Crónicas da cidade que sopra | Apneias e interrupções voluntárias
Amanhã, por ser quinta-feira, é dia da trigésima sétima crónica da cidade que sopra no Diário de Aveiro.
Uma apneia. Na sala de espera dum consultório médico, uma mulher vira lentamente as páginas duma revista envelhecida. Não as lê, vai vendo sem volição fotografias de pessoas que posam dissimuladas pelo que vestem. Repara que em todas as fotografias se sorri, ao contrário do que sente passar-se no apertado compartimento onde se encontra. Os seus olhos voam como uma borboleta pela sala, pululando em brandura de face em face. Não há sorrisos ali, e depois fixa-se numa mulher debruçada sobre as próprias pernas. Não lhe consegue ver a cara, mas é certo que ali também não se encontram esgares de alegria. Fixa-a, sustendo temporariamente a respiração, sustendo temporariamente o pensamento, sustendo temporariamente entre dois dedos uma página na vertical.
1 comentário:
Correcção: o gajo é artista.
Enviar um comentário