2.16.2007

conversa 87

Contam-se as coisas. Todas as coisas. O nome do café tem duas palavras com oito letras: Bom Gosto; a empregada dá vinte e dois passos do balcão até à nossa mesa, para nos perguntar o que queremos; queremos um café, três palavras com catorze letras; ela tem três nódoas, relativamente grandes, no avental com oito riscas verticais azuis; ao lado, uma criança já pediu um ovo de plástico três vezes ao pai.
Conta-se o tempo, até, mas não em horas nem em minutos. Nem sequer em segundos. O tempo conta-se como se conta o espaço: em área ardida, por exemplo. O meu tempo tem alguma área a ardida. Não é má, a área, mas ardeu. Eu nem seguro tinha.
Conta-se o que se quer e o que não se qu...............

Fecho o livrinho em que escrevo estas linhas. A ****** senta-se ao meu lado. Pede um café sem esperar que a empregada se aproxime da mesa.

Ela – Então? Já vi no teu blog que o índice ivariano está no máximo…
Eu (silêncio e sorriso)
Ela – Não pareces feliz, pensei que te ia ver mais sorridente.
Eu – Estou feliz, mas não tenho que andar aos pulos pela rua…
Ela – Eu conheço?
Eu – Conheces quem?
Ela – A miúda que te põe o índice no máximo…
Eu – Não… e não é uma miúda, pelo menos com esse tom de voz não quero que lhe chames miúda.
Ela – Não me queres dizer quem é?
Eu – Não…
Ela – Era sobre ela que estavas a escrever?
Eu – Não…
Ela – Mas já tens uma relação, é?
Eu – Não…
Ela – Mas vais ter?
Eu – Não sei…
Ela – Isso quer dizer que tu gostavas de ter, não é?
Eu – Talvez.
Ela – Mas estás mesmo decidido?
Eu – Para já estou indisponível… percebes?
Ela – Indisponível? Para quem?
Eu – Opá, para todas as mulheres do mundo.
Ela (ri-se) – Ena, parece sério…
Eu (sorrio) – Não tenho que te dar mais explicações, está bem? Até acho que não te portaste muito bem comigo… mas pronto, isso já não é grave.
Ela - Eu?
Eu – Sim…
Ela – Sabes… eu também ando à deriva. Não sei o que quero nem o que sinto. Às vezes é complicado saber o que queremos.
Eu – Pois, acredito… mas não é assim tão complicado despedirmo-nos das pessoas e explicar isso que acabaste agora de me explicar.
Ela (silêncio)
Eu – Importas-te que eu continue a escrever?
Ela – Vou já embora… (levanta-se)

Conta-se o que se quer e o que não se quer…. (não consegui escrever mais)

3 comentários:

Teresa disse...

há situações com que nos deparamos que não deveriam acontecer.
"cortou o teu barato"!
ando esquiva mas cá vou passando.
um abraço.:)

Anónimo disse...

se não compreendes as mulheres,das duas uma, ou sentes que a situação é confortável (rodeado de mulheres incompreensíveis)ou não te sentes à altura de conhecer Mulheres... é mais difícil. mas vale a pena. é preciso é coragem. o resultado é bem bom.

Ivar C disse...

teresa, obrigado por seres uma esquiva que vai passando... ;)