respostas a perguntas inexistentes (213)
A idade é uma vara curta. Pensamos na quantidade de anos que alguém já viveu e imediatamente sabemos como se deve comportar. Se sair dessa lógica, dizemos muito naturalmente que "já não tem idade para isso" ou que "já tem idade para ter juízo".
Usar a idade como argumento para o que quer que seja, revela o quão falsos e ingratos podemos ser. Dizer a alguém que a sua idade não se adequa ao comportamento que teve é, antes de mais, revelar que não se tem argumento melhor e que apenas se quer chatear a pessoa em questão. "Sou um merdas, por isso digo-te que a tua idade não te permite fazer isso!".
Isto é tão assim, que o próprio Amor parece não se adequar a partir duma certa idade. É muito raro, para não dizer inexistente, vermos idosos de mãos dadas e aos beijos na rua, como se os sentimentos secassem dentro de nós com o passar do tempo. É, provavelmente, o maior medo que tenho.
É que nos meus quarenta e um anos sinto-me apaixonado como quando tinha quinze ou dezasseis e, pior ou melhor, sofro da mesma maneira. Basta-me estar uma tarde sem receber um telefonema de quem Amo, que começo a sentir no peito uma espécie de novelo de lã molhado. É uma sensação de abandono e uma mistura de tristeza com felicidade extrema. Nem sei bem o que é, mas sei que sempre tive e ainda tenho idade para isto.
Quando isto desaparecer em mim, eu também desapareço.
21 comentários:
Não te preocupes Bagaço. Está comprovado, por gerações e gerações de pessoas que chegam a velhas, que o coração não envelhece! Infelizmente, e custa-me a admitir a real razão,tentam convencer-nos do contrário.
Acredito que se os idosos não demonstram esses sinais de afecto agora não é pela idade, mas sim porque também já não o faziam quando eram novos.
Penso que os jovens (seja lá que idade tenham, estou a falar de espírito jovem) de agora continuarão a demonstrar o seu afecto até serem bem velhinhos, sim :)
cidreira, que não envelhece concordo, mas às vezes porta-se na mesma como se tivesse envelhecido. :)
Mam'Zelle Moustache, não está mal visto... talvez isso implique também a perda da carga emocional. :)
Estar apaixonado é maravilhoso. É a ansiedade da espera e sentir "aquelas" borboletas no estômago. Dei comigo a cheirar a almofada da cama, só para sentir a presença quente que é amar alguém. É o rir sem parar quando estamos com a pessoa que amamos e sentirmo-nos amados. Amar é como o ar que respiramos.
Laura
Textos fantásticos que aqui se lê, boa disposição. Fiquei fã.
Eu tenho 49 e ainda sinto isso:)
Tão verdadeiro que arrepia.
laura, obrigado. :)
alexandra carvalho, obrigado. :)
milureis, ainda bem. a geração é a mesma. :)
eli, a vida é um arrepio. :)
amém!
lembrou-me um texto de nuno ramos, do livro "ó":
http://maoscoloridas.tumblr.com/post/19237671127/idades
mirlla, nem conheço. :)
Uma das imagens mais bonitas que tenho na memória, é a de ver os meus avós abraçadinhos no sofá como se tivessem 15 anos... :)
Há quem diga que "quem não ama não vive....
E até tem alguma verdade...
a vida do ADULTo já é tão complexa que é tão bom que haja coisas...INTEMPORAIS ;)
esrtudante, boa. eu não tenho essa imagem. mesmo nada. :)
quase nos "entas", boa. exactamente. :)
É muito raro, para não dizer inexistente, vermos idosos de mãos dadas e aos beijos na rua, como se os sentimentos secassem dentro de nós com o passar do tempo. É, provavelmente, o maior medo que tenho.
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Esqueceste algo muito importante: os velhos (detesto a palavra idoso) que vês na rua são de uma geração que "isso parecia mal e eram bem penalizados". Já quando tu fores velho será bem diferente.
Os meus pais "eram p'ra frentex" e andavam sempre de mãos dadas e vezes sem conta vi-os a beijarem-se na rua, no carro, em despedidas etc.
Na véspera de ele morrer (com setenta e muitos) ri-me tanto com eles, já que ele disse-me assim: vou afinfar um beijo na tua mãe que hoje tá zangada comigo. Ai sim? Sim...e quase lutaram porque ela deu-lhe guerra mas ele venceu!
Não há idade para fazer o que nos der na real gana e digo-te por experiência própria:) e estou-me nas tintas para quem olhe e possa criticar. Ainda bem que falam...sinal que estou VIVA!
fatyly, obrigado pelo teu testemunho. ainda bem que é assim. :)
Aqui há uns meses ia no metro e ao meu lado ia sentado um casal já com uns 70 anos no mínimo. Iam frente a frente. Estavam a conversar em italiano, e eu não lhes estava a prestar muita atenção, até que, num momento em que os meus olhos tinham deambulado para a cara enrugada e divertida do senhor, a sua mulher se chegou à frente e lhe deu um beijo apaixonado. Fiquei sem saber para onde olhar, até que o senhor, quando ela já tinha voltado a sentar-se, me piscou o olho como quem diz "hem? já viste a minha sorte?" :)
pochinha, dá-me esperança, isso. :)
Várias coisas a analisar aqui...
Começando pelo inicio, realmente ouço muita gente dizer isso, eu tenho comportamentos e vejo coisas na TV que secalhar são coisas de crianças e tenho 25 anos, no entanto nao me importo nem um bocado. O melhor que há é crescer com a idade e não deixar de ser criança por dentro, e digo te mais: Só para simplificar aqui, existe a criança dentro de nós e existe o adulto. Os adultos que recusam-se a ter comportamentos supostamente de criança, é porque estão zangados com a criança dentro de si, tiveram uma infância e adolescência conturbada e nunca souberam lidar com isso, por isso tornam-se assim intolerantes para certas coisas. Isso diz muito sobre a pessoa. Ainda por cima, eu conheço muito "boa" gente que é exactamente assim, e tem comportamentos não de criança, infantis mesmo. É de uma hipocrisia incrível.
Em relação a ver dois idosos a beijarem-se, secalhar é tão estranho porquê temos conceitos enraizados que não nos permite visualizar isso sem estranhar, a mim próprio me acontece isso e tento lutar contra essa tendência. Mas não há nada mais bonito do que ver dois idosos apaixonados, acho que é o amor mais forte de eles todos :)
E o facto de aos quarenta e um anos te sentires assim, é fantástico! A paixão nunca deve desaparecer. O senhor é um jovem no seu intimo :) O que pode haver melhor que isso? Há muita gente que usa a idade como argumento porque são pessoas rancorosas e zangadas com elas próprias.
vicent silver, obrigado. :)
Há anos que acompanho este blog, mas raramente comento. Mas este post mexeu comigo, porque reflecte o momento que estou a viver.
Tenho 27 anos, fui casada durante 6, e o meu casamento morno foi esfriando com o passar do tempo até ser apenas uma grande amizade, muito companheirismo e carinho, mas nada mais que isso. Mas fomos aguentando, sempre esperando que melhorasse, que tudo se resolvesse. Mas a verdade é que nunca poderia vir a ser algo que nunca foi.
Até ao dia em que conheci o M. Ele tem o dobro da minha idade. Não, não é daqueles cinquentões bem conservados e, como se diz hoje em dia, metrossexuais. É um homem vivido, que aparenta bem a idade que tem, que já passou por muitos revezes, que passou por dois divórcios e muitas amarguras.
Há quase dez anos que ele tinha fechado a porta ao amor, que se resignou a viver sozinho, refugiando-se no trabalho e vivendo em função das filhas. Até que apareci eu.
O amor não tem idade, nem muito menos as demonstrações, públicas ou privadas, de afecto. Borrifamo-nos literalmente para os olhares alheios perante os nossos carinhos e a nossa cumplicidade.
E foi com o M. que o meu coração descongelou, que voltei a sentir coisas que há muito não sentia, e outras que nunca tinha sequer experienciado.
Infelizmente, o início da nossa ainda curta relação foi marcado por um drama familiar bastante grave. Mas nem isso esfriou o nosso amor. Continuo a pensar nele a cada instante, apesar de vivermos juntos. E continuo com borboletas no estômago sempre que o vejo surgir, e o toque da pele dele na minha, nem que seja uma breve carícia, deixa-me o coração em alvoroço.
Os sentimentos não secam com os anos. Nós é que aprendemos, erradamente, a fechar-nos. A sociedade ensina-nos que "já não temos idade" para fazer certas figuras. E o sofrimento leva-nos a congelar o coração, numa tentativa vã de o resguardar contra a infelicidade. Mas hoje, sofrendo como ainda sofremos com o que aconteceu, posso afirmar que prefiro sofrer e amar, do que não sentir nada e passar pela vida incólume, sem que o meu dia-a-dia tenha qualquer sentido, numa espécie de travessia do deserto emocional.
Também eu, tal como tu, desapareço no dia em que perder a capacidade de amar, de me entregar, mesmo sem saber se irá durar um dia ou uma vida.
anónima, obrigado. gostei tanto de te ler. :)
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