10.18.2011

a árvore

Uma vez disse-lhe que a Amava. Assim, numa só palavra que no segundo seguinte já se tinha esfumado. Amo-te. E ela ficou a olhar para mim quieta, num estado que percebi ser de análise e igual ao do lobo que estuda a presa. Arrependi-me imediatamente de o ter feito.
As palavras não chegam para nada, muito menos para definir um Amor. São intocáveis e efémeras. É por isso que quando duas pessoas se Amam também se calam. Até costumam apagar a luz, para o silêncio ser ainda maior. Mas eu disse-lho com a luz acesa. E ela, a mulher, apagou-se.
Estávamos numa pastelaria. Eu a tomar café e ela a beber um chá. Eu bebi o meu num só gole, que queria sair dali o mais depressa possível. Ela demorou muito, acho eu que de propósito, e foi quando reparei nos dedos dela a abraçar a caneca. Eram bonitos, os dedos. Repete o que disseste, pediu ela. Eu recusei. Arrependi-me imediatamente de o ter feito.
Caminhámos pela cidade sem direcção. Eu sempre com vontade de a abraçar e ela sempre dois passos à minha frente. Estava frio mas eu tinha calor. Parámos debaixo duma árvore que, para meu alívio, já devia ter ouvido milhares de conversas de Amor. Não ia dar importância a mais uma. Disseste que me Amavas? Perguntou. Sim, respondi abanando os ombros como se assim pudesse enxotar o nervoso. Como é que me podes Amar se mal me conheces? E eu calei-me, não por não ter resposta mas sim por ter demasiadas respostas.
Hoje passei nessa árvore e parei dois segundos a olhar para ela. Ainda tem folhas, apesar de estarmos no Outono. Talvez não lhe apeteça despir-se. Depois disse-lhe, para o caso de lhe apetecer ouvir, que sim, que podemos Amar uma pessoa que mal conhecemos. A mim aconteceu-me e já lá vão três anos. É tão certo como podermos não Amar uma pessoa que conhecemos bem. Acho que ela se riu, não tenho a certeza.

14 comentários:

Carmo disse...

Muito romantico, sempre com alma!

:)

Tenho muita dificuldade em amar seja quem for, não consigo libertar-me dum sentimento tão 'ancestral'.

:|

Anónimo disse...

é tão verdade!!Tão verdade como termos pessoas na nossa vida há mt tempo e não as conhecermos de verdade..

Ivar C disse...

carmo, já pensei isso de mim, que tinha essa dificuldade. afinal não tinha. isso é mas é uma uma coisa que não nos acontece todos os dias. :)

never told words, até estatisticamente se percebe isso, pela quantidade de casos que acabam surpreendentemente mal. :)

Carmo disse...

Interessante, esse teu comentário. Faz sentido. Nesse caso vou relaxar e deixar as coisas acontecerem.

Anónimo disse...

Eu que o diga LOL

Ivar C disse...

carmo, é isso mesmo, acho eu. :)

never told words, eu estava a falar de cenas de violência e assim... :)

redonda disse...

Parece-me é que esta Ela não estava com um estado de espírito muito positivo...porque mesmo não estando apaixonada, será sempre algo de único e especial...(excepto numa situação de assédio por um psicopata com uma serra eléctrica ou se for um desconhecido...mas aqui, desde que seja um desconhecido simpático, pode ser engraçado e especial).

redonda disse...

E também me parece que nos podemos apaixonar por quem não conhecemos e que isso até acontece muitas vezes.

Anónimo disse...

Eu acho até que podemos amar e muito, durante algum tempo, mesmo que limitado.
O conhecimento é poder e sobre o amor não existe qualquer poder... ;)

Ivar C disse...

redonda, quer dizer... por acaso eu estava de gabardina sem mais nada vestido e com uma serra eléctrica na mão. :)

josh gottam, concordo totalmente... e o tempo não é tudo. :)

Tamensil disse...

Adorei, como sempre! =)

Olha, vou roubar o primeiro paragrafo do teu texto...transmite exactamente aquilo que sinto quando amo alguem: eu sei que amo e demonstro o, nao ha necessidade de estar sempre a dize-lo; as acçoes, para mim, valem mais do que a palavra.

Espero que nao te importes!^^

Beijinho*

Ivar C disse...

tamensil, na boa. obrigado. :)

Fatyly disse...

Nunca se conhece uma pessoa ...bem e quantas vezes, mesmo após anos e anos ao lado de..., tornam-se surpreendentes pela positiva ou pela negativa?

Adorei!

Ivar C disse...

fatyly, é que é isso mesmo. :)