coisas que fascinam (135)
És tão bonita
Tive uma namorada que me pedia constantemente que lhe dissesse que ela era bonita. Sempre me pareceu que ela patinava insegura no meu silêncio sobre aquilo que mais me atraía nela, e por isso obrigava-me a dizê-lo. E eu dizia-o, apesar de forçado e pouco convincente. Não é que ela não fosse bonita, porque era. O problema era ela nunca perceber que o meu silêncio era a maior homenagem a essa beleza.
Às vezes as palavras não chegam para descrever nada. No Amor, diria eu, nunca chegam. É que o Amor é indizível e por isso o silêncio sabe muito mais sobre ele do que todos os livros do mundo juntos. E nessa insuficiência eu lá lhe dizia que ela bonita, com a mesquinha sensação de que estava a dar uma esmola a um pobre, o que me fazia sentir ainda mais impotente. Ela nunca acreditava no que eu dizia porque não sabia acreditar no que eu não dizia. É uma pena as mulheres não saberem ler o silêncio dos homens, pensava eu.
Foi num sábado à tarde que decidimos que não nos sabíamos Amar, e entre algumas lágrimas de dor e alívio a vi diluir-se na multidão da avenida como uma aguarela num banho de cor. É na cor que o que foi não volta a ser, e nós nunca mais voltámos a sê-lo.
Quando uma mulher pede a um homem que lhe diga que ela é bonita, o pedido é fraco. É zero. Quando um homem se silencia perante a beleza duma mulher, o silêncio é forte. É infinito. O silêncio dum homem sobre a beleza duma mulher passa largamente o seu corpo. É um voo sobre a maneira como ela olha, como ela come, como ela adormece, como ela cheira, como ela se penteia, como ela se zanga, chora ou ri. Enfim, como ela respira e Ama. E depois desse voo, só depois desse voo, numa branda aterragem sobre os olhos dela, um homem pode dizer num suspiro que ela é tão bonita. És tão bonita.
A primeira vez que eu o disse assim, desta maneira, tinha trinta e oito anos. Hoje tenho quarenta, e isso fascina-me.
Tive uma namorada que me pedia constantemente que lhe dissesse que ela era bonita. Sempre me pareceu que ela patinava insegura no meu silêncio sobre aquilo que mais me atraía nela, e por isso obrigava-me a dizê-lo. E eu dizia-o, apesar de forçado e pouco convincente. Não é que ela não fosse bonita, porque era. O problema era ela nunca perceber que o meu silêncio era a maior homenagem a essa beleza.
Às vezes as palavras não chegam para descrever nada. No Amor, diria eu, nunca chegam. É que o Amor é indizível e por isso o silêncio sabe muito mais sobre ele do que todos os livros do mundo juntos. E nessa insuficiência eu lá lhe dizia que ela bonita, com a mesquinha sensação de que estava a dar uma esmola a um pobre, o que me fazia sentir ainda mais impotente. Ela nunca acreditava no que eu dizia porque não sabia acreditar no que eu não dizia. É uma pena as mulheres não saberem ler o silêncio dos homens, pensava eu.
Foi num sábado à tarde que decidimos que não nos sabíamos Amar, e entre algumas lágrimas de dor e alívio a vi diluir-se na multidão da avenida como uma aguarela num banho de cor. É na cor que o que foi não volta a ser, e nós nunca mais voltámos a sê-lo.
Quando uma mulher pede a um homem que lhe diga que ela é bonita, o pedido é fraco. É zero. Quando um homem se silencia perante a beleza duma mulher, o silêncio é forte. É infinito. O silêncio dum homem sobre a beleza duma mulher passa largamente o seu corpo. É um voo sobre a maneira como ela olha, como ela come, como ela adormece, como ela cheira, como ela se penteia, como ela se zanga, chora ou ri. Enfim, como ela respira e Ama. E depois desse voo, só depois desse voo, numa branda aterragem sobre os olhos dela, um homem pode dizer num suspiro que ela é tão bonita. És tão bonita.
A primeira vez que eu o disse assim, desta maneira, tinha trinta e oito anos. Hoje tenho quarenta, e isso fascina-me.
27 comentários:
Lindo texto.
di, obrigado. :)
Porque muitas vezes o silêncio fala, realmente, por milhões de palavras. Um olhar observador diz tudo o que não devia ser preciso ouvir. E palavras, essas qualquer um diz... Mas falar em silêncio e transmitir em olhar... É só mesmo para quem ama.
Faço minhas as palavras da Di. Parabéns. Um dia qd precisar de inspiração para "derreter" uma mulher - salvo seja, venho ao teu blog. Lol
mary, :)
sérgio, caramba! a sério?! então também venho. :)
Posso contar-te um segredo?
Há mulheres que entendem esse silêncio...
Só quem ama é que entende as "palavras" do silêncio, certo? Todos os outros fingem ou incomodam-se...
Não podia concordar mais contigo.
Adoro ler-te. E tens razão, é mesmo um prazerzão :-)
É, sou a anónima do outro post...
Fátima D.
fátima d, obrigado. sim... creio na tese de que o Amor é indispensável ao prazer. :)
É uma pena as mulheres não saberem ler o silêncio dos homens, pensava eu.
..........
e é pena mesmo...mas julgo que a maioria é porque se sentem inseguras ou não gostam de si próprias...penso eu.
Gostei muito e subscrevo!
ahhhhh e as tais crónicas do Diário de Aveiro:)
A minha avozinha dizia "as palavras leva-as o vento"
É um privilégio, poderes dizer a alguém que é 'bonita!
Qualidade rara hoje em dia!
Ohhh, que texto tão bonito.
O silencio leva tempo a compreender...é preciso relamente amar ...para saber ler os silencios, para saber ver para alem do que é dito. E sim ...sei exactamente como ficam desprovidas de sentido, de peso as palavras que se pedem....como se de uma suplica de amor se trata-se. 38 parece-me a idade perfeita para pronunciar e sentir dessa maneira.
Beijo de Louvor pelas sempre belas palavras
Gostei!
Saudações
É preciso saber intrepretar o silêncio porque nem todos os silêncios querem dizer a mesma coisa e às vezes há grandes equívocos à custa deles.
Quando alguém chega ao ponto de pedir devo concordar que de facto há algo que não deve estar a resultar muito bem, por isso não caindo em exagero ou desepero acho que por vezes é bom completar esse silêncio com algo mais de modo a simplificar o processo de entendimento. :)
Gostei da imagem dela a diluir-se na multidão como uma aguarela num banho de cor.
O problema com o silêncio poderá ser o da omissão ou o de propiciar interpretações erradas, o que sei que é óptimo, é quando conseguimos dizer o que pensamos sem serem precisas palavras.
fatyly, já não escrevo para o Diário de Aveiro há algum tempo, por uma questão de censura política. :)
carmo, é um privilégio, sim. tenho consciência disso. :)
maria, obrigado. :)
porque um dia me perdi..., obrigado
@ escritora, obrigado. :)
olga, sim... é um pedido estranho, este. :)
redonda, é esse o silêncio, sim, o compreensível. :)
Fez-me lembrar esta parte do Pulp Fiction: http://www.imdb.com/title/tt0110912/quotes?qt=qt0447142
jmdamas, eia, que fixe! :)
Adoro**
Infelizmente o silêncio da nos sempre insegurança quando ainda não o sabemos interpretar..
São poucas as pessoas na minha vida que não precisam de me falar pra eu saber, é uma coisa que não cai do céu mas que forma com o tempo*
lili, o tempo é importante, sim, nesta área do silêncio. :)
Caramba! Eu já sabia dar valor ao tanto que o silêncio é capaz de dizer. Mas este texto deixou-me assombrada e a compreender o valor de um suspiro. Muito bom!
Que bonito o texto! Francamente, nunca pediria a um homem para me dizer que sou bonita, parece-me um bocado indigno. De qualquer forma, tenho a sorte de ter ao meu lado um homem que todos os dias mo diz, entre suspiros, ou então simplesmente mo diz naqueles olhares de silêncio de que falas. Isso sim, é bonito.
brisa, obrigado. :)
caixa, ainda bem. :)
e depois nós é q somos as complicadas :o mas gostei :)
ciara, lol. obrigado. :)
Fez-me lembrar o More Than Words dos EXTREME, lá pelos meus 17 anos.
A questão é que a maioria dos homens cala em silêncio a sua admiração e esquece-se de dar sinais dela, vivendo-a para si.
E nós precisamos desses sinais, sejam palavras, sejam afagos, sempre pequenos-almoços na cama ao sábado de manhã, seja o computador formatado sem termos de mexer uma plaha ;)
Gostei muito do texto :)
TT
pena q só percebam as coisas tão tarde... :/
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