respostas a perguntas inexistentes (183)
Às vezes, só às vezes, parece-me que o mundo se divide em pessoas que Amam e pessoas que não Amam.
Isto porque tenho uma amiga que não Ama, e quando digo que não Ama é porque não o faz nem o quer fazer. Convida-me de vez em quando para ir a casa dela beber um chá e conversar um bocado, mas nunca sai nem quer sair de casa. E fico ali, horas a fio, a assistir ao seu ar felino de quem não precisa de ninguém.
Muitas vezes, mesmo muitas vezes, ainda estou a limpar os sapatos e já estou também a perguntar-lhe se está tudo bem, assim como quem não quer a coisa e na esperança de que ela me diga que não. Quero que ela me conte uma desilusão de Amor qualquer, só para lhe sentir vida. Mas até hoje nunca o fez. Responde sempre que sim, que está tudo bem.
Quando comecei a namorar passei em casa dela e levei uma garrafa de vinho. Esperava que ela, ao saber da minha novidade, finalmente levantasse o véu sobre qualquer coisa que eu desconhecesse. Uma antiga paixão de adolescência, um Amor proibido ou mesmo um beijo solitário qualquer.
- Conheci uma mulher de quem estou a gostar bastante! - disse-lhe eu lançando o isco.
- Óptimo. - respondeu ela enquanto abria a garrafa e fechava a conversa.
Ontem perguntei-lhe, depois de ganhar finalmente coragem, o que é que faz uma pessoa que passa a vida a não Amar. Ela respondeu-me, para meu grande alívio, que faz o mesmo que as outras pessoas todas mas sem o dividir com ninguém. Percebeu a minha pergunta e percebeu que era sobre ela que eu falava. Menos mal.
Tinha-me feito um chá qualquer com alguns sabores exóticos, que me sabiam bem mesmo sem eu lhes conhecer o nome. Peguei neles como se pega num ingrediente qualquer essencial da vida e disse-lhe que, se eu soubesse fazer um chá assim, ia querer dividi-lo com alguém muito especial na minha vida.
- Estou à espera de encontrar um homem como eu. Um homem que queira estar sempre só, para poder dividir a sua solidão comigo. A minha solidão é a única coisa que eu posso dividir com alguém.
Fiquei a olhar, através da janela, para as luzes das ruas que se estendem até ao mar, a ver se encontrava nelas a resposta que não me nascia nos lábios. Desarmado, ia tentar explicar-lhe isso mesmo, que é ali nas ruas da cidade que está essa resposta. Mas ela, com o ar mais natural do mundo, pegou na minha caneca vazia e perguntou-me se eu queria mais chá.
Isto porque tenho uma amiga que não Ama, e quando digo que não Ama é porque não o faz nem o quer fazer. Convida-me de vez em quando para ir a casa dela beber um chá e conversar um bocado, mas nunca sai nem quer sair de casa. E fico ali, horas a fio, a assistir ao seu ar felino de quem não precisa de ninguém.
Muitas vezes, mesmo muitas vezes, ainda estou a limpar os sapatos e já estou também a perguntar-lhe se está tudo bem, assim como quem não quer a coisa e na esperança de que ela me diga que não. Quero que ela me conte uma desilusão de Amor qualquer, só para lhe sentir vida. Mas até hoje nunca o fez. Responde sempre que sim, que está tudo bem.
Quando comecei a namorar passei em casa dela e levei uma garrafa de vinho. Esperava que ela, ao saber da minha novidade, finalmente levantasse o véu sobre qualquer coisa que eu desconhecesse. Uma antiga paixão de adolescência, um Amor proibido ou mesmo um beijo solitário qualquer.
- Conheci uma mulher de quem estou a gostar bastante! - disse-lhe eu lançando o isco.
- Óptimo. - respondeu ela enquanto abria a garrafa e fechava a conversa.
Ontem perguntei-lhe, depois de ganhar finalmente coragem, o que é que faz uma pessoa que passa a vida a não Amar. Ela respondeu-me, para meu grande alívio, que faz o mesmo que as outras pessoas todas mas sem o dividir com ninguém. Percebeu a minha pergunta e percebeu que era sobre ela que eu falava. Menos mal.
Tinha-me feito um chá qualquer com alguns sabores exóticos, que me sabiam bem mesmo sem eu lhes conhecer o nome. Peguei neles como se pega num ingrediente qualquer essencial da vida e disse-lhe que, se eu soubesse fazer um chá assim, ia querer dividi-lo com alguém muito especial na minha vida.
- Estou à espera de encontrar um homem como eu. Um homem que queira estar sempre só, para poder dividir a sua solidão comigo. A minha solidão é a única coisa que eu posso dividir com alguém.
Fiquei a olhar, através da janela, para as luzes das ruas que se estendem até ao mar, a ver se encontrava nelas a resposta que não me nascia nos lábios. Desarmado, ia tentar explicar-lhe isso mesmo, que é ali nas ruas da cidade que está essa resposta. Mas ela, com o ar mais natural do mundo, pegou na minha caneca vazia e perguntou-me se eu queria mais chá.
22 comentários:
Mecanismos de defesa. Pode ser uma pessoa que ame muito, intensamente e que tenha sofrido e se decepcionado por se entregar inteiramente.
Parece-me que Ela ama pelo menos um amigo com quem toma chá, e poderão haver mais, mas parece-me também que para encontrar um outro alguém especial deveria sair de casa. Talvez possas tentar puxá-la, e convidá-la para ir tomar o chá num salão de chá especial com scones e outras pessoas...
carmo, yep... mas para quem a conhece isso é estranho. :)
redonda, é mais difícil do que parece. :)
amar é um mistério da vida e como tal, não é passível de se programar. muita gente tem esta ideia que basta fazer um aceno com os dedos e o amor vem...porque obedece aos nosos caprichos e vontades...
mas não obedece!
deixa a tua amiga, não há nada de errado, nem sempre temos que estar amar um homem/mulher
a vida é feita do dia, versus a noite!
Conheci uma pessoa assim, que perferia estar só. Não nos cabe a nós estender a solidão dos outros, se calhar são felizes assim.
anónimo, com certeza que sim, que a deixo. :)
maria, passa por aí, sim. :)
Somos muito ensinados a seguir modelos e quando encontramos alguém que não segue um padrão específico, estranhamos.
Não é possível amar na solidão? Não é possível dividir a própria solidão com outra pessoa? É claro que não! Amar é partilhar os bons e os momentos ruins, é estar sempre junto ao outro, é superar todas as coisas ruins que a vida traz... É partilhar do próprio corpo e dar à luz ao fruto do amor.
Quem não fizer nada disso é porque não ama. Até o amor tem suas regras e convenções.
anónimo, é isso mesmo, sim. :)
Muitos solitários vivem juntos, se casam, formam famílias e tudos mais. Vejo isto o tempo todo e tenho muito medo, não quero ser um solitário acompanhado.
Gosto do teu blog amigo, dos diálogos e dos textos/crônicas. Leio-o devagar, quase todos os dias como a quem deixa um pote de sorvete na geladeira e vai beliscar quando dele lembra.
Que lhe sejas um bom dia!
maycon marques, acho que não tens que ter medo daquilo que não queres ser. é só preciso um bocadinho de força para seres outra coisa. obrigado e um abraço. :)
Percebo a tua amiga e sei que maior parte das pessoas não a entende, não entende/atinge que se pode sêr feliz na Solidão. Demora tempo e exige esforço mas em troca traz-nos um maior e melhor conhecimento interior.
Estou sozinho vai a caminho de 3 anos e normamlmente fico por casa; quando saio é para ir têr com os amigos e não é de todo minha intenção procurar alguém. Vejo as mulheres que passam, aprecio-as, mas não meto conversa porque simplesmente estou bem sozinho e, pelo menos por enquanto, pretendo mantêr-me assim. Não procuro "one night stands", relações ou "ralações". Procuro sêr feliz, mesmo estando sozinho, por mais confuso ou impossível que isso possa parecer.
RuiM
"Um homem que queira estar sempre só, para poder dividir a sua solidão comigo".
Hmm, perante esta resposta o que podes fazer? Talvez continuar a ser amigo, paciente, conversar sempre com ela. O que ela quiser falar, um dia fala.
EJSantos
Felizmente não somos todos iguais.... felizmente não gostamos todos de amarelo... mas lá que a forma como algumas pessoas escolhem viver é estranha... lá isso é...
RuiM, sim, eu percebo isso. este texto nem é um crítica a nada. sou a tentar dizer o que não consigo dizer doutra forma. :)
ejsantos, e nem é preciso falar. :)
tm, todos somos estranhos, por isso ninguém o é, acho eu... :)
do teu texto, ressalta a ideia, que só quem não tem " companhia " é que está só...
pois a realidade, é que esta permissa está redondamente errada!
pode-se estar só e não se sentir solidão... e pode-se estar ou " ter " alguém e sofrer de solidão...
nada é definitivo, nem estático!
além do mais, não penso que estar só, é negativo, é igual a estar com alguém... simplesmente pode ser fácil ou dificil, em ambas as vivências!
(estás a ter muitos "anónimos?! " ).
have fun!
anónimo, por acaso não acho que ressalte essa ideia, até porque não concordo com ela. :)
Já pensaste na questão de há pessoas que não têm jeito ou queda ou sorte de encontrar alguém?
Compreendo perfeitamente o que ela diz e disse-o, a meu ver, sem qualquer tipo de desgosto mas numa de saudável (não sei, não a conheço),porque também eu vivo sozinha há anos e dividira a minha solidão saudável com alguém, uma vez que me livrei de "uma solidão terrível quando acompanhada". Não estou numa redoma, nem fechada em casa, olho e ando muito na rua, não apareceu e vou fazer o quê? engates por engates só mostrar...enfim!
Não sei se me fiz entender!
fatyly, fizeste.te entender, sim. e eu concordo. :)
Lindo! Descreveste-me!
daisy, :)
É curioso... Conheço alguém com o mesmo discurso. E também me questiono, acerca do motivo da sua escolha, pela solidão. Coloco a hipótese dessa pessoa até amar alguém, mas que, por algum motivo, possa ser uma relação impossível... Há pessoas que conseguem passar muito tempo a amar alguém, mesmo quando é um sentimento proibido... E quando o coração está ocupado com esse sentimento não há necessidade de saír à rua para conhecer mais ninguém, porque a pessoa que amamos, já existe.
É tudo uma questão de tempo até essa pessoa querer optar por conhecer outra forma de amar!
De resto... É muito dificil controlar os sentimentos e compreender os mecanismos que os desencadeiam!
tânia m, concordo, sim... é por isso que o Amor não é dizível. :)
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