8.07.2015

pensamentos catatónicos (330)

Lembro-me do tempo em que me apaixonava e desapaixonava frequentemente. Era um tempo bom porque também era um tempo mau, o da minha juventude. Era bom à tarde e mau à noite, por exemplo, para voltar a ser bom na manhã seguinte.
O que o tempo das paixões espontâneas nos ensina, é a relativizar o que é bom e o que é mau. Nem o bom é tão bom assim, nem o mau é tão mau assim. Pelo menos quando falamos de Amor, claro. O truque passa por relativizarmos apenas quando estamos mal e sermos propositadamente ingénuos quando estamos bem.
Quando atingimos uma idade que eu não sei muito bem qual é, apaixonarmo-nos começa a ser cada vez mais difícil, até chegarmos à fase da vida em que nos custa acreditar que aconteceu. É quando nos vemos aos espelho e mesmo assim duvidamos que o nosso coração deixou de nos pertencer. A relativização do bom acaba, porque o que se passa é mesmo bom. É o absolutismo do Amor em detrimento da Relatividade.
Por outro lado, desapaixonarmo-nos também começa a ser cada vez mais difícil. Se gostarmos de alguém a sério se tornou quase um milagre, deixarmos de gostar desse alguém é um milagre maior. E eu, que ateu me confesso, não acredito em milagres.

3 comentários:

açoriana disse...

Já somos dois :)

Anónimo disse...

O que torna o desapaixonar mais difícil, é precisamente o "gostar de alguém a sério". O factor idade só entra nestas contas, porque efetivamente numa determinada idade, gostamos a brincar, por imaturidade, daí dizermos que nos apaixonávamos muito facilmente. O que me parece é que não nos apaixonávamos verdadeiramente pela pessoa, mas sim pela ideia de estarmos apaixonados, o que é bem diferente. Gostar a sério de alguém, não é para brincadeiras, é o que é. Deixa marca. Mas este é um tipo de marca, que vale a pena.

Ivar C disse...

açoriana, :)

anónimo, estou nessa linha de pensamento. :)