5.14.2015

bullying

Tenho uma revelação a fazer ao mundo: quando era criança fiz bullying com outros. Fui violento, física e verbalmente, com colegas meus da escola. Tenho ainda outra revelação a fazer: quando era criança fui vítima de bullying. Alguns colegas meus agrediram-me, física e verbalmente, sem que houvesse motivo para tal.
Estou a caminho dos quarenta e quatro anos e olho para a minha experiência como algo que contribuiu para a minha formação e o meu crescimento. Foi através, também dessa violência, que me tornei naquilo que sou. Entre outras coisas, um pacifista.
Não, não estou a dizer que devemos aceitar o bullying como se fosse uma coisa normal, deixando os putos agredirem-se mutuamente como se fossem animais numa jaula. Devemos, todos nós estar lá, presentes. Até porque, adivinhem, nós também fazemos parte da formação e do crescimento desses putos.
Da minha professora, de quem tenho saudades, levei uma chapada ou duas, mas não foi isso que me fez parar (bem, houve uma reguada que ajudou bastante). Foi a vida toda e o facto de ter crescido. Recuso-me a esta visão simplista e maniqueísta da violência dividir bons e maus. Isso é falso.
A revelação final que vos tenho a fazer, e que eu pensava que Darwin já tinha feito antes de mim, é que Adão e Eva nunca existiram. Nós vimos mesmo de um antepassado em que a agressão foi uma forma de organização social (hoje ainda é). Está escrito nos nossos genes, nos lóbulos frontais e temporais e também numa ou outra hormona.
A boa notícia é que se passa exactamente o mesmo com o Amor, que também é algo em que se evolui. Na verdade, se me lembro hoje de ter chorado e rido intensivamente muitas vezes, foi sempre por causa do Amor e não dos murros que dei ou levei. Esses foram apagados pelos abraços de quem me Amou e nunca me condenou a ser uma pessoa má.

9 comentários:

nos"entas!!!! ( e feliz) disse...

muito bom post!!!
Não me vou repetir pelos motivos que já conheces.
Também fui vitima na adolescência,sei como é difícil passar por isso!
Nunca o fiz a outros...
Não posso aceitar que... a dita normalidade fase do crescimento, onde nos defrontamos com a maldade alheia, seja confundida com VIOLÊNCIA GRATUITA!! E violência seja ela fisica, psicologica e verbal...
Sei do que falo por experiência propria e pelo que o meu mini tem passado!!
Sim, fui tratar do assunto!!!
SIm... estou em cima do acontecimento, até porque ele se recusava a ir para a escola, chorava e estava a desenvolver uma obstipação cronica aos 8 anos!!!
Sim... està a ser acompanhado, e a ser incentivado a defender-se, até porque, não poderei defende-lo a vida inteira....
Estou a trabalhar-lhe a auto-estima, a estimular-lhe a capacidade de defesa!
Mas, recuso-me a aceitar esta... NÂO EDUCAÇÂO!! NÂO VALORES!! NÂO NADA...
Beijinhos Bagaço!!!

Ivar C disse...

nos"entas!!!! ( e feliz), ainda bem que estás bem presente. tenho a certeza que um dia ele vai perceber tudo o que se passou e olhar para trás com a devida distância dos acontecimentos. No fim, agradecer-te-á. Boa sorte! :)

Maria dos Anjos disse...

Muito se tem falado nesta anormalidade... que para mim é normal. Todos os anos tenho turmas onde há uma ou duas bestas que fazem e falam comigo no tom destes meninos. Quando era mais nova gostava do jogo dos amansar. Mas agora que entrei nos enta...já me cansam.

Ivar C disse...

Maria dos Anjos, paciência... :)

EJSantos disse...

Que post estranho, o teu...

Quando eu era jovem, era fraco fisicamente, mas não fui vitima de agressões (prefiro usar esta palavra). Na altura era muito mais sociável do que sou hoje, mais simpático. Tinha uma boa rede de amigos e bom senso para não chatear ninguém.

Quanto a estes estranhos adolescentes, confesso que não vi o video. Nem estou para aí virado. Porra, com tanta coisa boa para fazer, porque resolveram comportar-se como oficiais SS de um campo de concentração? Podiam fazer desporto, estudar, pinar, etc. Mas não, "vamos trinar para verdugos!"
Provavelmente vão precisar de muito, mas mesmo muito tratamento psiquiátrico.

A Limonada da Vida disse...

Respeito muito a tua opinião, acredita, também levei uma chapada ou outra de uma colega parva que tive e reguadas de uma prof... A mim também não me afectou, mas não somos todos iguais, e acho que também depende do episódio que se passou com cada um. Se levas e dás é uma coisa, levar com 8 pessoas à volta que tens receio do que possam fazer é outra bem diferente. Aquilo que vi naquilo vídeo nunca passei felizmente, pois não sei se hoje seria a mesma pessoa que sou.

Ivar C disse...

ejsantos, eu não estava, de forma alguma, a retirar importância ao que aconteceu. Muito pelo contrário. Recuso-me é a fazer linchamentos públicos a adolescentes. :)

A Limonada da Vida, eu também respeito a tua opinião, tanto mais que concordo com ela. Não serias a mesma pessoa, assim como eu digo que não sou a mesma pessoa. Tudo contribuiu para a minha formação, porque tudo me formou. :)

redonda disse...

Muito bem escrito.
Gostei muito da nota positiva.
No entanto, para casos excepcionais parece-me também necessário medidas excepcionais para ajudar as vítimas e os agressores a deixarem de o ser.
um beijinho e uma boa semana

Ivar C disse...

redonda, beijinho. obrigado. :)