crónicas da cidade que sopra | cortes de cabelo, silêncios e multas
Amanhã, por ser quinta-feira, o Diário de Aveiro publica mais uma crónica da cidade que sopra, escrita aquilo pelo bagaçólico...
Esta noite Hugo não dormiu. Com a ponta do pé direito descalçou o calcanhar do pé esquerdo e depois, com a ponta do pé esquerdo, descalçou o calcanhar do pé direito. Os sapatos estão largos e envelhecidos, e nem é necessário desapertar os atacadores para os calçar ou descalçar. Com dois pontapés no ar atirou-os para o meio do quarto onde adormeceram envolvidos numa exagerada quietude. Os sapatos adormeceram mas ele não. Aconchegou-se o quanto pôde no lençol de silêncio que não o chegou a aquecer suficientemente, e os seus olhos recusaram-se a fechar. Durante um dia inteiro não tinha falado com ninguém, e só ao deitar-se é que reparou nisso. Depois passou a noite a falar consigo mesmo.
5 comentários:
Já tive dias de Hugo.
Eu já tive dias de Elora quando teve dias de Hugo.
Dias tramados com o prolongamento de noites de fado!
Aquilo que escreve no Diário de Aveiro parece a minha vida retratada em sentimentos, e costuma fazer-me chorar. Leio-o todas as semanas e quando não aparece a sua crónica fico decepcionada e triste. Hoje já li três vezes o que escreveu e não tenho palavras. Por favor escreva, não imagina o impacto que tem em mim. Desculpe não me identificar. Gosto de si.
Obrigado por estar aí e por ser mulher. ;)
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