conversa 1972
-Lembras-te de mim? - Perguntou-me ela.
Lembrava mas, tal como ela, também eu tinha dúvidas que ela se lembrasse de mim. As memórias são apenas a paisagem dum caminho estreito, que percorremos sós. Assim, por um momento, fiquei a olhar para o meu passado sem lhe ver o horizonte.
- Claro que lembro. Que patetice, então não me havia de lembrar? - Mas não era uma patetice.
Ela calou-se e fitou-me nos olhos, como se procurasse alguma coisa escondida em mim. Acho que sempre que perdemos alguma coisa noutra pessoa, os olhos são o primeiro sítio onde a vamos procurar. Deixei-me estar quieto, a ver o primeiro sinal de desilusão no seu rosto. O que quer que fosse que ela queria ver, não viu. Depois veio o silêncio.
- E então, que fazes? - Perguntei.
- Estou desempregada. Trabalhei muitos anos em Setúbal, em várias coisas...
- Eu também estou desempregado. Trabalhei sempre cá por cima, com alguns intervalos para trabalhos no estrangeiro...
Mas as palavras iam morrendo pouco a pouco, como que intoxicadas pelo desinteresse da banalidade. Temos os dois mais de quarenta anos e não nos víamos desde a adolescência, numa noite qualquer de Verão. Na verdade, foi essa a única noite em que a vi, e só me lembro que ficámos para trás de um grupo de vários amigos comuns que iam a uma discoteca qualquer. Passámos horas numa praia qualquer do Alentejo, onde fizemos da areia a nossa cama e do som do mar a nossa conversa.
Ela tornou a fitar-me nos olhos.
- Apaixonaste-te muitas vezes, desde então?
- Duas ou três. - respondi.
- Duas ou três?! Tens sorte.
- Sorte?! Porquê?!
- Eu já lhe perdi a conta...
Lembrava mas, tal como ela, também eu tinha dúvidas que ela se lembrasse de mim. As memórias são apenas a paisagem dum caminho estreito, que percorremos sós. Assim, por um momento, fiquei a olhar para o meu passado sem lhe ver o horizonte.
- Claro que lembro. Que patetice, então não me havia de lembrar? - Mas não era uma patetice.
Ela calou-se e fitou-me nos olhos, como se procurasse alguma coisa escondida em mim. Acho que sempre que perdemos alguma coisa noutra pessoa, os olhos são o primeiro sítio onde a vamos procurar. Deixei-me estar quieto, a ver o primeiro sinal de desilusão no seu rosto. O que quer que fosse que ela queria ver, não viu. Depois veio o silêncio.
- E então, que fazes? - Perguntei.
- Estou desempregada. Trabalhei muitos anos em Setúbal, em várias coisas...
- Eu também estou desempregado. Trabalhei sempre cá por cima, com alguns intervalos para trabalhos no estrangeiro...
Mas as palavras iam morrendo pouco a pouco, como que intoxicadas pelo desinteresse da banalidade. Temos os dois mais de quarenta anos e não nos víamos desde a adolescência, numa noite qualquer de Verão. Na verdade, foi essa a única noite em que a vi, e só me lembro que ficámos para trás de um grupo de vários amigos comuns que iam a uma discoteca qualquer. Passámos horas numa praia qualquer do Alentejo, onde fizemos da areia a nossa cama e do som do mar a nossa conversa.
Ela tornou a fitar-me nos olhos.
- Apaixonaste-te muitas vezes, desde então?
- Duas ou três. - respondi.
- Duas ou três?! Tens sorte.
- Sorte?! Porquê?!
- Eu já lhe perdi a conta...
8 comentários:
Não tenho capacidade para me apaixonar facilmente, bem que gostaria, mas sei o que é um grande amor.
Achas que as mulheres se apaixonam mais depressa que os homens ? :)
carmo, é mais ou menos como eu. :)
eva maria, de forma alguma. :)
Estranho ela achar que será uma sorte apaixonar-se menos vezes, a não ser que esteja já também a considerar que das muitas paixões que teve ou não eram de verdade ou acabaram mal.
redonda, talvez a quantidade tenha uma implicação directa na qualidade. :)
pois...eu cá não sou nada de paixoes fáceis..
e tenho alguma pena....confesso
As mulheres é que costumam dizer só duas ou 3...esta tb foi dita garantidamente pelo homem dos "traques" :)
quase nos "entas", não acho que tenhas que ter pena... :)
profissão mãe, ahn? :)
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