10.19.2011

pensamentos catatónicos (261)

tempo é dinheiro?


Desde criança que ouço dizer que o tempo é dinheiro. Quer isso dizer que o tempo que se pode gastar a ganhar dinheiro é tempo que não se deve gastar a fazer mais nada. Tem piada, porque embora eu nunca tenha gostado dessa frase, acho foi nisso mesmo que nos tornámos. Falo de nós todos, Homens, cuja maioria defende com unhas e dentes que se deve sofrer em nome do bem estar da Economia.
Eu acho que a Economia é que nos tem que servir a nós, e por isso inverto por impulso a ordem da frase. Acho que o dinheiro é que é tempo. Tenho a tendência para tentar transformar o pouco dinheiro que tenho em tempo, em vez de transformar o meu tempo em dinheiro. Não o faço tanto quanto gostaria, claro, mas isso é porque tenho que comer qualquer coisa.
Fico sempre desiludido nos dias de eleições, não apenas por os portugueses terem a mania de escolher para seus governantes pessoas em que eu não acredito minimamente, mas principalmente por perceber que a grande maioria de nós não dá importância nenhuma ao tempo, ou seja, à vida. Por exemplo, actualmente, parece que é legítimo vivermos menos para conseguir pagar uma dívida que ninguém percebe bem como é que cresceu tanto. A crise não é apenas essa dívida, portanto. A crise é que ninguém gosta de viver. A maior parte das pessoas que votam nos partidos do poder são pessoas tristes, e isso causa-me tristeza a mim.
Por dedução se percebe facilmente que abdicar do tempo em nome do dinheiro implica Amar menos. Muito menos, e talvez por isso a solidão cresça a olhos vistos entre essa mania estúpida. É uma pena, porque se não fôssemos assim, estúpidos, podíamos definitivamente viver mais e melhor. Todos nós.
Uma certeza que tenho é que um dia vou morrer. Quando isso acontecer espero ter conseguido transformar o meu dinheiro no máximo de tempo possível. Isso quer dizer que Amei o mais possível também. O resto: a dívida que os bancos nos impingiram, a história da formiga que trabalha no Verão para poder comer no Inverno e o provérbio que diz que tempo é dinheiro... que se fodam!

22 comentários:

Anónimo disse...

Grandes verdades neste teu post, não poderia concordar mais contigo, e se grande parte de nós pensa-se assim o nosso pais não estaria no estado em que está .
O pior em que pagamos todos por uma maioria "votante" que não sabe pensar.

Fatyly disse...

"e que se fodam"...MESMO!

Ivar C disse...

maria, pois... é deprimente. :)

fatyly, :)

Anónimo disse...

"Por dedução se percebe facilmente que abdicar do tempo em nome do dinheiro implica Amar menos."

Nem sempre, o probelma é que há excesso de Amor pelo dinheiro.

CR

Ivar C disse...

cr, eu estava a falar de Amor mesmo. :)

Anónimo disse...

Também eu, ou duvidas que haja pessoas que o que sentem pelo dinheiro é Amor mesmo? :)
CR

Carmo disse...

Subscrevo e por experiência própria admito que prefiro ter mais tempo do que ter mais dinheiro e não ter tempo para o disfrutar...

:)

Ivar C disse...

cr, na minha definição de Amor, não, não é, mas percebo onde queres chegar. :)

carmo, exacto. :)

Carmo disse...

Mas ter tempo e ter dinheiro é ainda melhor... vive-se tranquilamente!

Ter tempo, dinheiro e amor... tb já tive, vamos ver quando esse Amor me bate à porta de novo, sinto saudades de estar apaixonada... é algo que nos faz sentir vivos, completos, sei lá...

Ivar C disse...

carmo, dinheiro vou tendo pouco, ou seja, o que ganho com o meu trabalho e uns biscates raros... de resto nem me queixo... :)

Girl in the Clouds disse...

Muito bom!!

Ivar C disse...

girl in the clouds, obrigado. :)

H. Santos disse...

Aprecio a generalidade do post, mas creio que a parte da economia nos ter de servir a nós, soa um pouco a "bom dizer politicamente correcto".

Passo a explicar, notoriamente, temos de servir a economia, caso contrario era um caos. Mal ou bem a economia que temos é o melhor sistema organizacional do capital que temos. E o pior mesmo de tudo e o que nos põe em crise, são as pessoas, a atitude das pessoas em relação a vida e ao seu papel na sociedade.

Toda a gente sabe o seu contributo para a sociedade, incluindo os políticos, mas, como bem manda a tradição latina, fazer as coisas no limite do suficiente, deve bastar e a negligência passa a ser a ordem do dia. Ok, em certos sectores, fazer menos meia hora de trabalho ou atrasar a produção 10 minutos depois do almoço não existe grande mal. Mas no que toca ao sectores mais elevados e com maiores responsabilidades, um atraso pode ser fatal para o sistema inteiro.

Digo isto tudo porquê, não precisamos de sair mais cedo do trabalho, nem trabalhar menos, muito menos ter mais tempo, o importante mesmo é saber rentabilizar o tempo que temos. Viver mais e saber viver, são coisas bem distintas. Logo, há sempre tempo para amar, nunca se amando de menos.

Aceito, completamente o teu apelo a vida e a maior consciencialização das pessoas na altura de tomar decisões importantes para a mesma (caso da politica e afins), estou completamente de acordo.

Mas amigo, o tempo sempre será dinheiro por mais que o mandes foder, pois, dependendo da forma como encaras o factor dinheiro, o tempo é precioso ($$$$)


Ps: Espero ter passado a minha ideia, é que não se trata de um comentário destrutivamente critico nem de um contra-post. Continuas em grande ;)

Ivar C disse...

cota, deixa-me dizer-te que não concordo em nada com o que dizes, e no modelo económico actual (o neoliberalismo implantado desde 1973 por Friedman no Chile) não é nada politicamente correcto dizer que a Economia nos deve servir a nós. Antes pelo contrário.
Mas o que eu considero mais interessante é tu dizeres que seria um caos pôr a Economia a servir as pessoas, porque no Caos estamos nós agora com o princípio oposto. O socialismo é um modelo económico que serve as pessoas sem se atingir caos nenhum, porque é sustentável social e ambientalmente.
E quando eu digo que podíamos trabalhar menos, podíamos mesmo. Não o digo da boca para fora. Digo-o porque a produção de riqueza tem aumentado exponencialmente desde a Revolução Industrial, mais do que a população mundial. portanto o problema está na concentração de riqueza no capitalismo, e na variável desemprego que se mantém artificialmente para que a propriedade vença o valor do trabalho. Isto são ideias marxistas e não conversa de café, atenção!
E sim, no modelo que eu defendo, um em que o capital financeiro é desprezado a favor do capital produtivo, o tempo não é dinheiro mas sim o contrário.
Dentro das minhas limitações, este texto é uma forma de traduzir emocionalmente aquilo em que acredito racionalmente, ou seja, a minha orientação política.
Abraço, :)

Malena disse...

Pena que a maioria seja fodida pela economia e não possa ter dinheiro para comprar tempo! :(
:)

Ivar C disse...

malena, é assim, de facto, enquanto deixarmos. :)

H. Santos disse...

Amigo, com uma diversidade de opiniões, oportunidades de negócio, graus de formação, e vocações, como poderia uma Economia servir cada uma das pessoas!!? Tenho imensa curiosidade em saber como poderíamos por a Economia a servir as pessoas.

Eu não acredito no valor das pessoas enquanto indivíduos perante a sociedade e no seio do seu quotidiano. Na relação homem-homem, a meu ver, não existe diferenciação e deve existir igualdade de direitos e repeito mútuo. Porém, a nível profissional, acredito que devam existir hierarquias e maior incentivo para quem é criativo e faz realmente a diferença, em prole da comunidade.

Não me considero um capitalista, e concordo que a propriedade não deve exceder o valor do trabalho. Mas dentro do meu desconhecimento da politica, diz-me, como podia uma Economia incentivar os indivíduos notáveis de uma certa comunidade e ao mesmo tempo manter o valor da propriedade dentro da mesma, visto que cada pessoa tem liberdade de aplicar onde quer o fruto do seu trabalho!?

Eu gostaria de poder falar mais sobre isso e perceber melhor o que poderia ser feito para melhorar as coisas.

Ivar C disse...

cota, longe de mim decidir sozinho como é que as coisas se devem fazer. uma sociedade melhor do que esta, ou um modelo económico mais justo (é disso que estamos a falar) tem que ter a contribuição de todos.
Mas não deixo de pensar que quem põe as coisas nesses termos, em que "tem que haver incentivos para quem é mais criativo" (e acredita que sei que isso é o senso comum actualmente) não deixa de ser alguém que vive num profundo sentimento de egoísmo, porque parece que o bem estar de todos ou o bem estar geral não serve de incentivo para sermos mais criativos, produtivos ou outra coisa qualquer. Enfim, a minha pilinha tem sempre que ser maior do que a do vizinho, e é uma pena.
Acredita que não te estou a chamar egoísta a ti, até porque não mo pareces de facto. Estou a ser sincero e apenas acho que te deixaste levar por esse... senso comum.

H. Santos disse...

Ok amigo, não discordo do facto de que a realização das pessoas devia estar presente assim que o bem geral fosse estabelecido e as carências da comunidade supridas. Mas ( e porque existe sempre um "mas"), não podemos ver as coisas estritamente nesse termo, pois, conhecendo a maioria das pessoas como conheço, muitos sectores laborais estariam em sérios riscos de desertificação se, de facto, a recompensa fosse essa.

Achas mesmo que os cientistas de alta-tecnologia, por exemplo, se iam submeter a perder a sua juventude em incansáveis pesquisas, se pudessem ter uma vida completamente igual sem ter de passar por tudo aquilo!!? Todas aquelas directas!!? Todos aqueles litros de café!!? O mesmo se passa com os homens que levantam vigas de metal, por vezes com a força do próprio corpo (estes, de facto, muito mal ressarcidos pelo seu trabalho).
Existem carreiras que exigem extremos sacrifícios e acho sim senhor que deve existir recompensa por isso, peço imensa desculpa se isso faz de mim uma pessoa egoísta. Nunca me julguei como tal, mas se isso implica manter o meu senso de justiça, talvez o seja, talvez seja egoísta.

Amigo, eu não digo que devam existir as discrepâncias que existem de pessoas a receber mais que uma unidade fabril inteira, atenção. Mas tudo igual!? Não sei como seria, era coisa de experimentar, realmente, para ver os frutos disso.

Ps: Como vês, não estou a ser levado pelo senso comum. Acredito piamente que as pessoas devem ser compensadas pelo volume de trabalho que têm.

Ivar C disse...

cota, meu amigo, não sei onde é que foste buscar o "tudo igual". nós não somos todos iguais à partida. todos nos distinguimos do nosso semelhante apesar de ser mais aquilo que nos une. Aquilo que nos separa, no entanto, não tem a ver com a nossa riqueza, tem a ver com biologia.
De qualquer maneira não penso nunca no "tudo igual", até porque não acredito no determinismo, e na verdade já ninguém acredita. Aquilo em que eu acredito, é que se Pitágoras, muito antes de Cristo ter nascido, tivesse guardado o seu teorema só para si à espera que alguém lhe pagasse, ninguém tinha feito telhados sustentáveis estes anos todos.
Acredito também que um cientista que tenta descobrir a cura duma doença qualquer, o faz em prol da humanidade e isso é o que mais o motiva. Espero que ele possa viver bem, claro, assim como espero que todos os outros o possam fazer também, para que tanto o gajo que varre a rua (e olha que é uma profissão fodida) como ele trabalhem em prol de todos.
Para que ambos vivam bem, é no modelo económico que temos que mexer, para que a distribuição da riqueza seja mais justa. Ninguém falou em que ganhem exactamente o mesmo. Isso está sujeito a discussão. Eu, por exemplo, acho que o varredor deve ganhar mais, porque é muito mais fodido varrer a rua do que estar num laboratório a trabalhar, e também para compensar o facto de ele não ter podido estudar tanto. mas aceito que isso se discuta... :)

Anónimo disse...

Aconselho, se ainda não viram, o visionamento do filme "INSIDE JOB".
Depois digam-me se não fomos e continuamos a ser enrabados à força toda, por meia dúzia de grandes anormais...
A Economia morre quando o Produtor não é o que fica com a maior parte do lucro. IMHO.

Ivar C disse...

josh gottam, já vi, sim... e também acho que todos o deviam ver. :)