até logo
Amar custa. Pensa isto enquanto sente o beijo dela na testa e a ouve dizer-lhe "até logo" ao ouvido. Já sabe que são seis segundos até a porta bater e os passos dela emudecerem nas escadas do prédio como uma música suave que chega ao fim em fade out. Fica sozinho e repete para o seu silêncio que Amar custa. É uma verdade com a frequência de todas manhãs. Ela sai sempre de casa antes dele, e nessa altura pesa-lhe a solidão.
Amar custa, até porque temos que o fazer. A alternativa é não Amar e isso ainda custa mais. Ele já tentou não Amar algumas vezes e acabou sempre por chegar à conclusão que a vida lhe estava a passar ao lado. Era como se a tentasse agarrar e ela se desfizesse em pequenos grãos de areia entre as mãos. Não Amar custa ainda mais do que Amar, sendo que não há mais nada. Foi o que pensou num desses últimos dias em que decidiu não Amar. Depois aqueceu uma chávena de chá a ver se lhe sentia o sabor.
É desses dias sem sabor que se lembra agora, e de evitar o olhar dos casais apaixonados que passavam por ele na rua. Não queria ver neles aquilo que lhe faltava a ele. O Amor. Quando via duas pessoas num abraço ou num beijo era ainda maior a sua solidão. Talvez não maior, mas mais pesada. A solidão não tem tamanho, tem peso. Muito ou pouco mas tem sempre algum. Ainda bem. É por isso que às vezes o seu fim está apenas a um metro de distância, por muito pesada que seja.
Ela estava a pouco mais de um metro dele quando, por acaso, os seus olhares se encontraram como o voo periclitante duma borboleta qualquer. Foi por isso que se tornaram a olhar, que as borboletas não voam em cafés cujo ar está viciado pelo fumo do tabaco de pessoas sós. Só podia ser outra coisa qualquer. Talvez Amor, talvez paixão, talvez apenas e tão só a solidão. Um homem sabe lá o que é quando dorme pela primeira vez com uma mulher. Nunca sabe. É tudo uma questão de sorte. Mas foi assim, dormiu com ela sem saber muito bem porquê.
Saíram dali e andaram à deriva pela cidade, a ganhar tempo até que um tivesse a coragem de dar o primeiro passo. Foi ele, que a abraçou depois dela dizer que estava frio. Acabaram na cama dela, onde ele adormeceu com um preservativo ainda pendurado num pénis que não se chegou a vir. Quando o dia clareou ela levantou-se primeiro, vestiu-se para ir trabalhar e despediu-se com um beijo na testa e um "até logo" em segredo. Ele acordou devagarinho, ouviu a porta bater e ouviu os passos dela a desfazerem-se lentamente naquela manhã em que o mundo mudara. Mesmo sem se vir tinha-lhe saboreado os lábios e o corpo. Amar custa. Não Amar custa muito mais. "Até logo", repetiu no seu imenso silêncio. E ficou.
Amar custa, até porque temos que o fazer. A alternativa é não Amar e isso ainda custa mais. Ele já tentou não Amar algumas vezes e acabou sempre por chegar à conclusão que a vida lhe estava a passar ao lado. Era como se a tentasse agarrar e ela se desfizesse em pequenos grãos de areia entre as mãos. Não Amar custa ainda mais do que Amar, sendo que não há mais nada. Foi o que pensou num desses últimos dias em que decidiu não Amar. Depois aqueceu uma chávena de chá a ver se lhe sentia o sabor.
É desses dias sem sabor que se lembra agora, e de evitar o olhar dos casais apaixonados que passavam por ele na rua. Não queria ver neles aquilo que lhe faltava a ele. O Amor. Quando via duas pessoas num abraço ou num beijo era ainda maior a sua solidão. Talvez não maior, mas mais pesada. A solidão não tem tamanho, tem peso. Muito ou pouco mas tem sempre algum. Ainda bem. É por isso que às vezes o seu fim está apenas a um metro de distância, por muito pesada que seja.
Ela estava a pouco mais de um metro dele quando, por acaso, os seus olhares se encontraram como o voo periclitante duma borboleta qualquer. Foi por isso que se tornaram a olhar, que as borboletas não voam em cafés cujo ar está viciado pelo fumo do tabaco de pessoas sós. Só podia ser outra coisa qualquer. Talvez Amor, talvez paixão, talvez apenas e tão só a solidão. Um homem sabe lá o que é quando dorme pela primeira vez com uma mulher. Nunca sabe. É tudo uma questão de sorte. Mas foi assim, dormiu com ela sem saber muito bem porquê.
Saíram dali e andaram à deriva pela cidade, a ganhar tempo até que um tivesse a coragem de dar o primeiro passo. Foi ele, que a abraçou depois dela dizer que estava frio. Acabaram na cama dela, onde ele adormeceu com um preservativo ainda pendurado num pénis que não se chegou a vir. Quando o dia clareou ela levantou-se primeiro, vestiu-se para ir trabalhar e despediu-se com um beijo na testa e um "até logo" em segredo. Ele acordou devagarinho, ouviu a porta bater e ouviu os passos dela a desfazerem-se lentamente naquela manhã em que o mundo mudara. Mesmo sem se vir tinha-lhe saboreado os lábios e o corpo. Amar custa. Não Amar custa muito mais. "Até logo", repetiu no seu imenso silêncio. E ficou.
16 comentários:
"A solidão não tem tamanho, tem peso." Gostei muito da frase e do post.
sofia, obrigado. :)
"A solidão não tem tamanho, tem peso."
Mas pesa, e às vezes é enorme!
EJSantos
ejsantos, é o peso dos pesos. :)
E por vezes pesa demais...
pipoca dos saltos altos, esmaga-nos... :)
"periclitante" fiquei eu com esta pérola. Parabéns! Adorei e subscrevo!
Vou ter de te linkar lá no tasco... mas sabes, não percebo os homens que não percebem isto. Isso e como é que uma coisa por não ter tamanho, não pode ter peso. Não pesa a consciência de se dizerem certas coisas, a quem não percebe que as palavras têm um tamanho maior do que aquilo que se escreve, e tantas vezes do que não se escreve, mas que dizem. Mas isto também é capaz de ser contraditório ( e estranho para tanta gente...).
Reconheci o que penso na frase
"Quando via duas pessoas num abraço ou num beijo era ainda maior a sua solidão."
um beijinho
fatyly, obrigado. :)
disse, obrigado. :)
eva, obrigado. eu percebi-te. :)
redonda, obrigado. :)
Olá Gostei do que escreveste. Parabéns e continua a partilhar.
bridger-jones, obrigado. :)
Eu bebo literatura assim, como um alcoólico bebe qualquer bebida alcoólica. No entanto, há sempre bebidas que até um alcoólico escolhe beber mais do que outras. Esta é uma delas.
cármen, obrigado. é o que eu tento fazer. tenho o problema de não gostar de sumos. também não gosto de ler o que não me embriaga. :)
Eu evito o álcool, mas simbolicamente nem pensar em fazê-lo. :)
cármen, fazes bem. eu não evito nenhum... :)
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