-roupa entretanto...
Eu também fui vítima de vários tipos de violência masculina familiar e social. Não conto pormenores aqui mas já os consegui contar...demorei mais de 30 anos a fazê-lo, algumas de nós NUNCA conseguem contar!
"É Natal, é Natal..."!
N.
Ah, a pressão social não envergonha os homens, apenas os faz esconder melhor...O que pode fazer a diferença é o exemplo diário que todos nós como adultos podemos dar às crianças. Os adultos... já é demasiado tarde.
N.
epa, algumas pessoas deviam era ser capadas...
Estou escandalizada com essa :"ainda há trinta e poucos anos a mulher só podia sair do país com autorização do marido, por exemplo."
Deixa-me sem palavras... :(
essa foi um dos tipos de violência permitida durante anos, mais do que permitida quase encorajada. é tempo do silêncio dar lugar à denúncia e da denúncia dar lugar ao castigo. e um castigo exemplar.
para a leitora anónima deixo um beijo cheio de carinho e coragem. quebrar o processo onde a violência é o único caminho é dificil, muito complicado. procurar a paz dentro de nós ajuda a acalmar a dor. mas é uma dor que fica. sempre. quando o agressor é quem nos deveria proteger todo o sentido se perde. ficamos entregues a nós mesmos. e a solidão é muito triste.
eu acho que a melhor maneira de combater isto é mimar e atafulhar de amor os nossos filhos, mostrar a nós proprios que existe outro caminho e que somos capazes de o percorrer.
Vergonha..sem mais palavras
besitoo
Lamento ter uma opinião, vivida, diferente. A justiça não responde com a celeridade que devia.
Muito triste!
Ainda no outro dia ouvi uma notícia em que um homem tinha sido condenado por abusos físicos e verbais infligidos à mulher durante anos a fio, o tribunal decretou que como ele não tinha forma de sustentar uma casa, passaria a cohabitar de novo com ela! :(
Infelizmente esta também é uma realidade, a da injustiça!
infelizmente conheço esta realidade na pele...foi ela que me tirou o gosto pela infancia... não dormia no roupeiro, mas passava os serões na cozinha sozinha debaixo de uma cortina...
isto é mesmo muito triste!!:'(
Quando leio ou ouço relatos como este o único desejo que tenho é que filhos da puta como este morram.
Se calhar é pecado, se calhar até vou para o inferno por causa disso. Paciência.
Esta terrível história reflecte milhares de histórias, por vezes tão perto de nós. Algumas vezes são as próprias mulheres que, numa auto-estima de rastos, acham normal que isso aconteça. Já era assim com os seus pais, avós, irmãs... e por diante! Obrigada por nos lembrares...
Testemunhos destes dão o soco no estômago que, apesar de tudo, às vezes ainda precisamos. :(
O meu ex-marido bateu-me pela primeira vez um dia em que estávamos a discutir e ele não tinha mais argumentos. Só que eu não me fiquei, nem fugi, nem fui à polícia, nem me queixei a ninguém, mas bati-lhe também. Enquanto estivemos casados andámos à porrada muitas vezes. Eu nunca comecei, e ficava em pior estado, mas ele também não se ficava a rir.
E não era só o bater. Eram os insultos idiotas e gratuitos, o chamar-me gorda quando isso é coisa que nunca fui, o não fazer nenhum e não se poder falar com ele.
Hoje em dia penso muitas vezes na nova mulher dele. Será que ele também lhe bate? E será que ela se fica? (mas vai ficando...)
tixa, de acordo. :)
joaninha versus escaravelho, é verdade... então façamos. :)
cristina, é verdade... mas podemos sempre mudar. :)
jg, sim... ainda há dias falava disso. às vezes percebo que uma pessoa mate outra. :)
anónima, eu é que te agradeço e, sinceramente, acho que és capaz de sair do armário e talvez ajudar mais pessoas a sair. :)
Lizard King, obrigado pela tua colaboração. Interessante... e sim, isto não depende do estrato social ou econónico. :)
that's all folks, obrigado eu, por estares aí. :)
joana, obrigado pela tua colaboração. percebo perfeitamente o que dizes... e acho que um dos passos que tem que ser dado é precisamente a vítima não sentir vergonha e colaborar. :)
cesar, é o crime escondido, sim... mas as coisas não estão a melhorar... este ano já morreram dezenas de mulheres vítimas de violência doméstica no nosso país. :)
hope, eu também. :)
luis mais, obrigado pela colaboração. :)
A Pão! .. e A Chourico!, :)
fá, :)
lostinthoughts, chorar não é uma vergonha. é saudável, até. :)
N. tens razão... mas a pressão social só não envergonha os homens por causa de casos como este serem "normais"... têm que deixar de o ser. :)
Jo, nem mais. :)
miss G, é verdade. Para o esatdo Novo a mulher não era ninguém. :)
subtilezas, bonito, o teu texto... e é verdade :)
cexy, exacto :)
anónima, eu concordo contigo... :)
selita, sim... este tem sido um tema mal tratado pela Justiça... mas acredito que tb seja difícil. por isso é que é preciso a intervenção da sociedade civil. :)
sendyourlove, infelizmente... é verdade. e já não me espanta que apareçam mais pessoas com histórias assim. :)
bia, pois é... então não tapemos os olhos ao que está ao nosso lado. :)
olga, não te preocupes, tenho a certeza que o inferno é bem melhor do que o céu... quem é que raio quer estar acompanhado por anjos assexuados? :)
lita, é verdade. e isto não pode ser um tema tabu em altura nenhuma. :)
salseira, é isso mesmo :)
anónima, sim... mas eu acho sempre que se deve apresentar queixa, para fins estatísticos e para pressionar o agressor. :)
tixa, de acordo. :)
joaninha versus escaravelho, é verdade... então façamos. :)
cristina, é verdade... mas podemos sempre mudar. :)
jg, sim... ainda há dias falava disso. às vezes percebo que uma pessoa mate outra. :)
anónima, eu é que te agradeço e, sinceramente, acho que és capaz de sair do armário e talvez ajudar mais pessoas a sair. :)
Lizard King, obrigado pela tua colaboração. Interessante... e sim, isto não depende do estrato social ou econónico. :)
that's all folks, obrigado eu, por estares aí. :)
joana, obrigado pela tua colaboração. percebo perfeitamente o que dizes... e acho que um dos passos que tem que ser dado é precisamente a vítima não sentir vergonha e colaborar. :)
cesar, é o crime escondido, sim... mas as coisas não estão a melhorar... este ano já morreram dezenas de mulheres vítimas de violência doméstica no nosso país. :)
hope, eu também. :)
luis mais, obrigado pela colaboração. :)
A Pão! .. e A Chourico!, :)
fá, :)
lostinthoughts, chorar não é uma vergonha. é saudável, até. :)
N. tens razão... mas a pressão social só não envergonha os homens por causa de casos como este serem "normais"... têm que deixar de o ser. :)
Jo, nem mais. :)
miss G, é verdade. Para o esatdo Novo a mulher não era ninguém. :)
subtilezas, bonito, o teu texto... e é verdade :)
cexy, exacto :)
anónima, eu concordo contigo... :)
selita, sim... este tem sido um tema mal tratado pela Justiça... mas acredito que tb seja difícil. por isso é que é preciso a intervenção da sociedade civil. :)
sendyourlove, infelizmente... é verdade. e já não me espanta que apareçam mais pessoas com histórias assim. :)
bia, pois é... então não tapemos os olhos ao que está ao nosso lado. :)
olga, não te preocupes, tenho a certeza que o inferno é bem melhor do que o céu... quem é que raio quer estar acompanhado por anjos assexuados? :)
lita, é verdade. e isto não pode ser um tema tabu em altura nenhuma. :)
salseira, é isso mesmo :)
anónima, sim... mas eu acho sempre que se deve apresentar queixa, para fins estatísticos e para pressionar o agressor. :)
tixa, de acordo. :)
joaninha versus escaravelho, é verdade... então façamos. :)
cristina, é verdade... mas podemos sempre mudar. :)
jg, sim... ainda há dias falava disso. às vezes percebo que uma pessoa mate outra. :)
anónima, eu é que te agradeço e, sinceramente, acho que és capaz de sair do armário e talvez ajudar mais pessoas a sair. :)
Lizard King, obrigado pela tua colaboração. Interessante... e sim, isto não depende do estrato social ou econónico. :)
that's all folks, obrigado eu, por estares aí. :)
joana, obrigado pela tua colaboração. percebo perfeitamente o que dizes... e acho que um dos passos que tem que ser dado é precisamente a vítima não sentir vergonha e colaborar. :)
cesar, é o crime escondido, sim... mas as coisas não estão a melhorar... este ano já morreram dezenas de mulheres vítimas de violência doméstica no nosso país. :)
hope, eu também. :)
luis mais, obrigado pela colaboração. :)
A Pão! .. e A Chourico!, :)
fá, :)
lostinthoughts, chorar não é uma vergonha. é saudável, até. :)
N. tens razão... mas a pressão social só não envergonha os homens por causa de casos como este serem "normais"... têm que deixar de o ser. :)
Jo, nem mais. :)
miss G, é verdade. Para o esatdo Novo a mulher não era ninguém. :)
subtilezas, bonito, o teu texto... e é verdade :)
cexy, exacto :)
anónima, eu concordo contigo... :)
selita, sim... este tem sido um tema mal tratado pela Justiça... mas acredito que tb seja difícil. por isso é que é preciso a intervenção da sociedade civil. :)
sendyourlove, infelizmente... é verdade. e já não me espanta que apareçam mais pessoas com histórias assim. :)
bia, pois é... então não tapemos os olhos ao que está ao nosso lado. :)
olga, não te preocupes, tenho a certeza que o inferno é bem melhor do que o céu... quem é que raio quer estar acompanhado por anjos assexuados? :)
lita, é verdade. e isto não pode ser um tema tabu em altura nenhuma. :)
salseira, é isso mesmo :)
anónima, sim... mas eu acho sempre que se deve apresentar queixa, para fins estatísticos e para pressionar o agressor. :)
deixei a minha singela opinião que, embora seja, talvez, "brejeira" é sincera e bem pensada no post anterior...
sinceramente, são situações como esta que me fazem não querer ser humano, são situações como esta que me leva a gostar cada vez mais dos animais, são situações como a deste país (eu sei que há outros mas falemos do nosso) que me levam a ter vergonha de ser português, são situações como esta que certamente me levariam para detrás de umas grades durante bons anos se alguém da minha família sofresse de tal castigo, ou, a coisa bem falada, se fosse mesmo um familiar meu a ser o fdp que agredia, verbal ou fisicamente...
se acreditasse, pedia a um deus qualquer para tal nunca me acontecer...
FDP...são as palavras que me ocorrem!! (em pensamento digo: foda-se)
ganda filha da puta, era espetá-los todos.
O caso é comovente. Infelizmente há milhares de casos identicos. de qualquer forma devo dizer que, actualmente, em termos judiciais, as coisas já começaram a mudar. O processo segue sempre para julgamento, pois já não admite desistência de queixa. Na verdade, a maioria das vezes, a vitima acaba por perdoar - porque perdoa mesmo por amor, ou porque a sua situação económica assim o impõe - e isso levava ao arquivamento do processo, coisa que hoje já não é possível. Porém, de facto, como já alguém aqui escreveu,tudo se passa dentro de 4 paredes e a prova é difícil. É necessário que a vítima se dirija a um centro de saúde e peça relatórios, tire fotografias aos hematomas e arranje testemunhas que digam, se for preciso, estava lá e vi(é para isso que servem os amigos e a família- a mentira, neste caso é abençoada). Muitos estão hoje a ser condenados, embora não tantos quantos deveriam ser.
Esqueci-me de referir que os filhos podem fazer a participação judicial de maus tratos do pai á mãe ou da mãe ao pai e podem ser testemunhas. Até os vizinhos ou outros familiares podem participar o crime, pois trata-se de um crime público.
Queria apenas deixar aqui o meu voto de solidariedade para com a tua leitora que deixou um testemunho impressionante que, pelo que podemos comprovar na leitura dos comentários a este post, são uma realidade palpável que se estende por todo o lado e que abrange ambos os sexos, todas as camadas sociais e todas as faixas etárias.
Temos aqui um exemplo real de uma situação cruel que ainda é muito depreciada/desvalorizada na nossa sociedade que, diga-se de passagem, apesar de se considerar de brandos costumes, na realidade é uma sociedade que prefere fechar os olhos ao que acontece na porta ao lado, ou então que gosta apenas de comentar com os outros no dia seguinte que "o vizinho do rés-de-chão direito deu forte ontem na mulher e chamou-lhe os nomes tais tais e tais".
Por sua vez, a mulher/homem sente-se obrigada(o) a ficar e a ficar e, por diversos factores, que passam pelo medo de ficar sozinha, pela dependência psicológica que se cria ou até mesmo por ter de viver no limiar da pobreza, vê-se submetido a toda a espécie de torturas físicas e psicológicas, porque não é apenas o olho que passa a ver menos bem, é toda uma personalidade que fica completamente devastada e que, uma vez livre da prisão/relacionamento com um agressor, demorará anos e anos a ser recuperada, dificilmente sem qualquer ajuda.
Depois também temos a transmissão de modelos para os próprios filhos. Claro que a partir de uma certa idade todos nós temos autonomia suficiente para pensar e desenvolver a nossa personalidade. O problema estará obviamente em considerar todo esse conjunto de comportamentos perfeitamente normais e, falo por experiência própria, abstrair-nos dos nossos modelos e criar os nossos é um desafio tremendo. Em regra, ou queremos seguir os modelos que nos propuseram ou queremos contrariá-los em absoluto. Mas temos sempre por bases esses modelos que nos foram transmitidos. É aqui que considero que se encontra o momento originário do ciclo vicioso de quase todos os casos de violência doméstica.
Finalmente o problema do Silêncio. O Silêncio permite a impunidade na prática desses crimes. Permite que a Sociedade (o que nos inclui) permaneça indiferente ao problema da violência doméstica, não optando pela concretização de medidas concretas de protecção da vítima, considerando-se desresponsabilizada pelo que acontece dentro de 4 paredes. Aliás, o que tem de acontecer quase sempre é que a vítima é que tem de se esconder por trás de uma máscara branca do medo e de uma voz distorcida pelo desespero.
E sim, o sistema judicial (e aqui refiro-me às entidades policiais, aos juízes, aos advogados, etc) também têm a sua quota-parte de culpa. Os processos chegam a durar anos, não são bem conduzidos e servem ainda mais para deixar as vítimas numa situação de desespero e de exposição. Sem esquecer que muitas vezes a prova é muito difícil de obter nestes casos, sendo que, quase sempre, tudo acontece dentro de casa e, mesmo existindo testemunhas, a maior parte das pessoas prefere abster-se de meter a colher. Para além dos próprios atestados médicos que muitas vezes são deturpados porque a vítima preferiu manter-se calada com medo de represálias por parte do(a) companheiro(a).
Ah..E só para efeitos de estatística. Em Novembro deste ano já tinham morrido 43 mulheres vítimas de violência doméstica..
Bjos,
Carminda
Queria apenas deixar aqui o meu voto de solidariedade para com a tua leitora que deixou um testemunho impressionante que, pelo que podemos comprovar na leitura dos comentários a este post, são uma realidade palpável que se estende por todo o lado e que abrange ambos os sexos, todas as camadas sociais e todas as faixas etárias.
Temos aqui um exemplo real de uma situação cruel que ainda é muito depreciada/desvalorizada na nossa sociedade que, diga-se de passagem, apesar de se considerar de brandos costumes, na realidade é uma sociedade que prefere fechar os olhos ao que acontece na porta ao lado, ou então que gosta apenas de comentar com os outros no dia seguinte que "o vizinho do rés-de-chão direito deu forte ontem na mulher e chamou-lhe os nomes tais tais e tais".
Por sua vez, a mulher/homem sente-se obrigada(o) a ficar e a ficar e, por diversos factores, que passam pelo medo de ficar sozinha, pela dependência psicológica que se cria ou até mesmo por ter de viver no limiar da pobreza, vê-se submetido a toda a espécie de torturas físicas e psicológicas, porque não é apenas o olho que passa a ver menos bem, é toda uma personalidade que fica completamente devastada e que, uma vez livre da prisão/relacionamento com um agressor, demorará anos e anos a ser recuperada, dificilmente sem qualquer ajuda.
Depois também temos a transmissão de modelos para os próprios filhos. Claro que a partir de uma certa idade todos nós temos autonomia suficiente para pensar e desenvolver a nossa personalidade. O problema estará obviamente em considerar todo esse conjunto de comportamentos perfeitamente normais e, falo por experiência própria, abstrair-nos dos nossos modelos e criar os nossos é um desafio tremendo. Em regra, ou queremos seguir os modelos que nos propuseram ou queremos contrariá-los em absoluto. Mas temos sempre por bases esses modelos que nos foram transmitidos. É aqui que considero que se encontra o momento originário do ciclo vicioso de quase todos os casos de violência doméstica.
Finalmente o problema do Silêncio. O Silêncio permite a impunidade na prática desses crimes. Permite que a Sociedade (o que nos inclui) permaneça indiferente ao problema da violência doméstica, não optando pela concretização de medidas concretas de protecção da vítima, considerando-se desresponsabilizada pelo que acontece dentro de 4 paredes. Aliás, o que tem de acontecer quase sempre é que a vítima é que tem de se esconder por trás de uma máscara branca do medo e de uma voz distorcida pelo desespero.
E sim, o sistema judicial (e aqui refiro-me às entidades policiais, aos juízes, aos advogados, etc) também têm a sua quota-parte de culpa. Os processos chegam a durar anos, não são bem conduzidos e servem ainda mais para deixar as vítimas numa situação de desespero e de exposição. Sem esquecer que muitas vezes a prova é muito difícil de obter nestes casos, sendo que, quase sempre, tudo acontece dentro de casa e, mesmo existindo testemunhas, a maior parte das pessoas prefere abster-se de meter a colher. Para além dos próprios atestados médicos que muitas vezes são deturpados porque a vítima preferiu manter-se calada com medo de represálias por parte do(a) companheiro(a).
Ah..E só para efeitos de estatística. Em Novembro deste ano já tinham morrido 43 mulheres vítimas de violência doméstica..
Bjos,
Carminda
isto de facto é uma historia da vida que toca, pois sao episodios que acontecem na infancia, e marcam, traumatizam, e influenciam uma pessoa para o resto da vida na sua socializaçao com os outros tambem.
..gostaria de saber se o autor dá autorizaçao para postar o seu desabafo no meu blog.
sungod, eu cá continuo a preocupar-me mais com pessoas do que com animais. :)
blankpage/carminda, obrigado. :)
casquinho, estou contigo. :)
missionária, obrigado. :)
reflexos da alma, não me parece que a autora, anónima, tenha alguma coisa contra. :)
Não sei se conhecem este anúncio sobre este assunto:
http://www.youtube.com/watch?v=wpgV53UpJSY
si, não conhecia. muito bem feito. obrigado. :)
Uma amiga minha, professora, a fazer uma pós-graduação. O marido, engenheiro de profissão, bate-lhe pela primeira vez quando estava grávida. Muitas lambadas e marcas depois, deixou-nos ajudá-la. Ou melhor, começou a falar e percebeu que o que dizia ('a culpa é minha') não fazia sentido nenhum, era apenas resultado de uma metódica lavagem cerebral. Por ela passam as vítimas de violência doméstica em primeiro lugar. É assim (e por isso) que acabam dominadas.
Nasce o filho, alguns meses depois acaba na rua uma noite de chinelos, calções e tshirt de alças. Sem o filho. A chorar baba e ranho numa esquadra, onde me telefonou a pedir ajuda. Refugiou-se em casa dos pais, andou fugida com o filho que o marido lhe queria tirar. Voltou, tentou salvar o casamento. Porque 'olha agora divorciares-te! Que vergonha!'
Acabou de novo maltratada. Mais um telefonema, mais um pedido de ajuda. Agora para ir com ela ao hospital. E só assumiu a separação a seguir, porque, horrorizada, ouviu da boca do filho de dois anitos a descrição do que tinha acontecido na noite anterior.
Hoje casou de novo, é feliz. E eu ficarei sempre feliz por a ter ajudado. Mas há muitas que não têm ninguém que as ajude. E que, por isso, não acabam bem. Este assunto aperta-me sempre o coração...
mf, obrigado por mais este testemunho... já assisti a uma história similar... :)
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