conversa 236
(no mini-preço do Retail Park em Aveiro. é a segunda vez que me acontece uma coisa destas ali...)
Deixaram um carrinho vazio na fila do supermercado a marcar lugar. Foram comprar o que queriam e chegaram os quatro (pai, mãe, filho e filha) a abraçar uma quantidade enorme de produtos que atiraram para lá para dentro. Eu já tinha desviado estrategicamente o carro da fila, e tinha passado à frente. Uma pacote de tortellini, uma garrafa de vermute e um pack de iogurtes líquidos era tudo o que eu levava. O homem, baixinho e atarracado, tenta pôr-se à minha frente e pisa-me os pés com as rodinhas.
Eu – Onde é que pensa que vai?
Ele (pai) – O carro já aqui estava.
Eu – Esse carrinho é meu.
Ela (mãe) – Não senhor, este carrinho fui eu buscá-lo.
Eu – Esse carrinho é meu. Os carros são todos iguais e não pode provar que não é meu. Só vos deixei pôr aí as compras porque olhei para o vosso ar miserável e tive pena. Até vos vou deixar ficar com a moeda, mas não vos vou deixar passar à frente.
Ela (mãe) (virando-se para os filhos) – Eu não vos disse para ficarem aqui? Agora é isto...
(os miúdos ficam com uma cara que não sabem onde se hão-de meter, eu começo a ficar demasiado nervoso e a sentir o objecto cardíaco a acelerar. A fila andou à nossa frente e cria-se um espaço onde dá para meter o carrinho, o que ele faz)
Ele (pai) – Eu vou ficar já aqui e ai de quem tentar meter-se à minha frente.
(Eu passo o carrinho ponho as compras no tapete)
Eu – Não percebi se isso foi uma ameaça, mas de qualquer maneira vou ser atendido à sua frente. Se isso que disse foi uma ameaça, agradeço que seja mais claro. Não lhe vou bater porque sou mais inteligente, mas se quiser prometo que espero por si lá fora.
Ela (mãe) (virando-se para empregada da caixa) – Oh menina, não nos viu a deixar aqui o carrinho?
Ela (empregada) – Eu não vi nada...
Ela (mãe) – O melhor é irmos embora. Nunca mais cá voltamos.
(Os quatro afastam-se depois duma pequena discussão entre eles. O pai, ao sair, dá um murro na porta e diz alto que nunca mais lá volta e que me fodia os cornos)
Ela (menina atrás de mim na fila) – É incrível... é este país que temos...
Eu (afastando o carrinho para facilitar a passagem de pessoas) – Eu tenho razão, não tenho?
Ela (menina atrás de mim na fila) – Claro que sim. Eu é que já estava a ficar com medo.
Eu – Eu também, deixa lá, mas à minha frente não passavam.
Acabo de pagar, vou tomar um café num quiosque ao ar livre que há no Retail Park para me acalmar. Vejo a mesma família a passar por mim. Ela é loira, obesa, tem a cara cheia de espinhas e borbulhas, e as calças não chegam para lhe tapar o rabo todo. Ele é baixo e atarracado, como já disse. Já não tem quase cabelo nenhum mas o que tem é comprido, e veste uma camisola de alças cinzenta. Passam devagar por mim e ele abranda o passo enquanto aponta pra mim. Dou mais um gole no café e viro-me para ele. Lembro-me que levei três murros numa discoteca há pouco tempo, não quero ser apanhado de surpresa outra vez. Deixo-me estar, de pernas cruzadas e um cotovelo em cima do balcão.
Ela – Vamos embora, vamos embora...
Eles afastam-se. Os putos levam uma quantidade enorme de sacos de plástico do DeBorla, mas não levam compra nenhuma. Não gosto de pessoa que deixam carrinho de supermercado a marcar lugar, não gosto de pessoas que roubam sacos de plástico nos estabelecimentos comerciais, não gosto de pessoas que não percebem que têm que respeitar os outros. Para ser sincero... não sei se não gosto ou se me limito a ter pena. Tenho pena... é mais isso.
23 comentários:
Há uns anos no Jumbo estou com duas amigas com umas compras nas mãos, na fila da caixa à espera do tapete das compras ficar vazio para aí as colocarmos.
Quando o tapete fica finalmente livre surge um casal de meia idade que mete o seu carro à nossa frente e começa avidamente a colocar as compras no tapete. Os três olhamos para eles com ar de incrédulos ao que nos dizem "é o que acontece a quem está distraído!"
and so on
Concordo contigo, mas também te digo que não vale a pena educar dessa forma.
Já me aconteceu quererem zaragata e julgo que nessas situações tomo a melhor atitude/discurso com um grande sorriso e num tom mais alto:
não volta a deixar o carro marcando a sua vez, mas vou deixa-lo passar porque a educação e a simpatia passou por si, tal como o camarão num rissol! Ficam completamente desarmados!
A última foi com um comentador televisivo e logo de futebol, talvez porque eu não entro na parolada...ah, olha...o Sr da TV:))))
Educar um povo demora séculos!
Hoje com mais tempinho andei a vasculhar o teu sotão e levei algo para a minha cubata.
Uma vez mais, parabéns por este espaço.
Um beijo sincero
o meu sonho é ter um supermercado só pra mim...
adorei o blog :)
ah, cheiguei cá pelo A. Boronha
cumps
Muito bem! muito bem mesmo! fizeste aquilo que muitas vezes muita gente (a maior parte) nao consegue fazer... a verdade é que hj em dia há tanta falta de chá que as pessoas ja têm receio de enfrentar seja quem for, mesmo com toda a razao do mundo!! por isso fizeste mt bem em marcar o territorio e mostrar quem mandava! ha pessoas despreziveis que têm de ser postas no lugar*
vou tentar lembrar-me da tua atitude se alguma vez precisar... embora a minha estatura nao imponha la muito respeito =P
ah, já agr, o teu blog é brilhante ;)!*
Pena é perfeitamente adequado.
Marcas de um civismo que falha cada vez mais neste País. Deixar ali o carro vazio é um triste exemplo da esperteza saloia com que temos que nos defrontar diariamente seja no supermercado, nos cafés, na estrada...
Carla
eu confesso que também detesto essas cenas...e por norma passo-me sempre. não espanco ninguem...mas sou muuuuiiiiitooooo cruel com as palavras e com o meu olhar matador
Na minha terra é ao contrário... só há mercearias e mini-mercados. A malta vai para lá conversar... pôr a conversa em dia. Então, para a “cusquice” durar mais é só "faça favor", "passe, passe", "esteja à vontade, eu tenho muito tempo". Temos outros problemas, é verdade, mas bichas não... lol.
Boas bicadas
nelson, o meu problema é que nunca deixo passarem-me à frente... mesmo que seja por distracção...
fatyly, mas eu nem queria educar ninguém... é mesmo não gostar que façam de mim parvo. :)
cristina, já vou ver o teu sítio. O blog do Boronha é fixe mas deprime-me... lembra-me que sou adepto do Beira-Mar.
sara m. obrigado. Eu tenho estatura, mais ou menos, mas não me serve de muito
elora, estamos de acordo? lol
covinhas, tens um olhar matador? hum... hum...
tó, isto hoje está muito mau de tempo, mas vou lá mal possa, sim. abraço
achadiça, canas de senhorim é que está a dar. Vivas Canas!
Raro, mas acontece. É da terapia de grupo.
o verdadeiro olhar matador...mas só quando convém...não é sempre!!
PS: e o da amiga também é!!lolll
lol, elora, hoje andas numa de terapias... há uma muito boa que é beber vermute com limão. Em grupo, então, é uma maravilha.
Covinhas, espero que te convenha, então, dentro de dias. Dois olhares matadores é fixarolas. ;)
:))
e tu cozinhas bem?'lembro-me de ver uma imagem de pescada...com algo verde que ate tinha bom aspecto!!!
covinhas... cozinho bem, sim. A sério. Não sou o melhor do mundo, mas safo-me bastante bem... :)
Eu também tenho o "problema" da tua comentadora Achadiça. Vivo num meio pequeno, logo (e quando a conversa está a ser porreirinha) deixa-se passar à frente meio mundo.
Mas quando há algum penetra a tentar passar à minha frente, leva o meu olhar matador n.º 56 e a minha típica "Eu estou primeiro" que desarma qualquer um.
cristina, outro olhar matador por aqui? :)
Não me conheces, meu caríssimo novo amigo virtual... :)
Eu sou das pessoas mais refilonas à face da Terra... e quando a coisa não está a correr nos conformes, faço o olhar a que o meu namorado chama "aquele sobrolho"... e acaba ali a conversa! Hahah
cristininha, ui... não era esse matador a que me referia. lol! :)
Hehehehe... mas, sou um doce de menina! Só me "transformo" quando as coisas não me correm de feição. No geral, sou pacífica!
cristininha, ufa!... :)
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