9.12.2007

crónicas da cidade que sopra | as maçãs do rosto

Amanhã, no Diário de Aveiro:

É a segunda vez esta semana que põe na mesa dois pratos. Dois pratos, dois copos, dois guardanapos, dois conjuntos de talheres. Agora que pensa nisso, também está a fazer comida suficiente para duas pessoas sem ser preciso. Desde que está sozinha que costuma ir almoçar à praça de alimentação dum centro comercial qualquer, onde as faces dos outros vão mascarando a sua solidão de alguém capaz de sorrir, mas hoje voltou a almoçar em casa e a fazer instintivamente almoço para dois.

6 comentários:

Anónimo disse...

gostava de ler o texto todo. O Diário de Aveiro está on line?
As maçãs do rosto - adorei o título, adoça a solidão do texto com um suave aroma a maçãs recém-colhidas!
Carla

Ivar C disse...

carlinha, tenho alguns emails para os quais mando automaticamente as crónicas todas as semanas. se quiseres adiciono-te: manda-me o teu para bagacoamarelo@gmail.com :)

Elisa disse...

Ivar
se eu te disser como compreendo isto que escreveste... tu percebes? Durante muito tempo após, eu coloquei dois pratos, dois talheres, dois guardanapos e às vezes calhava até encher ambos os copos. A seguir ficava a olhar para aquilo com cara de (mais) parva. Como se acordasse de repente e a realidade se impusesse... Sem perceber muito bem como aqueles gestos rotineiros se me impunham inconscientemente.
Sempre detestei comer sozinha, mas a duplicação de copos e pratos e talheres e guardanapos não era para esmagar a falta de... era mesmo a imposição de uma longa rotina ao meu consciente. Ele há coisas que... (se quiseres não publiques este comentário, mas queria dizer-te que este princípio da tua crónica me é tão familiar que...). Já agora eu que até já escrevi crónicas no suplemento de economia do DA, nunca o leio... se não te der muita maçada, agradeço-te que me incluas nessa lista automática.

Ivar C disse...

elisa, percebo... percebo muito bem. Sei que a situação não é a mesma, mas este reflexo é comum em vidas pós-separação, independentemente do tipo de separação. Pelo menos é o que a minha parca experiência me diz. Já te incluí na lista. bjs. ;)

Fatyly disse...

Sabes que fizeste-me pensar muito na dualidade de tantos que estão no mesmo barco, navegando por actos e gestos ritmados, que pela certa afundar-se-ão. Após nunca procedi assim, mas compreendo quem o seja.

Partir para outra é dificil, mas há que primeiro deixar assentar a poeira,porque esse deambular é tal e qual a descrição que fazes da cidade.

"Que sim...diz ele" eu diria que "não", apesar de reconhecer que "Há sempre algo de infinitamente bom em tudo o que é mau."

Que mais te posso dizer?...que adorei:):):)

Beijocas

Ivar C disse...

obrigado, fatyly. :)