respostas a perguntas inexistentes (16)
O baloiço oscila ao vento.
Eu costumava jogar futebol com os pacotes de leite vazios que sobravam do lanche da escola. Uma vez, por engano, chutei um que ainda estava cheio e sujei as calças. Deu-me para chorar, e aos outros para rir. Ela deu-me a mão e levou-me para a sombra das únicas duas árvores que viviam ali, e nem soube o quão longe elas estavam dos que riam. Ou então soube, e o bem que me fez. Depois passámos a dar as mãos todos os dias. Porque éramos crianças nunca houve sexo. Deve ser por isso que ainda a amo, e também porque nunca mais a vi, e por isso, ao contrário de todos os outros, ela nunca cresceu.
O baloiço oscila ao vento.
Depois os que riam passaram a chamar-nos namorados. Às vezes atiravam-nos uma pedra que nunca acertava e fugiam. Começámos a sair da escola durante o intervalo grande, que era de trinta minutos, acho eu, e desfrutávamos o facto de àquela hora o baloiço do parque estar sempre livre. Às vezes a meia hora passava a uma, ou mais, até que a professora chamou os nossos pais por mau comportamento. O que é que eu andava a fazer com a Helena, perguntou-me a minha mãe à noite. Andamos de baloiço, respondi.
E o baloiço oscila ao vento.
[escrito em 25 de julho de 2005]
9 comentários:
Muito bonio realmente... transcreve exactamente algo que é comum a todas as infâncias. Muitos parabéns, foi profundo e fez-me sorrir! Obrigado
Beijinho
Ana
Ana, Obrigado eu, por me aturares voluntariamente. :)
consegui visualizar...e sentir o cabelo ao vento...e o passar das horas que parecem minutos e palavras simples e gestos sinceros...
Um texto muito bonito, bem como a história.
sendyourlove e htsousa, obrigado... :)
que lindo! :)
obrigado, joana. :)
Momentos de uma infância feliz. Lindo!
:)
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