5.13.2014

desabafo

Às vezes tenho vergonha de género, o que quer dizer que tenho vergonha de ser homem. Com "h" minúsculo. Isso acontece-me sempre que leio alguma coisa sobre violência doméstica. É que a estatística não engana e, enquanto as vítimas são quase sempre mulheres, os agressores são quase sempre homens.
São os homens que têm esta capacidade de transformar um beijo num murro, ou de passar de uma mão dada para uma mão sufocante à volta do pescoço. Este ano já vamos em dezoito vítimas mortais neste país, todas elas mulheres cuja culpa foi apaixonarem-se pela pessoa errada.
É certo que a violência entre quatro paredes é sempre um acto de cobardia mas, para além disso, o que retira qualquer capacidade de compreensão é essa metamorfose da paixão em violência. Nisto tudo tenho apenas uma certeza: se é possível o Amor transformar-se em agressão, já a agressão nunca se transforma em Amor. É uma fria verdade sobre a nossa espécie, mas é assim.
Sei que a minha vida emocional me leva a muitos sítios diferentes e é grande por isso mesmo. Leva-me ao sofrimento algumas vezes, à felicidade plena outras vezes. Se algum dia me tivesse levado à violência seria apenas isso: uma vida pequena.

18 comentários:

Anónimo disse...

Não temos de sentir vergonha de ser homem com "h" minusculo se fizermos por sê-lo com H maiúsculo.

Be disse...

Pena não haver a tantos Homens de H grande como tu porque, e apesar das estatísticas, quando há uma conversa sobre violência doméstica, há sempre um urso que diz: "ahhh mas o contrário também acontece!!"
Não perceber que a questão nem está aí e está mesmo nessa forma de desamor, é quase tão grave como violentar.

Salsa disse...

sabes ao fim de muitos anos a trabalhar com vitimas de violencia domestica a unica conclusão que consigo tirar é que a maioria das mulheres gostam de ser violentadas e maltratadas, existem excepções mas a grande maioria come e cala, por vergonha, por medo ou porque são masoquistas.
depois a minoria que apresenta queixa do agressor grande parte das vezes é obrigada a ter que voltar para casa com o agressor.
neste ponto da situação quando chegam a casa levam outro enxerto de porrada, muitas mulheres ao observarem isto são dissuadidas a apresentar queixa, porque pura e simplesmente o nosso sistema judicial deixou de funcionar, os juizes são impunes e nunca são responsabilizados pelas mas decisões que tomam.
A culpa é tanto dos agressores que não são devidamente punidos. das vitimas que comem e calam e pactuam com um comportamento criminoso. Mas principalmente dos juizes que quando lhes caem as situações na vez de punir preferem dar palmadinhas nas costas e mandar para casa, como se isso resolvesse alguma coisa.
enfim são as mulheres, homens e sistema judicial que temos neste portugal a beira mar plantado.


Anónimo disse...

Foi por isso que deixei o meu ex-marido... ele tinha uma "vida pequena"...

Anónimo disse...

No que diz respeito a violência doméstica você entende bem do assunto.. E claro eu como mulher e mais macho que muito homem, bem bem digo que, ai daquele que colocar as mãos em mim e não dar um fim a minha vida, pois este não viverá para contar história!!

Fatyly disse...

Dura realidade e pelo que escreves há muitos anos sobre este tema é caso para dizer "abençoados homens com H grande"!

Sabes bagaço o que me leva a pensar sobre estes homens agressores? Não os desculpo por nada deste mundo...mas 80%, diria mais 90% sofrem de "stress traumático de guerra" e onde existe neste pais do "faz de conta" uma verdadeira protecção à vitima e um tratamento aos ex-combatentes?

Conheci muitos casos e afirmo de cabeça erguida que a maioria das instituições são uma TRETA, já para não falar da justiça (aguardo pelas alterações que vão entrar em Setembro a ver se algo muda) e fico-me por aqui!

$hort disse...

a violência só nasce da ignorancia e a ignorancia não faz distinção de sexo

Ziza's N.E.M. disse...

Sempre houve muita submissão e machismo, no entanto, as mulheres conseguem também inverter os papéis apesar da crueldade masculina. Até agora, posso referir como episódio mais violento que tive foi na altura que era uma criança, levar um murro no olho e ficar com um dente partido. Passei uns bons anos infernais nessa altura e não sofria violência doméstica, mas aconteceu graças ao género masculino que disse, "ainda merecia mais", tudo porque lhe paguei da mesma moeda a estalada que tinha me dado sem lhe fazer nada antes.

Caso estejas interessado ou conheças alguém que possa estar em ilustrações de todo género e feitios as informações sobre o projeto e o meu contacto está aqui - http://raiosqueparta.blogspot.pt/2014/04/projeto-two-sides.html

Cumprimentos

EJSantos disse...

"que tenho vergonha de ser homem. "

Oh homem, ganha juizo. Que culpa tens tu (ou eu, ou outro homem normal) pela violencia dos outros?
Cada um que responda por aquilo que faz. Nunca fui violento em casa (ou fora dela). Meus irmãos e amigos pautam-se pelo mesmo tipo de comportamento. A agora vamos ter vergonha por causa da actuação de doentes mentais?
Ah...

Ivar C disse...

toni dos bifes, :)

na mesma, é uma questão estatística... e há mesmo uma injustiça de género na sociedade. por se ser mulher, a vida é mais difícil. :)

Salsa Salsa, acho sempre que é mais complexo do que isso. não acredito que alguém goste de apanhar ou de ser vítima. acredito que há formas de transformar um ser humano num farrapo. :)

anónimo, deixá-lo foi, nesse caso, a melhor opção. :)

anónimo, compreendo. só que a solução não pode passar por aí, pois não? :)

fatyly, na minha geração já não há o stress pós traumático da guerra. a violência, no entanto, há. :)

$hort, da ignorância, da cultura e da biologia... :)

Ziza's N.E.M., há um injustiça de género óbvia, sim. e não é fácil contorná-la. :)

ejsantos, é uma vergonha de género... é uma vergonha comum, mas compreendo-te. :)

Sofi disse...

Esses homens (com h minúsculo) que batem nas mulheres são uns grandes homens, não há duvida!!! Impera a lei do mais forte... É como bater numa criança ou em alguém mais fraco. Ás vezes os miudos precisam mesmo de um avivador de memoria, mas isso não é violencia, é educação. Bater em alguém mais fraco do que nós torna-nos nos mais perfeitos cobardes. A própria sociedade também é cobarde porque compactua com estes comportamentos embora, ao contrario de um coment acima, as coisas já estejam bem diferentes agora. Basta dizer que passou a ser crime publico portanto já não depende da queixa do lesado. E sim há homens agressores mas também há mulheres agressoras. Ambos merecem total desprezo. Para além da violencia fisica também é comum a violencia psicologica que embora não deixe marcas visiveis é tão má ou pior que a fisica.
Eu costumo dizer que a 1ºvez poderei apanhar. Mas não ficará sem troco e será garantidamente a 1ª e a ultima, porque já lá não estarei para a próxima. Até gosto de umas palmadas eróticas e outros jogos considerados talvez um pouco violentos, mas violencia gratuita, no thanks!!
Ah e por favor não venham dizer que as mulheres até parece que gostam de apanhar porque voltam para os seus agressores... Isso não é verdade(fora algumas excepções que precisam de ser é tratadas). A realidade é que não têm para onde ir e com a violencia fisica vem tambem a psicologica. Por isso, calem-se as bocas que não sabem do que falam..

Resolver qualquer assunto recorrendo à violencia é próprio de mentes tacanhas e de gente mesquinha. E dessa gente só se quer é distancia

Ivar C disse...

vadia, :)

Fatyly disse...

Bagaço
Vou ser curta e dura o que desde já peço desculpa com a velha frase:

"o facto de eu ser puta não quer dizer que uma filha minha o seja" ou seja...muitos da tua geração viveram a sua infância, juventude etc. debaixo de uma enorme violência...pancada feia e grossa, certo? Com isso não quer dizer que muitos e muitas, porque também há no género feminino, o sejam.

A mente humana é terrível e nascer, viver e crescer num meio desses...é terrível. Assim como é terrível uma criança ser institucionalizada e estamos "anos luz" de muitos países onde realmente a coisa funciona bem!

Julgo, não, tenho a certeza que me percebeste:)

Ivar C disse...

fatyly, percebi muito bem. :)

Olga disse...

Um "amor" que se transforma em agressão nunca foi amor.

Ivar C disse...

olga, concordo. :)

Be disse...

Vi este vídeo e lembrei-me imediatamente deste teu post. Deixa-me profundamente triste a atitude das pessoas...

http://www.megacuriosidades.com/olha-o-que-acontece-quando-uma-mulher-bate-em-um-homem-em-publico/

Ivar C disse...

na mesma, obrigado pelo vídeo. :)