9.19.2007

notas sobre uma escola

A minha filha anda na escola de que, neste post do Divas & Contrabaixos, se fala e que, pelo menos quem tem filhos e é de Aveiro, deve ler.

No dicionário online da Priberam, a palavra escola quer dizer o seguinte:
estabelecimento de educação, público ou privado, no qual o ensino, geral ou especializado, é ministrado de forma colectiva e segundo uma planificação sistematizada;

Hum... deve haver algum dicionário onde a palavra escola quer dizer qualquer coisa como:
armazém de crianças, público ou privado, no qual elas são depositadas enquanto os pais estão a trabalhar;

16 comentários:

Elisa disse...

Li o que escreve a MRF no Divas&Contrabaixos... e é de facto lastimável. Mas... daí a afirmares que a escola (mesmo nestas condições que a MRF descreve) é apenas um armazém onde os pais depositam as crianças... etc, etc... é um pouco exagerado. Mesmo com esta falta de condições, a escola não é, seguramente só isso. É também o lugar onde os nossos filhos aprendem. E eles aprendem. E é o lugar onde diariamente os professores lidam com dificuldades múltiplas (falta de verbas, burocracia, etc). Sim, também é o lugar onde alguns professores se limitam a picar o ponto.
Mais ainda, e estou convicta de que não será seguramente o teu caso, o da tua ex. e o da MRF e marido... mas sabes tão bem como eu que a maior parte dos pais (os mesmos a quem dá jeito depositar as crianças pelo mais número de horas possível nas escolas) se demitiram à muito de participar. Essa falta de participação é, aliás, uma queixa recorrente das próprias Associações de Encarregados de Educação (os carolas, claro)... Temos uma escola insuficente, sem dúvida... mas temos pais também insuficientes, pais que acreditam que a escola se lhes deve substituir em muitas funções e que, por isso mesmo, se demitem de serem activos e de lutar para que as insuficiências sejam resolvidas. Ou seja: os pais têm a escola que merecem e a escola tem os pais que merece. É assim, em Portugal, em quase tudo. Esta demissão permanente daquilo que nos diz respeito, como cidadãos, como pais, como professores, etc.
Eu não tenho filhos, nem sou professora do Ensino básico/secundário... mas estas coisas fazem-me sempre saltar a tampa.

Ivar C disse...

Elisa, eu não quis dizer que é um armazém onde os pais depositam as crianças. Quis dizer que para alguns é, de facto, e por isso é que deve haver um dicionário por aí com essa definição.

Elisa disse...

E eu aproveitei e escrevi um tratado...

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

Elisa, é um facto que muitos pais se interessam pouco pela envolvente escolar dos filhos. Falta de formação, falta de modelos, falta de uma cultura de participação.
É também verdade que as crianças são muitas vezes "depositadas" nas escolas durante muitas horas. Mas não é por acaso que o Ministério aumentou o periodo escolar, criando as actividades extra-curriculares. Com este "suplemento", procura-se ocupá-las, aprendendo sempre, sim, se possível, porque os horários dos filhos não são compatíveis com os horários dos pais. Se não estiverem na escola, a maior parte das crianças fica aonde? Os avós e a "comunidade" de hoje já não são o que eram.
É a partir deste quadro que podemos avaliar os projectos escolares.

As actividades extra deviam, na minha opinião, reforçar a componente cultural e cívica (o déficit português é demasiado elevado!) e tentar colmatar as desigualdades sociais existentes, abrindo horizontes a todos, na área da música ou outras áreas artísticas, reforçando o prazer da leitura, criando hábitos de consulta em bibliotecas, fomentando o interesse pela ciência, etc.. O actual Projecto Petiz, fruto de uma colaboração com a UA, tenta aliás cumprir alguns desses objectivos.
Lamentavelmente começou mal. Mas logo veremos os resultados a médio prazo.

O que não me parece aceitável é que, por falta de vontade, por inércia, uma escola com 370 alunos não tenha ainda equipamentos básicos (biblioteca, pavilhão desportivo).

Última nota: Sempre senti os professores envolvidos e, sobretudo no 1º Ciclo, é quase impossível que se demitam das suas responsabilidades. Eles não são responsáveis apenas por leccionar uma cadeira (o que já é bastante); eles são os responsáveis por turmas de crianças. Deparam-se com dificuldades de toda a ordem e acho sinceramente que têm pouco apoio. Na mesma escola não existe um psicólogo ou assistente social que colabore (mesmo em tempo parcial) com eles. Vivem casos dramáticos com alguns alunos e estão completamente impotentes. Devido à orgânica que faz depender as escolas da sede do agrupamento, a burocracia é imensa; a compra de uma caixa de marcadores exige um requerimento e posterior aprovação. A autarquia é normalmente autista no que diz respeito a necessidades que só ela pode satisfazer. Etc., etc., etc..

Enfim, sendo certo que os recursos são sempre limitados e que é necessário fazer escolhas, continuo a lamentar a falta de (bons) critérios na base das decisões.

O método do "em cima do joelho" subsiste a olhos vistos. Os pais, esses, parecem, às vezes, nem ter consciência dos direitos dos filhos. Não há revolta. Os professores habituaram-se ao sistema e/ou precisam do seu trabalho, pelo que não levantam a voz. Os dirigentes (técnicos e políticos) agradecem certamente.

Fatyly disse...

Felizmente que já deixei de participar nessas batalhas, mas no tempo das minhas bem que lutei, barafustei, contestei e consegui(mos) muitos frutos, enquanto outros pais se tinham demitido há muito da educação dos seus filhos. Aliás os representantes dos piores nunca lhes vi a cara, quer em reuniões ou eventos.
Ninguém pede para nascer, mas felizes dos que nascem nos braços de um verdadeiro Pai e Mãe.

Boa sorte para a tua pequenina, e verás que um dia, lá muito longe...continuará a ser a tua pequenina.

Anónimo disse...

Desculpem-me a pergunta. Mas de q escola estamos a falar?

Ivar C disse...

anónimo, Escola Primária da Glória número 1

Elisa disse...

MRF
completamente de acordo com tudo o que dizes, obviamente...
embora a ideia de uma escola igual, inclusiva... seja uma quimera, como bem sabemos... e é uma quimera por tudo aquilo que tu sabes: os universos desiguais de onde provém as crianças continuam a manter-se desiguais, numa escola que (paradoxalmente?) promove um ensino 'massificado'. Bom, é exactamente por isso, claro. E o resto... o resto deve-se à inércia dos pais, dos professores, autarquias (no caso do 1º Ciclo), à burocracia monstruosa, exactamente... mas no caso desta escola... que terá uma Associação de Pais, imagino, não poderia esta fazer pressão para que a escola tivesse a biblioteca e o pavilhão desportivo? Digo eu... pelo menos aqui já se encontraram dois pais preocupados. Seguramente haverá mais. Um bando de pais preocupados e interessados é capaz de ter alguma força não?

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

Elisa, eu faço parte da AP da escola. O nosso cavalo de batalha o ano passado foi a melhoria das condições sanitárias---- e não imaginas a novela política!

É evidente que nos vamos bater pela biblioteca (mais simples que o pavilhão - este implica novo investimento da autarquia). Mas somos meia dúzia. Para além da primeira reunião do ano em que aparecem algumas dezenas de pais (num universo de 3 centenas de alunos), no resto do ano é difícil mobilizar as pessoas. As queixas que nos aparecem são pontuais e referem-se normalmente a situações particulares. Mas logo se verá! ;)

Beijo

Elisa disse...

Pois... a mobilização para a participação cívica é um desastre neste país e consequentemente a dita participação uma catástrofe... mas sei lá... eu não tenho filhos e não me meto nessas andanças... mas sempre pensei que (e estudos sociológicos lá o vão demonstrando...) quando os interesses directos das pessoas (ou dos seus filhos) estavam em jogo... a malta... enfim... envolvia-se mais. Mas por tudo o que já foi sendo dito até aqui... não. Pois. Olha... complteamente out of the blue e por curiosidade... tu andas dedicada a que área da sociologia?
beijinhos

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

Elisa, eu andei anos nos estudos de mercado - quanti, na Marketest, nos primeiros anos, e depois socio-pedagogia e quali____ e continuo nos quali como freelancer para uma empresa francesa. mais especificamente: estudos de imagem e posicionamento, pré-testes de campanhas publicitárias, desenvolvimento de novos produtos/serviços, etc.; metodologia de base: análise de conteúdo. E, out of blue (ou muito in blue), estou farta/não do trabalho/mas das temáticas marketeers! :)

beijos 4 Y 2

Elisa disse...

Desculpa a minha curiosidade MRF
:-) mas pronto somos ambas sociólogas, não é? E até estudámos juntas... bom, não na mesma faculdade, mas em casa da A. eh.. hum.. bom... não sei bem se estudávamos juntas, mas iamos muitas vezes juntas para os copos e assim, não era? Ai... eu ia dizer 'belos tempos' mas na verdade, estes também o são.
Parece-me interessantíssimo esse teu trabalho e a temática-de-que-estás farta. Eu se não fosse socióloga gostava de ter trabalhado no mundo da publicidade. Mas fico com o registo de que estás farta disso... e olha vai olhando (se estiveres interessada, naturalmente) para a página da UA, pode ser que apareça (e aparece às vezes) outro género de temática que te possa interessar e na qual possas colaborar, com essa tua experiência. Beijos.

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

Merda, Beta, eram mesmo bons tempos! Mesmo que estes não sejam maus...


E não, nunca estudámos juntas, foi mesmo só copos e uma viagem aos Açores, lembras-te?

(lembras-te de seres expulsa da Maré de Agosto por insultares o apresentador mariense? :)))))

Elisa disse...

eu fui expulsa da Maré de Agosto? Ai valha-me stª engrácia... que já não me lembrava dessa... rs... e insultei-o porquê? Eu era um bocado embirrenta e irritante (talvez ainda seja)... que o diga também o divorciado...
Pois nunca estudámos juntas... mas tu vivias com a A. e eu estudava com ela e íamos as três para os copos, exactamente. :)
Os tempos são eram um bocadito melhores que estes, porque eramos mais novas... acho eu

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

Foste expulsa por que sempre que o mariense vinha apresentar um músico fazia um discurso interminável sobre as qualidades dos marienses que sem meios organizavam um festival de música, e que não era um festival qualquer, e que somos poucos e pobres mas bons, blablabla, e de facto ficava tudo com vontade de lhe atirar pedras e ele que se despachasse para ouvirmos o Mário Laginha ou a Anamar (Anamar!). Nós ficávamos apenas com a vontade, tu expressavas livremente os teus sentimentos. Vai daí, o mariense disse, em cima do palco: prá rua! :)))

Mas estou a ver que não foi traumatizante. e ainda bem, porque as memórias que tenho são doces.

Elisa disse...

Senhores! Não fiquei de facto traumatizada. Ainda bem que expressava livremente o que pensava :-) que isso agora vai sendo cada vez mais raro. Ser adulto é muito triste, às vezes. Vivam os 20 anos!