9.06.2012

porreiro, pá!

Em Portugal somos todos uns porreiros. Aliás, acho que o adjectivo "porreiro" e todo o seu alcance semântico deviam ser património nacional. Neste país crescemos a aprender que somos todos porreiros independentemente daquilo que verdadeiramente somos.
O único senão da coisa é que ser porreiro é muito pouco, principalmente quando comparado com a importância que se lhe quer dar. Ser porreiro, em abono da verdade, não é muito mais do que conseguir manter uma conversa de café sem dar um tiro no interlocutor. Conhece-se alguém à mesa do café, enquanto se bebe uma cerveja gelada e se fala de futebol, e pronto, já está: mais uma pessoa porreira que se conheceu.
É isso que é o porreirismo nacional, uma forma de esconder o que verdadeiramente somos. Qualquer sacana cobardolas que bate na mulher em casa, a tortura física e psicologicamente, se quiser passar da besta que verdadeiramente é a um gajo porreiro em menos de cinco minutos, só tem que ir ao café beber um copo com um amigo e já está. Entra uma besta e sai de lá um gajo porreiro.
As reacções à violência doméstica, aliás, não passam muito do espanto porreirinho. Afinal de contas ele até é um gajo porreiro, portanto ela deve ter feito alguma coisa. Talvez por isso haja cada vez mais gajos porreiros a agredir as mulheres em Portugal. Aliás, já há tantos que em menos de vinte e quatro horas foram assassinadas três. Duas a tiro, em Boticas e em Gaia, outra estrangulada em Olhão.
A Polícia de Segurança Pública tem, na sua página oficial, um aviso sobre violência doméstica que assume a forma de pedido, porque estamos a falar de um crime público e que portanto depende da queixa de qualquer cidadão. Não apenas da vítima. Se os cidadãos não se queixarem, a polícia fica de mãos atadas. Eu queixo-me. Para acabar com o nacional porreirismo.

9 comentários:

Anónimo disse...

Concordo plenamente!
Faz-me imensa confusão que tentem arranjar desculpas para o que não tem desculpa.. Há dias ouvi algo do género "ah ele andava a passar um mau bocado, tava desempregado" e pronto, já merece ser desculpado por ter batido na mulher...

Ivar C disse...

never told words, nunca aceito isso. :)

Anónimo disse...

Exatamente. Há muitas pessoas doentes. Psicopatas, sociopatas, vampiros emocionais, narcisicos.. Muitos desses são os porreiros. Não tem consciência, preocupação, chatices de trabalho ou que pagar contas. Vivem para o seu prazer. Elas vão ajudando, vão esperando que passe a tal fase que nunca mais passa, e vão se diminuindo a cada dia. Estima em baixo, ter que pagar contas (e pagar as cervejolas deles!), coitado que ele gosta de mim e não se consegue virar sozinho. Até que um dia ela se farta de dar e não receber, percebe que quer paz. Ou ele encontra outra vitima. Mas sempre com a posse dela, "minha para sempre", mesmo que ele ande por outros lados. E...
Sabe o que mais me irrita nisto? É que a policia pouco faz quando recebe queixas (na semana passada uma das vitimas tinha feito vinte e sete queixas!), que os vizinhos ouvem e assobiam para o ar (mas depois falam para a TVI). As vitimas muitas vezes estão sós porque o agressor consegue isola-lãs da familia e amigos. Quatro dias quatro mortes (ex namorados e ex maridos): média inacreditável. O nível económico e social é irrelevante, o gênero também (apesar de serem muito mais os homens a matar). Vamos ficar à espera de ver mais casos destes? BÁ: parabéns por denunciar.

Anónimo disse...

É uma forma de desculpabilizar o que não tem desculpa possível...

Anónimo disse...

Porreirinhos?
Rima com parvinhos, corninhos, cretininhos.
O Governo faz o que faz (verdadeiros crimes contra a Nação), e o povo, porreirinho, deixa-se estar. Encornadinho.

Violência doméstica? Mais uma manifestação de cobardia e de sordidez de carácter. Porreiro, Pá...

Estou desiludido com esta gente.

EJSantos

Egas disse...

Infelizmente vai ser dificil colocar um travão a isto: seja por pensar que ainda vivemos no passado e consideram a mulher como um objecto, como a mulher não tem coragem de fazer coragem do marido. O mais grave são as consequências e de pensar que isto não é denunciado antes porque os porreiros vivem de aparências e toda a gente finge que está tudo bem quando na realidade não o é.
Em relação aos cidadões fazerem queixa à policia, não sei se resulta, porque em tempos presenciei o marido agredir a mulher e esta sair toda nua para a rua e voltou novamente a entrar em casa. Eu e outros vizinhos chamamos a policia, e esta, ao chegar não pôde fazer nada porque a mulher e o marido negaram a discusão...
Este e outros assuntos em Portugal que necessitam de justiça, continuam a ser ignorados, e é triste assistir a isto.

Olga disse...

E há por aí tanto filho da p... tão porreiro pá que até mete nojo. O pior ainda é a quantidade de cúmplices que eles têm porque qualquer um que finja que não vê e não ouve é tão culpado como o porreiro.
Desculpa o desabafo, é que este tema em particular atormenta-me bastante.

David disse...

Bagaço,

Conheço casos de namorados que se agridem um ao outro e o que me parece é que isso demonstra a falta de respeito mútua.

Quanto ao nome do teu blog, acho piada porque para mim nem as mulheres se compreendem...

Ivar C disse...

anónimo, obrigado pelo contributo, que percebo na sua plenitude. a violência doméstica é uma característica própria da cobardia e da mesquinhez, porque é feita para dentro. :)

A Vida da Cinderela de Saltos Altos, exacto, :)

ejsantos, a desilusão não pode implicar desistência. é o que eu penso: :)

egas, é difícil, sim, mas não se deve nem pode desistir. :)

olga, estou contigo. não percebo como é que as coisas chegam a este ponto. :)

o olhar do lobo, discussões onde ambos discutem de igual para igual não são a mesma coisa que a agressão de um e a anulação do outro. :)