4.14.2015

respostas a perguntas inexistentes (301)

Existem os homens que sabem fazer declarações de Amor e existem os outros, os bêbados da meia-noite. Eu pertenço à segunda categoria, àqueles que nunca fizeram uma única declaração de Amor decente. São esses que a partir da meia-noite bebem um pouco mais, porque o álcool está para um homem incapaz de fazer declarações de Amor assim como um cão está para o Homem em geral: é o seu melhor amigo.
O mais bonito nos homens que não sabem fazer declarações é que nunca desistem de tentar. Passam a vida a esbarrar na incompreensão feminina, que ora reage com desprezo total, ora com um sorriso igual ao de quem parte em viagem, isto é, de quem vai embora porque está farto de ali estar.
As mulheres deviam ter mais atenção aos homens que bebem. Acredito que não há um único bêbado neste mundo que não o seja por causa delas. Delas e, claro, da sua incompetência natural para fazer declarações de Amor.
Lembro-me do dia em que percebi que não sabia fazer declarações de Amor. Foi num dia como o de hoje. A espuma da minha cerveja descia pelo vidro num lento suicídio em direcção ao fundo do copo e ela, que ainda só tinha dado dois goles, sugeriu-me que pedisse outra.

- És bonita! - disse eu.

Os olhos dela continuaram a olhar para o meu copo, como se estivessem a admirar uma obra de arte qualquer, indiferentes ao que eu acabara de dizer. Para meu espanto, o mundo continuava a funcionar à minha volta como se nada fosse. Menos mal. Os clientes continuavam a entrar e sair daquela esplanada e o empregado de mesa, demasiado calmo para o número de clientes que esperavam por ele, empilhava copos vazios numa bandeja que me parecia demasiado pequena para o efeito.

- Outra cerveja, por favor! - pedi-lhe assim que passou perto de mim.

É claro que ela ficou indiferente. A minha declaração não chegava a ser de Amor. Era apenas uma tremida constatação da sua beleza, pela qual ela nem sequer tinha responsabilidade nenhuma. Acabei a minha segunda cerveja no mesmo momento em que ela acabou a primeira. Vi-a levantar-se, pagar e afastar-se enquanto me dizia adeus com a mão esquerda. Aquela era uma despedida que me despedia a mim, definitivamente, de candidato a poder Amá-la.

- Paguei as três... - disse ela. Depois desapareceu.

Fiquei eu e o bar.

6 comentários:

Maria das Palavras disse...

Não me parece verosímil que alguém que fala tão bem de amor não saiba declarar-se...decidi mesmo que não acredito.

Ivar C disse...

maria das palavras, se as declarações de Amor fossem só pelo verbo... :)

Minnie disse...

"Paguei as três..."
Desculpe mas quando li comecei logo a visualizar uma miúda bonita benevolente com um ar terno e fraternal a dizer-lhe "Paguei as três". :DDD

Quando assim for comece sempre com "És Bonita!" e depois acrescente, "Mas o que eu mais gosto em ti é....."
E se não se lembrar de nenhuma outra qualidade invente, à mentiras perdoáveis.

Ivar C disse...

minnie, há verdades imperdoáveis, pelo menos... :)

nos"entas!!!! ( e feliz) disse...

somos assim tão complicadas?? ;)
é tão simples agradar-nos bagaço!!!
ehehhehe
beijinhos
mas eu acredito que há quem as saiba fazer :)

Ivar C disse...

os"entas!!!! ( e feliz), o complicado até posso ser eu... :)