12.09.2008

das pessoas que ficam

Das pessoas que ficam. Ontem uma amiga falava-me das pessoas que ficam. As pessoas que amamos por uma vida, um ano, um mês, um dia, uma hora ou um minuto são as que ficam sempre. Mesmo quando o sentimento que vem a seguir é ódio em vez de amizade. É que tal como a amizade, o ódio é um sentimento forte, impossível de sentir por quem não significa nada para nós.
Das pessoas que ficam resta sempre muito, ainda que às vezes pareça pouco. Porque se um gesto tão simples como lamber a colher de café depois de o mexer nos pode parecer pouco, é muito quando nos habituamos a vê-lo em alguém todos os dias e ele desaparece abruptamente.
Quem me disse isto definiu o amor como um bicho difícil de alimentar. Talvez seja verdade, sei lá. Se for é também por isso que o amor nunca é só uma passagem. É um capital que carece de manutenção e de investimento. E não faz mal alimentar continuamente um bicho se ele não nos morder...

20 comentários:

Mulheka disse...

Eh lá.... Parece-me que afinal tens uma amiga normal LOL

Anónimo disse...

"O amor como um bicho difícil de alimentar" ... :)
Ainda hoje pensei meio com tristeza sobre isto. Cheguei, de certo modo, à conclusão que, mais do que díficil, o amor é algo em que muitas vezes não se está disposto a investir... Porque requer disponibilidade e entrega, correndo-se ainda o risco de se ser magoado...
É muitas vezes preferivel viver relações ocasionais, satisfazendo desejos imediatos, que quando não nos dão prazer criam vazios...
Quando não os criam, é bom viver em pleno essas ocasiões, mas quando o vazio se instala, se calhar não é sexo que se quer mas afecto e esse requer entrega e investimento...

Ivar C disse...

mulheka, tenho mais do que uma. :)

sónia, concordo... mas nós não costumamos mandar em nós próprios. :)

Hipatia disse...

Sabes, não precisa ser sempre por entre fel. Eu não duvido que as pessoas ficam: os meus amores - todos eles, os maiores e os nem por isso - ficaram sempre. Ficaram e estão. O amor, como tudo o mais, passa. Ou, pelo menos, todos os meus amores têm passado, melhor ou pior, enquanto se transformam no que vem depois do amor. No meu caso - mas talvez eu seja uma sortuda - transformaram-se em amizades, daquelas que ficam sempre, como as pessoas por quem as sinto. E é amor ainda, só que um amor em paz, feito da partilha do que fomos e do que queremos continuar a ser, mantendo na nossa vida aqueles que nos fizeram chegar a onde estamos, a ser como somos, o que somos. Não me permito amputar a vida dos meus antigos amores. Não ia gostar do vazio de já não ter essas pessoas a quem quis tanto, só porque a forma como os quero ou como me querem mudou.

joaninha versus escaravelho disse...

Este comentário de que nós não costumamos mandar em nós próprios, é verdade. Mas claro que mandamos! Quem poderia mandar mais?? E sim, refiro-me a sentimentos. O Amor cultiva-se e para ele existir temos que lhe dar espaço dentro de nós. Podemos sempre fechar-nos a sentimentos desse tipo e reencaminhar a necessidade de amar para outras coisas. Por exemplo, dedicarmo-nos ao amor ao próximo. À solidariedade. Claro que é um exercício difícil... e uma questão de opção, que reconheço rara e que depende muito das circunstâncias da vida. Mas que é possível, é. Começo mesmo a pensar que amar alguém é uma opção... :/ É uma dedicação...
A paixão? Isso são impulsos químicos que nos "chamam" para a procriação :)

Unknown disse...

O que verdadeiramente importa, é viver intensamente os momentos que a vida nos proporciona, aproveitar as pequenas/grandes "coisas" e ser feliz. São estas pequenas/grandes "coisas" que no final ficam presentes, gravadas na nossa memória. Não lamentar o que foi, mas sim o que ficou.bj

Ivar C disse...

hipatia, é bem verdade... e eu estou contigo nessa perspectiva. :)

joaninha versus escaravelho, de facto mandamos em nós mesmos, mas nem sempre obedecemos às nossa próprias ordens. A paixão é isso, sim, mas não só. Esse é o lado biológico da coisa, não é o lado cultural, por exemplo. :)

bela isabel, sim... a lamentação não é nunca a melhor maneira. :)

Anónimo disse...

O pior de tudo é quando o amor chega ao fim, e por mais que tentemos não conseguimos esquecer esses pequenos gestos...alguns deles até nos irritavam...

joaninha versus escaravelho disse...

Vivemos no mesmo tipo de sociedade com uma cultura muito idêntica e podemos ter pontos de vista diferentes sobre o que é o Amor. Não vejo a minha atitude perante o Amor como uma parte cultural. Quanto ao Amor a cultura "fala" de relações. Ou impõe... A não ser que a palavra cultura seja abranjida pelas vivências da vida e não tenha só a ver com "sociedade". A minha atitude perante o Amor já passou por várias fases e passará por mais algumas provavelmente. Neste momento ando numa fase racional. Não estou de acordo com o ter que alimentar o Amor e ainda por cima que seja uma tarefa árdua. O Amor não implica necessariamente uma relação de compromisso.
Pode ser unilateral. Platónico.
Há tanto tipo de Amor... Submisso, castrador... É muito subjectivo.
E não podemos esquecer que podemos fazer a análise sob vários pontos de vista e nunca escrever aqui aquilo que realmente pensamos :). O que deixa ainda muito para dizer sobre o Amor...

Anónimo disse...

"E não faz mal alimentar continuamente um bicho se ele não nos morder..."

Concordo totalmente! O pior é quando o bicho morde e nós não vemos o mal que nos está a fazer e disfarçamos a mordedura...

Salseira disse...

Mandamos muito mais em nós do que aquilo que pensamos... :)

Chegar a esta conclusão pode ser um processo doloroso: "Poça! Então eu sou co-responsável por isto de mau que me aconteceu?!".

Mas quando chegamos a ela, estamos a meio caminho de encontrarmos a verdadeira felicidade. Esta está nas pequenas coisas, nos pequenos momentos que, de repente, e sem esperarmos se transformam em "momentos perfeitos"... que de perfeição pouco têm... :D

Cada pessoa que fez parte da nossa vida fica sempre... as que não ficam... pergunto-me se algum dia fizeram realmente parte de um bocadinho de nós...

Ivar C disse...

fá, lol. esse é outro ângulo... :)

joaninha versus escaravelho, sim, eu percebo-te. eu vejo-o também como uma questão cultural, pelo simples facto de, por exemplo, ser monogâmico. concordo que alimentá-lo não pode ser uma tarefa árdua. :)

zeni, verdade... é por isso que temos que crescer e perceber isso. :)

salseira, eu se calhar nunca tive experiência realmente más... :)

Anónimo disse...

Hipatia - "E é amor ainda, só que um amor em paz, feito da partilha do que fomos e do que queremos continuar a ser, mantendo na nossa vida aqueles que nos fizeram chegar a onde estamos, a ser como somos, o que somos. Não me permito amputar a vida dos meus antigos amores." - Gostei de ler! É tão assim que sinto as coisas... :)

Salseira - "Mandamos muito mais em nós do que aquilo que pensamos..." Também penso assim!

(Perdoem-me a ousadia de comentar os comentários de quem comenta os posts deste blog, mas não resisti, muito por considerar interessante a partilha de opiniões sobre muitos dos temas que Bagaço Amarelo propõe. Para mim é sempre enriquecedor conhecer outras opiniões, para além da das pessoas que nós conhecemos, sendo, para mim, esta a grande mais valia deste blog, para além, claro está, do humor muito peculiar inerente aos vários posts que me diverte.)

Ivar C disse...

sónia, não peças perdão... eu gostei. :)

joaninha versus escaravelho disse...

Acho que anda por aí a moda de relações a três. E são independentes do sexo. Quero dizer, podem ser dois homens e uma mulher ou duas mulheres e um homem. E podem vicer todos juntos ou não...
Não cheguei a perceber se és a favor ou contra a monogamia.
Cá na Serra, costumamos dizer aos amigos que são assim hmmm como explicar, "fora da cultura": És um modernaço! :)

Ivar C disse...

joaninha versus escaravelho, eu já falei do poliamor que, basicamente, é amor ao número de pessoas que muito bem te apetecer. acho a ideia interessante... eu é que me sinto monogâmico, talvez por questões culturais... mas acho muito bem que hajam relações a três, a quatro ou até a vinte... :)

joaninha versus escaravelho disse...

percebi :) e também é assim que penso. Possivelmente pelas mesmas questões culturais que tu tens. Que chatice. Não somos uns modernaços :)
Adoro este termo!! :D

Ivar C disse...

joaninha versus escaravelho, eu também gosto do termo "modernaço". é uma forma de dizer moderno sem ser uma alusão ao modernismo. mas não me importo de não ser porque gosto do modernismo :)

joaninha versus escaravelho disse...

Nem está muito mal explicado... Chama-se "Love is not all you need"

http://www.psychologytoday.com/rss/index.php?term=20030213-000002&page=1

Ivar C disse...

joaninha versus escaravelho, ena... parece giro. vou ler. :)