pensamentos catatónicos (257)
o princípio do fim das cartas de Amor
Lembro-me de estar a olhar para as folhas de papel amarfanhadas e espalhadas pelo chão. Era como se cada uma delas fosse um monumento à minha timidez de adolescente e à minha incapacidade de escrever um "Amo-te" convincente. Estava nesse dia a construir a minha primeira carta de Amor. Quando finalmente a terminei, analisei-a letra a letra primeiro e à distância depois. Escrever essa carta durou uma noite inteira e foi como partir pedra.
Li há uns tempos que mais de quarenta estados norte-americanos deixaram de exigir às suas escolas primárias que ensinem a escrita manuscrita. Em vez disso, ensina-se a escrever em letra de imprensa e principalmente em teclados de computador. É a vitória da tecnologia sobre a arte da caligrafia e é também o princípio do fim das cartas de Amor.
A caligrafia tem o nosso nervo. Através dela é possível adivinhar se estamos nervosos, calmos, felizes, tristes ou apaixonados, isto muito antes de começar a ler. Escrever "Amo-te" num computador é a mesma coisa que dizê-lo numa voz gerada automaticamente num programa de computador. Falta-lhe a emoção, falta-lhe a alegria e a lágrima no canto do olho. Enfim, falta-lhe tudo. É uma pena.
Lembro-me de estar a olhar para as folhas de papel amarfanhadas e espalhadas pelo chão. Era como se cada uma delas fosse um monumento à minha timidez de adolescente e à minha incapacidade de escrever um "Amo-te" convincente. Estava nesse dia a construir a minha primeira carta de Amor. Quando finalmente a terminei, analisei-a letra a letra primeiro e à distância depois. Escrever essa carta durou uma noite inteira e foi como partir pedra.
Li há uns tempos que mais de quarenta estados norte-americanos deixaram de exigir às suas escolas primárias que ensinem a escrita manuscrita. Em vez disso, ensina-se a escrever em letra de imprensa e principalmente em teclados de computador. É a vitória da tecnologia sobre a arte da caligrafia e é também o princípio do fim das cartas de Amor.
A caligrafia tem o nosso nervo. Através dela é possível adivinhar se estamos nervosos, calmos, felizes, tristes ou apaixonados, isto muito antes de começar a ler. Escrever "Amo-te" num computador é a mesma coisa que dizê-lo numa voz gerada automaticamente num programa de computador. Falta-lhe a emoção, falta-lhe a alegria e a lágrima no canto do olho. Enfim, falta-lhe tudo. É uma pena.
20 comentários:
De acordo. Daí que eu e o meu namorado já tenhamos trocado cartas de amor. Das a sério! lol. Sou uma felizarda :)
Cisne.
É a primeira vez que comento aqui apesar de já acompanhar há algum tempo, desde já os parabéns pelo blog!
Escrever cartas tem sempre o seu encanto, agora que estou longe de Portugal decidi começar a escrever para os amigos, sei que por email é muito mais rápido e ás vezes é mesmo por mail mas só a sensação de escrever a carta, à mão que isto de escrever em computador e mandar por correio é a mesma coisa que email, meter no correio e esperar pela resposta... quando chega sabe mesmo bem!
Abraço
Tenho mais de 300 cartas de amor! De vez em quando, leio algumas... :)
Concordo plenamente. Hoje em dia por essas redes sociais fora banalizou-se de tal forma escrever o "amo-te" sem qualquer fundo de verdade que a palavra perdeu completamente o sentido.
cisne, ena! que boa ideia. :)
malena, eu fiz uma asneira quando me divorciei... meti-as todas no lixo. :)
m.j, obrigado. de facto sabe bem, sim. eu lembro-me dessa sensação em certas alturas da minha vida. :)
olga, sim, já tinha pensado nisso. :)
Completamente de acordo. Eu sou uma saudosista e ainda tenho o gosto pelas coisas manuscritas, cartas, postais, bilhetinhos... mas é verdade que a tecnologia (computadores e telemóveis) está a matar toda essa magia... Já para não falar que também estão a matar a língua, com aquela mania que os adolescentes têm de escrever com erros... É uma pena, gosto tanto dessas coisas manuscritas...
E as "antigas" cartinhas de amor... ai ai...
rosa do deserto, também não gosto dessa mania de escrever com erros. não percebo... :)
«Li há uns tempos que mais de quarenta estados norte-americanos deixaram de exigir às suas escolas primárias que ensinem a escrita manuscrita. Em vez disso, ensina-se a escrever em letra de imprensa e principalmente em teclados de computador.»
WHAT???? tens a certeza? é credível, esta notícia?
sem-se-ver, há várias notícias sobre isto... basta procurar no google. também me deu um nó no estômago. :)
sem-se-ver, eu também li esta notícia. Podes vê-la no Observatório da Língua Portuguesa, neste link: http://observatorio-lp.sapo.pt/pt/noticias/fim-do-ensino-da-letra-cursiva-nas-escolas
rpm, nesta notícia, de facto, ainda é pior... :)
Sou fã, adoro cartas de amor e adoro enviar presentes pelos correios...gosto mesmo. Tem outro impacto...
Parece que nos esquecemos de comunicar por carta e é tão bonito. A letra manuscrita não tem substituição...
Tenho uma caixa cheia de cartas que recebi, das trocas de correspondência e são óptimas para nos recordarmos das nossas histórias, guardei todas :)
sofia cortez, eu meti-as todos no lixo num momento de desilusão. tinha centenas também. de certa forma estou arrependido. :)
Conheço a incapacidade de escrever (e dizer) um "Amo-te" convincente...
E concordo com a falta de emoção transmitida pela escrita no computador.
(E gostei muito deste texto!)
Perfeito.
Também discordo dessa interrupção no ensino da caligrafia e um dos motivos é exatamente este que vc menciona no post.
lily, obrigado. :)
giovana, a mim o que me incomoda mesmo é a dependência excessiva da tecnologia. :)
e o papel dos pais e avós e demais família é insentivar a escrita manuscrita.
Aqui no pc a nova geração escreve de um forma que muito em breve teremos um "dicionário" para decifrar o que dizem e vai lá dizer-lhes que não são "cartas de amor".
Tudo tem a sua época, eu tive a minha...tu tens a tua...a tua filha tem outra...mas todas tiveram e têem o encanto de "uma carta de amor"!
fatyly, ei não encontro encanto nenhum em "keres tar cmg asap? curtote bués". :)
Não encontras porque já és de outra geração rapaz, imagina eu:)...e é essa a diferença...
fatyly, é possível... estou ultrapassado. :)
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