pensamentos catatónicos (281)
expectativas
Ela queria comprar uma carteira e pediu-me para a acompanhar. Suspirei. Se ir às compras já é uma seca enorme, ir comprar uma carteira de mulher é o deserto do Saara. Mas fui, apesar do meu descontentamento em que ela fingiu nem reparar.
Namorávamos há um mês, se tanto, e ainda só tínhamos tido uma discussão, por causa duma nódoa de vinho que deixei cair num dos melhores vestidos dela. Naquele dia tivemos a segunda. E a última.
A certa altura ela já tinha umas vinte carteiras espalhadas pelo balcão da loja, para as quais espreitava como um lobo para dentro da toca dum coelho. Abria e fechava os fechos várias vezes, virava algumas do avesso e metia-lhes objectos nos bolsos para ver se cabiam. Em pouco tempo, a loja ficou a parecer o quarto duma criança hiperactiva.
Eu, que tentava desviar o meu olhar daquilo tudo, fui apanhado pela frase: "Ajuda-me aqui a escolher!". Senti-me um peixe fora de água, prestes a ser esmagado pelo olhar impaciente da vendedora. Apontei para uma qualquer, com o objectivo primordial de despachar aquilo tudo, e disse: "Esta!".
- Porquê? - Perguntou ela como se me estivesse a encostar à parede.
- É a mais fixe... - e abanei os ombros.
Deixou aquele monte de cadáveres de carteira em cima do balcão, pegou-me pelo braço e levou-me lá para fora. Caminhámos uns minutos envolvidos por um pesado silêncio até, com um ar greve e sério, me ter dito que queria ter uma conversinha comigo. Entrámos num café onde eu pedi um fino e ela não pediu nada. Aquele sítio era apenas o cenário para me dar um sermão.
Explicou-me tudo o que esperava de mim em todas as situações, como se eu fosse uma máquina programável. Quando pedia ajuda para uma compra, eu tinha que me interessar realmente pela compra; quando alguém lhe passasse à frente na fila do supermercado, eu tinha que a defender; quando me desse a mão na rua, não era para eu a abraçar. Desfiou ali um rol de acontecimentos em que eu já tinha falhado no cumprimento das suas expectativas.
- Não tens nada para dizer? - Perguntou no fim.
- Não.
Ela queria comprar uma carteira e pediu-me para a acompanhar. Suspirei. Se ir às compras já é uma seca enorme, ir comprar uma carteira de mulher é o deserto do Saara. Mas fui, apesar do meu descontentamento em que ela fingiu nem reparar.
Namorávamos há um mês, se tanto, e ainda só tínhamos tido uma discussão, por causa duma nódoa de vinho que deixei cair num dos melhores vestidos dela. Naquele dia tivemos a segunda. E a última.
A certa altura ela já tinha umas vinte carteiras espalhadas pelo balcão da loja, para as quais espreitava como um lobo para dentro da toca dum coelho. Abria e fechava os fechos várias vezes, virava algumas do avesso e metia-lhes objectos nos bolsos para ver se cabiam. Em pouco tempo, a loja ficou a parecer o quarto duma criança hiperactiva.
Eu, que tentava desviar o meu olhar daquilo tudo, fui apanhado pela frase: "Ajuda-me aqui a escolher!". Senti-me um peixe fora de água, prestes a ser esmagado pelo olhar impaciente da vendedora. Apontei para uma qualquer, com o objectivo primordial de despachar aquilo tudo, e disse: "Esta!".
- Porquê? - Perguntou ela como se me estivesse a encostar à parede.
- É a mais fixe... - e abanei os ombros.
Deixou aquele monte de cadáveres de carteira em cima do balcão, pegou-me pelo braço e levou-me lá para fora. Caminhámos uns minutos envolvidos por um pesado silêncio até, com um ar greve e sério, me ter dito que queria ter uma conversinha comigo. Entrámos num café onde eu pedi um fino e ela não pediu nada. Aquele sítio era apenas o cenário para me dar um sermão.
Explicou-me tudo o que esperava de mim em todas as situações, como se eu fosse uma máquina programável. Quando pedia ajuda para uma compra, eu tinha que me interessar realmente pela compra; quando alguém lhe passasse à frente na fila do supermercado, eu tinha que a defender; quando me desse a mão na rua, não era para eu a abraçar. Desfiou ali um rol de acontecimentos em que eu já tinha falhado no cumprimento das suas expectativas.
- Não tens nada para dizer? - Perguntou no fim.
- Não.
15 comentários:
Não sei se essa discussão foi a última por boas ou más razões, nem me interessa. Só sei que nunca seria capaz de fazer algo assim do género a alguém!
Devemos querer que a pessoa que está connosco seja ela própria e não nós a ditar como essa pessoa deve ser ou estar perante nós.
Claro que se gostamos da pessoa com quem estamos, faremos tudo para lhe agradar e pensaremos sempre no melhor para essa pessoa (que certamente fará o mesmo em relação a nós) mas daí a ditar como alguém deverá ser, já é demasiado!...
Isso mata a magia de qualquer relação.
Ri-me tanto.. :)
Esta Ela pareceu-me um pouco estranha e a última discussão parecia mais um monólogo...Se a situação fosse ao contrário, eu ficaria era com vontade de fugir :)
Shiiii as mulheres são tão complicadas, e exigentes! Gostamos da perfeição mas ela não existe.
cafeína, mata tudo... até a alegria de viver. :)
kowalski, eu não, lol. :)
redonda, tenho a certeza que há muitos homens que se identicam comigo nesta matéria. :)
ac, existe pois... eu vejo-a todos os dias... é no metro, no comboio, nos bares... há tantas mulheres perfeitas. :)
Infelizmente há pessoas para quem uma relação significa "eu mando, tu fazes".. é ridículo!
Lol. Relativamente a essa perfeição só penso em duas coisas. Ou são perfeitas, mas só até as conheceres ou então consideras a beleza da imperfeição e considera-las perfeitas por serem imperfeitas :p
never tolds words, puf... é mesmo. :)
Rui, nem consigo pensar tão profundamente. :)
A moça tinha uma check list com os pré-requisitos bem definidos e obviamente não estavam a ser cumpridas as normas de qualidade. A vida tem destas coisas. :)
Eu cá acho que o Tio Bagaço acabou de se qualificar para vir comigo às compras amanhã. Preciso tanto de uma carteira!
olga, lol... fui à vida por falta de qualidade... :)
miú segunda, lol! olha que não, olha que não... :)
Isso não é uma mulher mas sim uma carraça controladora...ARRRREEEE eu não tinha tanta pachorra como a tua.
fatyly, é a única coisa que eu tenho para dar e vender. :)
Situação cómica e tão corriqueira. Eu, por acaso não gosto muito de ir às compras e quando tenho mesmo de ir tenho que ir com uma pessoa em quem confie mesmo e que saiba que não está a morrer de tédio por estar ali. Por isso raramente faço compras para mim com os meus namorados (a não ser uma daquelas coisas que se vê e se quer comprar, mas, ao contrário do que seria de esperar também já tive algumas discussões por causa disso... "Não te importas com a minha opinião." "Gostas mais de estar com ela do que comigo." "Não queres ir ao centro comercial ?!? Então também não sei o que vamos fazer. Tens a mania que és diferente das outras." Enfim... nunca ninguém está bem com o que tem.
t. é verdade.... mas eu sinto-me bem com o que tenho a sério. :)
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