estava a perguntar a mim mesmo como é possível amar uma mulher sem nunca ter falado com ela
Estava a perguntar a mim mesmo como é possível amar uma mulher sem nunca ter falado com ela. É que a amo mesmo, e para isso bastou-me tê-la uma vez a menos de dois metros de mim, com as pontas negras do cabelo a debicar num copo de uísque on the rocks. Até lhe construí um poema, e construir é o verbo adequado, já que o fiz com o mesmo esforço dum servente a carregar baldes de cimento. Suei todo o suor do corpo, depois suei as cervejas que já tinha bebido e depois suei os dias que ainda hão-de vir.
Estava a perguntar a mim mesmo como é possível amar uma mulher sem nunca ter falado com ela. Respondo agora que tem a ver precisamente com isso. O difícil é amar uma mulher depois de ter falado com ela. Talvez também de a ter ouvido. As palavras estragam sempre o amor, digo-me, e continuo pedindo um silêncio impossível. Será que aquela língua é tão doce como o uísque bebe?
27 comentários:
http://gatoaurelio.blogspot.com/2008/05/maonaria.html
;O)
ena, gato aurélio, hoje podíamos ter acordado ter ido tomar café juntos. :)
O café ficou frio. Chamaram-me ali ao lado. Fiz o que tinha a fazer e desculparam-se pelo incómodo. Apetece-me dizer: incomodem-me!
Sentada no balcão com o café frio e os olhos esfumados entre pestanas coladas de sonho. O relógio arrasta-se... Estou sempre desejosa que o tempo passe mais rápido, para depois chorar a celeridade com que as coisas me passam.
van cristjan
;O)
gato aurélio,
Ela empurrou a chávena com o dedo indicador da mão direita. Era tão fino e frágil, o dedo, que me surpreendeu a sua capacidade para empurrar uma chávena cheia de café.
Depois veio a voz, ainda mais frágil mas também mais forte. Está frio e não o bebo assim, disse ela. Eu fui pedir outro. Ainda pensei em protestar com a demora dela para resolver não sei o quê mas, tal como a chávena, eu já estava arrumado no canto das inutilidades.
:)
(...)
Horas europeias, produtoras, entaladas
Entre maquinismos e afazeres úteis!
Grandes cidades paradas nos cafés,
Nos cafés-oásis de inutilidades ruidosas
Onde se cristalizam e se precipitam
Os rumores e os gestos do Útil
E as rodas, e as rodas-dentadas e as chumaçeiras do progressivo!
(...)
Alvaro de Campos
lol
;O)
gato aurélio,
"Um café para acordar, pensei eu. Era de manhã e eu não percebia porque é que os edifícios já estavam todos de pé. Parecia que nem se tinham deitado durante a noite."
:)
Se você já acordou com o cheiro de café no ar, você sabe a diferença que isso pode fazer entre este dia ser um bom ou mau dia. Este despertador além de acordar na hora certa, começa a emitir aroma de café, para ajudá-lo a despertar.
http://www.vejaisso.com/2007/01/12/aroma-despertador-que-acorda-com-o-cheiro-de-cafe/
;O)
gato aurélio,
"comprei aquele objecto e levei-o para casa debaixo do braço. nesse dia não fui de táxi. queria passeá-lo pela quinta avenida e ver-me no reflexo da montra do meu café habitual com ele" :)
Ao chegar à avenida, abrandei o passo. Os rostos que se me deparavam eram lisos, não apresentavam quaisquer traços. Sabia que olhavam em frente, sabia que falavam em frente, sabia que respiravam em frente, mas os rostos eram lisos. Sem rosto, é sem ideias; sem ideias, é sem perigo. Eram homens/mulheres/anjos cinzentos, eram nomes cinzentos. O meu reflexo nas montras apresentava um rosto liso, sem traços, cinzento. Sabia que era o meu, mas não o reconhecia. Passei as mãos pelo rosto, via as minhas mãos a cruzar o meu rosto no reflexo, sentia-me eu, mas o reflexo não era o que eu sentia. Aterrorizado, comecei a correr: seria uma ideia?
Pedro P.
;O)
gato aurélio,
Foi a primeira vez que pus em causa o meu corpo. Não sabia onde ele começava ou terminava. O meu cérebro chegou a tentar mover uma candeeiro de rua sem o conseguir. Só quando comecei a suar e reparei que os edifícios não o faziam, é que percebi que eu ainda era só eu. :)
Quantos canibais meu corpo poderia alimentar?
http://psysapiens.blogspot.com/2008/04/quantos-canibais-meu-corpo-poderia.html
;O)
gato aurélio, 13. o meu poderia alimentar 13... mas isso não devia depender também dos canibais? :)
Utilizamos os canibais como uma licença poética para mostrar que a maionese pode transformar hábitos. Nosso objectivo é mostrar que existem muitas formas de uso da maionese além das tradicionais. Pretendemos mostrar que o produto é versátil, saboroso e permite que pratos comuns e convencionais sejam verdadeiramente transformados pelo sabor de Hellmann´s, por isso, divulgaremos uma série de receitas tão saborosas que transformariam até canibais em vegetarianos.
Marcelo Câmara, gerente de marketing do produto
;O)
gato aurélio, com maionese o meu corpo só daria para um... porque ficaria delicioso. :)
Como diz Isabel Stilwell “Vale a pena seguir os manuais de Psicologia. Afinal não são tão diferentes dos de cozinha…basta juntar os ingredientes todos, tal como vem escrito”
;O)
bonito :)
gato aurélio, depois falta aprender o tempo de cozedura. :)
red, :)
Os anos ecoavam suavíssimos. Um vento escuro
furava as escarpas. Nos olhos azulados do tempo
o desgosto alastrava. Era
como o tactear de um cego silêncio, um livro
indecifrável, som repetido pela chuva, humedecendo
o cérebro. Do quarto onde me tinham posto eu via
o mar.
RUI DINIZ
;O)
gato aurélio,
depois percebi que sempre que via o mar dum quarto qualquer, era porque me tinham posto lá. Não por minha escolha... :)
quando eu morrer voltarei para buscar os instantes que não vivi junto ao mar.
Sophia de Mello Breyner
;O)
gato aurélio,
ainda a chamei quatro vezes. acho que foi o vento que levou a minha voz a mergulhar no bar. ela não me ouviu mas o mergulho soube-me bem. :)
(...)
Cientificamente o acaso é o que é constantemente recolocado no seu ser não estando
E constantemente se deslocando finalmente se coloca fora do seu ser em tudo estando e não
Serialmente acontecendo e não sendo
Pela sua deslocação constante no espaço ou no tempo ou no acontecimento.
A utilização humana do acaso é a consequência do acontecimento do acaso humano
que utiliza
e por ele é utilizado.
O acontecimento humano é um acaso que a todo o instante necessita colocação no espaço ou no tempo ou no próprio acontecimento do acaso em sua fronteira.
(...)
ANA HATHERLY
;O)
gato aurélio, depois percebi que a maré enchia, não para afogar a minha voz mas por causa da força gravitacional da Lua. Não importa, para mim era só para afogar a voz. :)
E eu queria entender o silêncio. Queria. Você conta até dez. Eu perdi minha vez. Era vinho branco. Mãos tocando.
Conte de novo.
(...)
Você não disse como acaba. Eu não sei como termina. Eu queria. Queria. Não aprendi a lidar com tempestades. Não me acostumei à calmarias.
Marcelo Silva Costa
;O)
gato aurélio,
Ainda agora acordei sozinho outra vez, só que com a sensação que tinha alguém ao lado. Não tinha. Não tinha mas aproveitei a sensação para falar contigo. :)
http://www.youtube.com/watch?v=LK8H7Qn3ifA
;O)
gato aurélio, :) faz parte da minha adolescência. :)
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