respostas a perguntas inexistentes (173)
Química
Não fazemos a mínima ideia quem são aqueles com que nos cruzamos todos os dias. O homem atrás de nós na fila do supermercado, a mulher que senta ao nosso lado no cinema, o idoso que nos pede um lugar sentado no comboio ou a criança que no diz adeus pelo vidro dum automóvel qualquer. Podem ser assassinos em série, ateus ou pastores da Igreja Universal, comunistas ou fascistas, que nunca sabemos. A única certeza que podemos ter é que cada uma dessas pessoas tem uma vida tão grande e complexa como a nossa. E isso só por um motivo: o Amor. Todos nos apaixonamos às vezes e desapaixonamos outras, e a nossa vida acaba por andar à volta disso.
Com o tempo percebemos que as pessoas por quem nos apaixonamos vêm sempre desse enorme e imprevisível grupo. Um homem pode viver com uma mulher dez ou vinte anos e um dia tem uma surpresa. Não a conhecia o suficiente e por algum motivo deixa de gostar dela ou ela dele. É que nunca sabemos também, de facto, por quem nos apaixonamos nem quem levamos para a cama. É nessa altura que vem outra surpresa ainda maior: nem sequer a nós próprios nos conhecemos.
Somos sempre mais frágeis e vulneráveis do que pensávamos. Toda a estrutura que tínhamos como certa desaparece de repente deixando-nos a espernear num vácuo de emoções. É assim a primeira desilusão do Amor. Passa-se do tudo ao nada à velocidade da luz.
O vácuo dá-nos uma dose brutal de realidade ou, se preferirem, de humildade. Afogamo-nos na nossa própria condição humana de que somos apenas matéria e o resultado de inúmeros processos químicos que nela se dão. É assim que amamos, choramos e rimos, ao sabor das substâncias químicas que correm no nosso corpo como um rio. Ora calmo, ora agitado.
Foi nesse rio que esbracejei para tentar alcançar uma margem qualquer, nadando contra correntes sem direcção. Tentei desprezar o Amor e reduzi-lo a isso mesmo: uma equação química qualquer. Acho até que o consegui durante algum tempo, mas nem por isso deixei de me sentir náufrago. Até um dia em que essa equação se tornou maior do que eu. Apaixonei-me outra vez e abandonei por um momento o contexto materialista da vida. Voltei a sentir o sorriso como felicidade e o choro como tristeza. A Raquel era a Raquel e não uma lógica qualquer que já nem sei explicar.
Ainda bem que nunca fui grande aluno a Ciências. Não nos conhecermos não faz mal nenhum. Afinal, mais coisa menos coisa, somos todos o mesmo.
Não fazemos a mínima ideia quem são aqueles com que nos cruzamos todos os dias. O homem atrás de nós na fila do supermercado, a mulher que senta ao nosso lado no cinema, o idoso que nos pede um lugar sentado no comboio ou a criança que no diz adeus pelo vidro dum automóvel qualquer. Podem ser assassinos em série, ateus ou pastores da Igreja Universal, comunistas ou fascistas, que nunca sabemos. A única certeza que podemos ter é que cada uma dessas pessoas tem uma vida tão grande e complexa como a nossa. E isso só por um motivo: o Amor. Todos nos apaixonamos às vezes e desapaixonamos outras, e a nossa vida acaba por andar à volta disso.
Com o tempo percebemos que as pessoas por quem nos apaixonamos vêm sempre desse enorme e imprevisível grupo. Um homem pode viver com uma mulher dez ou vinte anos e um dia tem uma surpresa. Não a conhecia o suficiente e por algum motivo deixa de gostar dela ou ela dele. É que nunca sabemos também, de facto, por quem nos apaixonamos nem quem levamos para a cama. É nessa altura que vem outra surpresa ainda maior: nem sequer a nós próprios nos conhecemos.
Somos sempre mais frágeis e vulneráveis do que pensávamos. Toda a estrutura que tínhamos como certa desaparece de repente deixando-nos a espernear num vácuo de emoções. É assim a primeira desilusão do Amor. Passa-se do tudo ao nada à velocidade da luz.
O vácuo dá-nos uma dose brutal de realidade ou, se preferirem, de humildade. Afogamo-nos na nossa própria condição humana de que somos apenas matéria e o resultado de inúmeros processos químicos que nela se dão. É assim que amamos, choramos e rimos, ao sabor das substâncias químicas que correm no nosso corpo como um rio. Ora calmo, ora agitado.
Foi nesse rio que esbracejei para tentar alcançar uma margem qualquer, nadando contra correntes sem direcção. Tentei desprezar o Amor e reduzi-lo a isso mesmo: uma equação química qualquer. Acho até que o consegui durante algum tempo, mas nem por isso deixei de me sentir náufrago. Até um dia em que essa equação se tornou maior do que eu. Apaixonei-me outra vez e abandonei por um momento o contexto materialista da vida. Voltei a sentir o sorriso como felicidade e o choro como tristeza. A Raquel era a Raquel e não uma lógica qualquer que já nem sei explicar.
Ainda bem que nunca fui grande aluno a Ciências. Não nos conhecermos não faz mal nenhum. Afinal, mais coisa menos coisa, somos todos o mesmo.
16 comentários:
eu sempre gostava de saber de onde vem tanta sabedoria! adoro estes textos, deliciosos.
Adorei:)POrquê complicar quando na verdade é bem simples, não é!?:)
Bom fim de semana,
DM
mary, obrigado. muita ou pouca, a sabedoria começa sempre na ignorância. :)
dm, obrigado. bom fim de semana. :)
Sim, porque mais difícil de compreender uma pessoa é conhecermo-nos a nós próprios, e às vezes damo-nos conta que afinal o que nós pensávamos que éramos, há ali qualquer coisa que é bem diferente. Bom texto :)
perfeito! depois de uns tempos sem aqui vir apraz-me ver que continuas perspicaz.
e sim, a química e a física são importantes...mas mais importante que isso é aquilo que não conseguimos explicar :)
filipe, obrigado. :)
c, exacto. :)
Mais uma vez... FABULOSO!!
Sigo Blogues muito bons, mas o teu, tem qualquer coisa...
Amanha ja te vou assaltar mais uma vez bagaco amarelo ;)
Abraço forte
luis pires, obrigado. abraço. :)
curioso, ainda hoje passei por um autocarro e ao olhar para os passgeiros, pensei isso mesmo...quem será toda esta gente à minha volta..que emoções. alegrias, mágoas, crimes, sonhos terão? ... Passamos pelos corpos físicos mas a alma fica sempre inatingível!...Quanto ao Amor...preferi deixar de equacionar seja o que for...afinal a solução muitas vezes não é o que esperava ou até tem mais que uma solução...vivamos o Amor...
mikashi, :)
Dou por mim a ler-te e a pensar "Já pensei isto" e até já o disse a alguém.
É verdade, não conhecemos ninguém e quando acreditamos que conhecemos salta da árvore da vida uma folha já seca... Oh que desilusão! Oh que surpresa! Nunca pensei que fosses assim...
Bom fim-de-semana :)
xana, a incompreensão não tem que ser sempre desilusão... já me desiludi muito com algumas pessoas. depois percebi que nem sequer tenho esse direito. :)
fizeste o melhor espelho da vida, parabéns...e sem essas dúvidas a vida não tinha piada nenhuma.
Fiquei a pensar que até aqueles seres humanos que padecem anos a fio amarrados a uma cama, sem poderem disfrutar de tudo o que descreves...porque aguentam tanto e por vezes dando lições de humanismo, humildade...AMOR??? Como conseguem dizer como há dias ouvi: Fatyly sou tão feliz, o meu amor está sempre do meu lado?
Em vez de "sentirmos o sorriso como felicidade (não uso máscaras nem para disfarçar e o choro como tristeza( por vezes choro também de alegria) perdemos um tempo danado "de barriga cheia" e quando damos por ele...já era!
Adorei!
fatyly, obrigado. :)
Oh... :-) continuo a gostar tanto, tanto, tanto de vir ler o teu blog! E como poucas coisas, melhora com o passar do tempo!
Beijinho
susana, obrigado. :)
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