9.29.2007

conversa 394

Ela – Nem sequer faz sentido falar em esquerda e direita hoje em dia, percebes? O que interessa é ter bons gestores e uma economia saudável. O resto é mais do mesmo e o discurso é igual nos partidos de esquerda e de direita.
Eu – O resto é o quê? O modelo social?
Ela – Claro.
Eu – Começa por aí a diferença. Eu nunca chamaria resto ao modelo social que defendo. Até podia chamar resto ao administrador da Galp, mas não ao modelo social.
Ela - O modelo social que tu defendes ia transformar Portugal ia mais uma Albânia.
Eu – Olhe que não, olhe que não, olhe que não...
Ela – Sabes que em Cuba nem um restaurante privado se pode abrir? Achas que isso permite a um país justiça social? Que permite a realização pessoal de cada indivíduo?
Eu – Mas eu defendo a iniciativa privada tal como tu, percebes? Só que a iniciativa privada tem que ser apenas em alguns sectores e não em todos. Não posso concordar com a iniciativa privada em sectores no abastecimento de água, electricidade, na educação ou na saúde. Isso claro que não.
Ela – E quem é que paga depois isso?
Eu – Já ouviste falar em impostos?
Ela – Os impostos não chegam. Está mais que provado.
Eu – A mim ninguém me provou coisa nenhuma. Nem me importo de pagar mais impostos do que pago desde que esses sectores fundamentais daquilo a que tu chamas resto, e eu modelo social, sejam de acesso gratuito a todos.
Ela – Mas as coisas têm um custo, e tudo o que tem um custo tem que se pagar, pá.
Eu – Mas os impostos pagam isso. É o que te estou a dizer. Tem que ser assim. Ou tu concordas que um gajo, só por não ter dinheiro, deva ficar à porta dum hospital? Concordas com isso?
Ela – Concordo que esse gajo falhou na vida e devia ter feito mais por ele acima. A sociedade tem que ser assim: competitiva. Senão o país afunda-se e nós todos com ele.
Eu – Opá... nunca conseguiria dividir um apartamento contigo... a sério.
Ela – Nem eu contigo. Aí estamos de acordo.

16 comentários:

Nelson Peralta disse...

Credo! Nessa lógica eu ainda passava a dividir o apartamento ctg...

Ivar C disse...

lol, Nelson... eu até dividia o apartamento com esta Ela... mas era só por uma noite. Ela é que não quer... tem a ver com o meu investimento público num sector que é privado...

Fatyly disse...

Tem que ser mais competitiva até aí eu concordo, mas oxalá que essa "ela" nunca afunde nas suas afirmações tão drásticas.

Nelson Peralta disse...

A mais forte ideologia dos tempos que correm é precisamente a da ideia de que já não existem ideologias, de que esquerda e direita já não fazem sentido.

E quem o debita nem sabe que a não-ideologia é uma ideologia, o Fim da História de Fukuyama.

Anónimo disse...

Outra vez o anónimo...

Concordo PLENAMENTE com as tuas palavras!
Havia uma letra do Ségio Godinho que falava mais ou menos disso, se não estou enganado...dizia que a base de tudo é "...saúde, pão, educação..."

Os impostos deveriam servir para isso! E o curioso e revoltante é que aqueles que mais recebem e menos pagam de impostos, são, naturalmente os que têm acesso aos melhores médicos, aos melhores advogados, às melhores escolas...etc... E ainda por cima! São aqueles que mais se queixam e que mais põem a baixo...

A treta da competitividade, diga-se, a todo o custo, é revoltante (para não utilizar uma asneira)!

Precisamos de melhor formação e educação das pessoas para poderem compreender e aceitar e aderir a certos conceitos de simples justiça social!

Desculpem a extensão do comentário...mais uma quantidade inútil de palavras e lugares comuns...sorry!

Abraço Bagaço Amarelo

Ivar C disse...

fatyly, não lhe fazia mal nenhum... :)

nelson, o último homem, como o Fukuyama lhe chama, contempla o final da escala da evolução da nossa espécie. Curiosamente, os últimos gajos que tiveram uma ideia parecida, foram os nazis, quando adoptaram o super-homem do Nietzsche. A ideia é gira de ler, mas não tem fundamento científico suficiente e é baseada unicamente no empirismo do autor.. acho eu, sei lá.

outra vez anónimo, não peças desculpa. gosto de todos os comentários menos daqueles que não aprovo. Obrigado e abraço. :)

Chapas disse...

Tu gravas as conversas?
Ou tens memória fotográfica?

Ivar C disse...

chapas, essa é uma pergunta simplista a que eu, obviamente, não respondo.

AJ disse...

O meu voto vai para o EU.

Ivar C disse...

nome de écran, mas quando eu for eleito mudo de opinião, lol. :)

Artur Torrado disse...

Sempre houve quem pensasse assim (como Ela). Mas muita gente não o dizia por pensar ao mesmo tempo que "era uma coisa tão estúpida que até tinha vergonha". Mas é melhor que quem pensa assim o diga em vez de o esconder. A defesa da lei da selva é fácil quando na competição se parte com bastante avanço. E muitos disputam a sobrevivência em áreas para as quais não nasceram dotados. Hoje a única modalidade válida é a economia...

Artur Torrado disse...

Já agora: tens a certeza que a 'Ela' é uma mulher? É que o discurso dela é do típico 'macho pra burro'...

Ivar C disse...

lol, artur torrado, e chamar a isto pensar já é muito... :)

Anónimo disse...

mais um anónimo

o meu vot vai para o eu

quanto ao blog mtos parabéns

Anónimo disse...

de novo anónimo

Essa de aprovares ou não os comentários... ñ concordo, mas cm o blog é teu tu é k sabes

Ivar C disse...

anónimo, obrigado... mas tens razão, o blogue é meu, eu é que sei... se visses todos os comentários que cá vêm parar, percebias. :)